• Fernando Marques, ilustrador petropolitano, celebra 50 anos de quadrinhos com lançamento de livro de memórias

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  • Por Aghata Paredes

    O ilustrador petropolitano Fernando Marques comemora 50 anos dedicados à arte dos quadrinhos em 2024. Para marcar essa data especial, ele lança, nesta semana, um livro de memórias gratuito, que oferece um panorama de sua carreira desde os primeiros rabiscos até importantes realizações, como ser chamado de ‘Mauricio de Sousa da Serra’ pelo público.

    O suplemento Tribuninha, ilustrado por ele, foi um marco no jornal Tribuna de Petrópolis, tendo estreado no ano de 1990. Publicado aos domingos até 2020, quando a versão impressa foi substituída pelo formato digital, o suplemento chegou a se tornar o segundo mais lido, atrás apenas dos classificados. Desde o seu surgimento, o caderno conquistou e formou uma legião de pequenos leitores, marcando diferentes gerações na cidade.

    Em entrevista à Tribuna de Petrópolis, Fernando Marques compartilhou lembranças sobre a carreira e o lançamento do livro, que é uma homenagem, sobretudo, àqueles que acompanham e admiram o seu trabalho.

    Aghata Paredes: Fernando, você está comemorando 50 anos de carreira em quadrinhos este ano. O que passa pela sua cabeça ao olhar para trás?

    Fernando Marques: Me vejo como o garotinho, com 7 ou 8 anos, sentado na caixa de ferramentas do meu pai, usando a cama como mesa, fazendo seus rabiscos, imaginando se um dia iria ter suas próprias revistinhas, como tinha ‘O Pato Donald’ ou a ‘Mônica’. Vejo todo o aprendizado, as pessoas que me ajudaram (ou não) e outros artistas que conheci. Vejo todo o trabalho realizado… Pode parecer pouco, mas valeu a pena!

    Foto: Arquivo Pessoal

    AP: O que há do Fernando nos personagens que ele criou?

    FM: Essa é uma boa pergunta, porque vejo como uma via de mão dupla. É claro que coloco alguma coisa de mim nos personagens, mas depois que aprendi a criar uma personalidade para eles, vi que cada personalidade criada ajudou a moldar a minha própria. O Betão, por exemplo, foi criado no antigo CENIP, numa turma de aula, inspirado em mim. Mas, na verdade, não tem nada de Fernando nele. O cara é como um líder, tem resposta pra tudo e mete a cara em qualquer problema que apareça. Eu faço mais o gênero tímido, que prefere ficar calado e observando. Mas, com o tempo, aprendi a usar um pouco da personalidade dele e bater de frente com algumas pessoas. Enfrentar as adversidades frente a frente. É muito louco porque, às vezes, estou na rua e percebo que estou fazendo algum gesto característico de algum personagem, ou que, numa situação, viro para o lado, como um personagem a olhar para o leitor quando está numa determinada situação… É realmente uma coisa curiosa!

    Foto: Arquivo Pessoal/2010

    AP: No prefácio do seu livro, você menciona que começou a desenhar como passatempo, mas que isso acabou se tornando uma profissão. Qual foi o momento decisivo para essa transição? Onde e de que forma entra a Tribuna de Petrópolis na sua história?

    FM: Poderia dizer que foi em 1988, quando comecei a publicar tiras diárias no Jornal de Petrópolis, ou até mesmo quando a Tribuninha começou em 1990, mas não foi, porque nesse período eu estava trabalhando em rádio ou em algum outro lugar, e o desenho sempre ficou em segundo plano. Senti a arte como profissão mesmo no período da pandemia da Covid-19, quando parei com os trabalhos em rádio e começaram a aparecer trabalhos com ilustrações. Foram vários seguidos, então, aí sim, o desenho tomou a frente. A Tribuna de Petrópolis, com o suplemento Tribuninha, veio para realizar o sonho daquele garotinho em ter sua própria revistinha, pois a partir do momento que a Tribuninha surgiu, tive que começar a criar historinhas, passatempos e outras ilustrações para encher suas 4 e depois 8 páginas. Todo domingo o jornalzinho tinha que estar nas bancas, então foi um período de muita criação. E foi muito empolgante ver como as crianças abraçaram a ideia e participavam do suplemento. Aquilo sim era o nosso combustível para continuar, sempre.

    AP: Como foi para você conciliar a carreira de ilustrador com a de radialista? Como essas duas áreas se complementam na sua vida?

    FM: Essa é outra boa pergunta. Hoje em dia, não consigo imaginar como consegui equilibrar o trabalho em rádio, a vida familiar, o sono e ainda produzir o suplemento semanalmente. Parecia que eu não tinha vida, mas tinha! E, mesmo assim, conseguia manter algumas edições prontas com antecedência para lidar com imprevistos. No entanto, nunca enxerguei isso como um fardo, pois sempre amei o que faço. Tanto o desenho quanto a música entraram cedo na minha vida. Nos anos 60 e 70, eu ouvia muitas das músicas que minhas irmãs gostavam. Aquelas músicas se tornaram memórias, e, quando comecei a trabalhar em rádio em 1982, esse conhecimento prévio foi valioso. A música me levou para o rádio, e hoje continuo a trabalhar com as duas coisas que amo. Sou muito grato por isso!

