• Comerciantes temem que fechamento de comportas para obra no túnel extravasor aumente risco de inundações no Centro

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  • 05/02/2020 16:56

    Quem morava ou tinha um comércio no início da Rua do Imperador antes de década de 70 lembra dos frequentes transtornos com as enchentes provocadas pelas chuvas de verão. O rio que corta o Centro Histórico recebe a água da bacia do Morin e com frequência transbordava durante os temporais. Para evitar os alagamentos, as lojas neste trecho tinham comportas para tentar impedir que a água do rio invadisse os estabelecimentos.

    “Em um temporal que aconteceu em 66, a padaria da minha família ficou alagada. O nível da água subiu dois metros acima do rio. Essa situação era recorrente naquela época”, lembrou o empresário Rodolfo Chauffaille, de 63 anos. Ele era um dos proprietários da padaria Elite, localizada na Rua do Imperador, próximo ao Shopping Dom Pedro. A padaria fechou há cerca de 20 anos e hoje abriga uma loja de departamentos.

    Rodolfo ressalta que depois da construção do túnel extravasor, nunca mais houve enchentes nesse ponto da Rua do Imperador. “O extravasor foi uma obra importantíssima e que reduziu as enchentes  neste trecho. Do Obelisco para cá não enche mais”, cita. A estrutura tem mais de três mil metros de comprimento, seguindo da Rua Visconde de Souza Franco até a Pedro Elmer, no Itamarati, e foi construída para desviar a água do Rio Palatinato, que deixou de seguir pelo Centro, desembocando na bacia do Quissamã, no Rio Itamarati.

    A obra tem mais de 40 anos e nunca passou por reformas. Com o passar do tempo, a estrutura foi ficando comprometida e no início do ano, após um forte temporal, crateras se abriram ao longo da Rua Francisco Scali, no Quissamã, que foi construída por cima do extravasor. Duas casas foram interditadas e correm risco de desabar por conta dos buracos. A rua também está interditada pela Defesa Civil (DC) para o tráfego de veículos pesados. 

    Depois da abertura das crateras, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) fez vistorias e constatou problemas na estrutura do túnel. As décadas sem manutenção fizeram com que o concreto existente no fundo do extravasor desaparecesse. Sem a base concretada, toda a água do rio está infiltrando na terra e causando as erosões.

    As obras emergenciais do Inea começaram há cerca de 10 dias. Os buracos foram cobertos com pó de pedra e concreto, o que não surtiu resultados e as crateras continuam abrindo a cada ocorrência de temporal. Na semana passada, o instituto decidiu pelo fechamento da entrada do túnel instalando comportas. A intenção é que com o extravasor seco seja possível a concretagem do fundo da estrutura.

    A intervenção emergencial do Inea chamou a atenção e é motivo também de preocupação de comerciantes e especialistas. “Com toda a água do rio sendo desviada para a Rua do Imperador, os riscos de alagamentos neste trecho aumentam. O comércio pode sofrer com as enchentes, assim como os lojistas do final do Centro enfrentam ultimamente”, comentou Rodolfo Chauffaille.

    Para o engenheiro Luís Carlos Dias de Oliveira, a operação do Inea é arriscada e se as intervenções estão acontecendo no período chuvoso, é motivo de preocupação. “Se estão fazendo uma ensecadeira [termo técnico] nesta época é porque a coisa deve estar bem ruim em alguns trechos do extravasor. Provavelmente detectaram problemas graves nas inspeções”, comentou o engenheiro.

    Ele ressalta que anos sem manutenção podem ter levado à situação atual e pede mais transparência nas ações do Inea. “Essas intervenções têm que ficar mais transparentes, pois não dá para ficar escondendo da população a real situação, principalmente dos lojistas do Centro, que podem ser prejudicados em caso de enchente”, disse Luís. 

    A gerente de um bar na Rua do Imperador, perto do Terminal Rodoviário, Claudia Laranja, de 54 anos, considera que o fechamento do túnel e o desvio da água para o rio que corta o Centro também é motivo de preocupação. “Já enfrentamos problemas com enchentes devido aos bueiros entupidos, com o rio mais cheio o problema será em dobro agora”, disse. 

    O gerente de uma loja de rações na Caldas Viana, Édipo Alves da Silva, de 32 anos, também acredita que possam ocorrer mais alagamentos com a obra. “Estamos aqui há pouco mais de um ano e já enfrentamos duas enchentes. Isso já acontece com o nível baixo do rio, imagina com ele cheio?”, questionou.

    Nessa quarta-feira, logo após concluir o isolamento da entrada do túnel extravasor, o Inea voltou a abrir as comportadas, deixando apenas a central fechada, em virtude da forte chuva que atingiu o Centro e o Bingen. As comportas são feitas de placas de metal e contam com sacos de areia para reforçar o fechamento da estrutura. Uma máquina que vai drenar a água e desviar o rio que corta a Rua do Imperador também já foi instalada. Em nota, o Inea já havia informado que, em dias de chuva forte, a estrutura será retirada. O instituto não informou quando as intervenções serão concluídas.

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