• Epicentro da tragédia, bairro Independência tenta se reerguer

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  • 25/mar 16:50
    Por Wellington Daniel

    Moradores da região do Independência tentam recomeçar após as fortes chuvas que atingiram a localidade na última sexta-feira (22) e deixou quatro mortos no bairro. O número de desabrigados e desalojados nesta tragédia chegou a 274 pessoas, considerando apenas os abrigados no ponto de apoio oficial do município, na Escola Municipal Alto Independência. A chuva ultrapassou os 330mm em 96 horas, o que supera o esperado para o mês de março, que é de 250mm.

    A região tem aproximadamente 10 mil habitantes, segundo o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas e tem contado mortes nas recorrentes tragédias que atingem Petrópolis. Em 1981, por exemplo, foi destaque nacional com a foto do Jornal do Brasil em que Jamil Luminato ajudou a salvar uma criança dos escombros de um deslizamento. Já em 2013, o herói perdeu a filha e dois netos em uma nova tragédia no bairro.

    No domingo (24), a equipe da Tribuna de Petrópolis percorreu algumas localidades atingidas pela chuva na região. Na rua São Jerônimo, encontrou o auxiliar de serviços gerais, José Carlos Abreu, de 55 anos. Do lado da casa dele, houve um deslizamento que atingiu os fundos de uma residência. Na rua de cima, a Antônio da Silva Ligeiro, uma encosta também desceu.

    “A gente nunca está seguro. A gente espera em Deus e entrega na mão dele”, relatou o morador.

    Casa interditada na Rua São Jerônimo teve registro de deslizamento nos fundos.
    Foto: Wellington Daniel/Tribuna de Petrópolis

    O marceneiro José de Oliveira, de 70 anos, limpou, pela segunda vez, seu local de trabalho, que teve a porta atingida por uma barreira. No dia da chuva, o marceneiro estava trabalhando e levou um susto com o barulho. “Mas todo ano é isso, já estou acostumado. Aqui, já entrou duas vezes. Na garagem também”, contou.

    Vizinhos das vítimas fatais

    Foi no acesso à localidade, conhecida como Maria de Lima, que a situação foi mais grave. Lá, quatro pessoas da mesma família morreram. A pequena Ayla, de apenas quatro anos, foi encontrada com vida sob os escombros após cerca de 16 horas soterrada. As casas do entorno foram interditadas preventivamente, pelos riscos de novos deslizamentos.

    Casa onde morreu a família de Ayla, de 4 anos, fica no fim de uma ladeira íngreme, no acesso a localidade da Maria de Lima.
    Foto: Wellington Daniel/Tribuna de Petrópolis

    A casa de três andares veio abaixo. Ficava no alto de uma ladeira íngreme, no entroncamento entre a Rua Cacilda Becker e a Leonor Maia. No domingo, moradores visitaram os imóveis na tentativa de retirar algumas coisas e ir para um local seguro. Nesta segunda (25), máquinas faziam a limpeza, com a retirada dos destroços.

    As vítimas foram sepultadas no domingo (24), sob forte comoção. Houve também uma mobilização no bairro, para o último adeus aos vizinhos.

    A cuidadora Michele de Oliveira, de 43 anos, conta que a casa ainda está de pé, mas, com o ocorrido, precisou sair e está na casa de parentes. “Nós saímos com a roupa do corpo. Graças a Deus, deu tempo para sair”, afirmou. Agora, ela espera os próximos passos em relação à interdição do imóvel.

    O construtor Fábio Santos, de 51 anos, estava com mais 17 pessoas em uma pequena igreja próxima a pracinha do bairro. Triste com a perda dos vizinhos, Santos afirma que preferiu o abrigo da comunidade de fé, devido ao número de pessoas que estavam na escola.

    “A expectativa é que a gente consiga ter nossa calmaria novamente, em relação ao nosso próprio lar”, afirmou.

    Ponto de apoio

    Para garantir a continuidade das aulas, a Prefeitura tenta realocar as famílias em um imóvel no Caxambu. No último boletim, divulgado até a atualização desta reportagem, o número já tinha diminuído, com cerca de 95 acolhidos na E.M Alto Independência. Já o Abrigo Santa Isabel, recebeu 93 pessoas.

    Em coletiva de imprensa no sábado (23), o prefeito Rubens Bomtempo também citou as dificuldades encontradas no ponto de apoio do Independência em relação ao abastecimento, já que a localidade ficou sem luz. De acordo com ele, uma ação conjunta da Enel com a Comdep possibilitou a retomada do serviço e um gerador também foi utilizado.

    “Rapidamente, conseguimos fazer esse abastecimento”, disse.

    O Ciep Santos Dumont, administrado pela Secretaria Estadual de Educação (Seeduc) fica logo no início do bairro. Nesta segunda (25), equipes prepararam de lá quentinhas, que foram doadas a moradores abrigados em igrejas da cidade.

    Leia também: Entenda como a chuva provoca deslizamentos e desmoronamentos

    Na Rua Antônio da Silva Ligeiro, deslizamento ameaça outras casas.
    Foto: Wellington Daniel/Tribuna de Petrópolis

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