    Foto: Divulgação/Tribuna FM

    AP: Você também mencionou que escrever o livro de memórias foi uma experiência incrível, especialmente pela forma como a memória resgata situações, nomes etc. Qual foi a lembrança mais marcante que você reviveu durante esse processo de escrita? Ou as lembranças, porque devem ser inúmeras…

    FM: Realmente, não há uma situação específica. Encontrar o Maurício de Souza nos anos 70, depois o Ziraldo nos anos 90, ver o bloco da gatinha Tatá saindo das impressoras da Pedro II Indústria de Papéis, receber trabalhos das gráficas, lembrar de cada criação… Todos esses momentos foram especiais e sou imensamente grato às pessoas que possibilitaram essas experiências. São memórias que não têm preço!

    Foto: Arquivo Pessoal

    AP: Como foi que você ganhou o apelido de “Maurício de Souza da Serra”? Onde, quando, por quem? Como você se sente em relação a essa comparação? [risos]

    FM: Acho que foram vários os momentos em que me chamaram assim. A Clara Gomes [Bichinhos de Jardim] me chamou assim em uma entrevista. Um locutor e dublador de São Paulo, que é fã de quadrinhos, começou a me chamar nas passagens de horário de uma rádio onde trabalhamos, quando soube que eu desenhava. Outra pessoa também me chamou dessa forma. Comparando, acho que sou para Petrópolis o que o Maurício é para o Brasil. Ele conta com uma equipe de artistas em seu estúdio para produzir seus trabalhos. Eu, por outro lado, tive que coletar diversos artistas da cidade (e até alguns de fora) para ajudar a encher as páginas da Tribuninha. Alguns desses desenham até hoje. Outros, quando viram que o desenho não ia dar fama ou a grana que esperaram, desistiram. 

    Leia também: Ilustradora petropolitana, cuja carreira teve início nas páginas da Tribuninha, lança livro “Bichinhos de Jardim”

    AP: O que você espera que os leitores, especialmente aqueles que te acompanham durante todos esses anos, mas também aqueles que se inspiram em você de alguma forma, que estão começando agora a carreira como ilustradores, tirem do seu livro de memórias?

    FM: Esse livro não é só para contar as coisas que fiz, serve para mostrar que a gente tem que dar duro e buscar evolução quando quer alcançar alguma coisa. Na época que comecei e até boa parte dos anos 90, não tínhamos internet. Então, se você quisesse ter algum material de seu autor preferido para buscar inspiração, tinha que comprar, e Petrópolis nunca foi um lugar muito bom para buscar esse material. O melhor era ir ao Rio ou a São Paulo. Aqui também não tinha nenhum artista que você pudesse buscar mais alguma coisa para ter experiência. Hoje, basta procurar no Google e você encontra um acervo incrível dos mais diversos artistas. Está mais fácil aprender. Fora isso, no YouTube, existe uma série de tutoriais mostrando as mais diversas dicas para quem quer aprender a desenhar ou relembrar algum detalhe esquecido. O livro serve para mostrar o amor que a gente deve ter para com o que está fazendo, isso é um tempero e tanto para que o trabalho fique bom. Serve para mostrar respeito para com os leitores e procurar dar a eles aquilo que eles querem, com uma pitada de ousadia para mostrar que pode ter algo a mais… No mais, espero que os leitores percebam a gratidão que tenho por todos, por todo o trabalho produzido nesses 50 anos. Não foram histórias criadas só para que os personagens vivessem aquela situação, mas também foram histórias criadas para divertir, ensinar, aconselhar…

    Foto: Arquivo Pessoal

    AP: Quais conselhos você daria para os jovens que estão começando agora no mundo dos quadrinhos e das ilustrações?

    FM: A gente não começa a desenhar bem da noite para o dia; é preciso ter muita paciência para praticar e buscar evolução, sempre. Se o seu desenho não ficou bom, busque fazer outro melhor. A gente não nasce sabendo andar de bicicleta; só aprende depois de alguns tombos. Com desenho, você não cai, mas pode ficar triste ao ver que suas mãos não conseguem fazer aquilo que sua mente cria. Mas isso vem com o tempo. E depois, quando você achar que fez um desenho bacana, deixe para vê-lo no dia seguinte. Você ainda vai descobrir alguns defeitos onde pode melhorar. É isso. Para evoluir, é preciso prática e paciência!

    Foto: Arquivo Pessoal

    Ilustrador petropolitano estará na I FLICT de Teresópolis

    No próximo mês, Fernando Marques estará presente na I FLICT Pro Arte, a Feira do Livro Infanto-juvenil e da Cultura de Teresópolis, que ocorrerá de 11 a 14 de setembro. O evento, realizado em parceria com o Instituto AMA Leitura, contará com a participação do ilustrador petropolitano no dia 12 de setembro. Na ocasião, ele se juntará ao autor e também petropolitano Delmo Ferreira, atual presidente da Academia Teresopolitana de Letras, para lançar as cinco revistas em quadrinhos Histórias do Vovô João, que exploram lendas e mitos sobre orixás africanos.

    A FLICT 2024, que este ano homenageia o escritor Ziraldo, terá como tema central a inclusão e leitura para todos. A programação inclui mesas literárias, encontros com autores, rodas de conversa, lançamentos de livros, contações de histórias, apresentações teatrais, performances de ilustradores, palestras para educadores, exposições de projetos literários, estandes de venda de livros e visitação escolar.

    Foto: Divulgação

    Para acompanhar mais do trabalho de Fernando Marques, acesse seus perfis nas redes sociais: Fernando Marques Desenhos e Quadrinhos Petropolitanos (Facebook) e Fernando Marques Desenhos (Instagram).

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