• Ilustradora petropolitana, cuja carreira teve início nas páginas da Tribuninha, lança livro “Bichinhos de Jardim” neste domingo no Flipetrópolis

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  • Por Aghata Paredes

    A ilustradora petropolitana Clara Gomes, cuja carreira teve início nas páginas da Tribuninha, suplemento infantil da Tribuna de Petrópolis, está se preparando para o lançamento de seu livro “Bichinhos de Jardim”.

    O evento acontece neste domingo, 5 de maio, às 13h, durante o 1º Festival Internacional Literário de Petrópolis (Flipetrópolis), e reúne cerca de 350 tirinhas, dentre as mais de 4 mil já publicadas no Jornal O Globo.

    Durante uma entrevista exclusiva à Tribuna de Petrópolis, Clara compartilhou não apenas lembranças do início de sua carreira, mas também um pouco do seu processo de criação, alegrias e desafios, além de sua relação especial com a cidade onde nasceu.

    “Comecei no desenho como forma de expressão na infância, como acontece com a maioria das crianças”, relembra Clara. “Mas, para além da diversão, sempre me interessei pelo processo que envolvia a transformação do desenho em materiais impressos, a parte de produção gráfica mesmo, de livros, revistas e jornais.” Clara lembra com carinho da época em que atuava como colaboradora na Tribuninha, aos 14 anos, a convite do editor na época, Fernando Marques. “A Tribuninha foi uma escola inicial e, posteriormente, cursei Design Gráfico e Arte-Educação.”

    Não demorou muito para que ‘‘Os Bichinhos de Jardim” se tornassem uma marca registrada de seu trabalho, proporcionando alegria às crianças e aos adultos por meio das páginas da Tribuninha. Clara relembra como esses personagens, inicialmente concebidos para divertir os pequenos leitores, conquistaram popularidade graças ao crescimento da internet e à disseminação dos blogs pessoais por volta de 2006. “O alcance das histórias cresceu com apoio dos influenciadores da época – os blogueiros iniciais – e as métricas de visualização do site e comentários me fizeram, enfim, perceber que os ‘Bichinhos’ poderiam agradar a um público muito diverso”, compartilha.

    Questionada sobre o processo de concepção do livro, a petropolitana destaca o duplo sentimento de realização pessoal e profissional. “Me diverti à beça relendo o material e selecionando os temas – trabalho, redes sociais, vida digital, entre outros. Depois veio a parte de produção: o mercado de publicação de livros no Brasil, especialmente de quadrinhos, já é um desafio por si só. Sem editora, batalhei pelo financiamento para produção independente: fãs, amigos e família embarcaram nessa jornada. Foi uma campanha intensa e o resultado é a edição de uma publicação deliciosa, lindamente impressa pela CorPrint, gráfica de São Paulo. Agradeço demais a todos que trabalharam comigo nesse processo, onde descobri que uma publicação independente é, também, uma realização coletiva”, conta.

    Questionada sobre a influência de sua cidade natal em seu processo criativo, Clara revela que Petrópolis é a fonte de inspiração para toda sua obra. “Quando a gente mora cercado de verde, a presença de insetos e bichinhos é muito marcante”, compartilha ela. “Sempre achei instigante observar esse mundo ‘microscópico’ que nos rodeia, é uma forma de descansar o olhar dos problemas maiores e encontrar sentido em um novo universo.” Além disso, a ilustradora petropolitana se nutre de conversas com amigos e familiares para dar vida às suas tirinhas. “A inspiração pode surgir em vários momentos, seja durante uma leitura, em momentos de entretenimento ou conversas cotidianas”, explica. “A chave está em estar sempre atenta e observadora. Gosto muito de dialogar e compreender a vida das pessoas a partir de diferentes perspectivas. Isso enriquece meu repertório e me proporciona uma fonte constante de novos assuntos.”

    Desafios e recompensas de ser ilustradora no Brasil

    Ao refletir sobre os desafios e as recompensas de ser ilustradora no Brasil, Clara pondera sobre o papel atual da ilustração e das tiras de jornal. “Foi encolhendo [o espaço], acompanhando a evolução natural das mídias impressas, cada vez mais enxutas e objetivas. Hoje em dia faço oficinas de desenho em escolas e as crianças não sabem mais o que é um jornal, é como se eu apresentasse um gramofone, ou algo assim. Apesar de sentir uma certa nostalgia, procuro encarar os movimentos digitais com interesse e entusiasmo. Temos mais acesso à arte através da internet, os aplicativos e softwares trazem cada vez ferramentas mais sofisticadas para desenho, ganhamos possibilidade de expandir nosso público e podemos interagir com quem nos lê – essa é a parte boa. O desafio é nos mantermos relevantes e interessantes num grande universo de conteúdos e conseguirmos remuneração adequada pelo trabalho”, conclui.

    Foto: Divulgação

    O que vem por aí

    Além do lançamento do “Bichinhos de Jardim” neste domingo, no Flipetrópolis, Clara Gomes conta que deseja criar outras coletâneas com temáticas variadas. No entanto, o projeto mais ambicioso no qual a petropolitana está envolvida é o desenvolvimento de um desenho animado para os “Bichinhos de Jardim”, em parceria com um estúdio de animação já financiado, e destaca, especialmente àqueles que desejam seguir uma carreira como ilustrador, que é necessário encontrar a própria voz.

    “Desligue as redes sociais quando estiver na busca de seu estilo de desenho. Inspiração e referências fazem parte da pesquisa, mas até certo ponto: em algum momento é importante não se comparar, encontrar sua voz no meio de todo esse ruído. Leia, observe o mundo, enriqueça seu repertório com vida e preocupe-se menos com as ferramentas (softwares, aplicativos, tablets). A arte começa no rabisco, mão e papel. Depois que encontrar o caminho da sua arte, busque grupos de pessoas que gostem dos mesmos estilos que você e procure se informar sobre a parte profissional – legislação, preços, feiras, mercado editorial. E, no meio disso tudo, divirta-se!”, finaliza.

    Sobre o Flipetrópolis

    O 1º Festival Literário Internacional de Petrópolis recebe diversos escritores locais, nacionais e internacionais, movimentando diferentes cenas da produção literária, além de fomentar a educação, o acesso à arte – em suas mais variadas formas – e a inclusão. O evento, que começou nessa quarta-feira (1º), segue até domingo (05), com entrada gratuita e uma vasta programação para todas as idades. Para conferir a programação completa acesse o site oficial do evento.

    Leia também: Andréa Pachá, escritora petropolitana e desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, e Jeferson Tenório falam sobre justiça e liberdade no Flipetrópolis

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