Mona Modas: sinal de charme e formosura
Ainda que julgados como lados opostos, a oferta da loja se revelava ímã de jovens e senhoras que, atraídas pela figura simpática e empática da dona Mona, despertavam magnetismo. E se para criar energia, precisa haver sinergia, é seguro dizer que foi com e pela freguesia que a Mona Modas escreveu poesia.
E o que são poesias senão associações harmoniosas? Pois eram elas, combinações formosas e graciosas, que asseguravam o sucesso das vendas na Mona Modas. De acordo com a psicóloga Dalka Diniz Hamam, então universitária, era à loja que se recorria na busca por novidades e lançamentos. Daí a decisão de lá gastar seu primeiro salário.
“Além de ser perto de onde eu morava quando fazia faculdade, minha tia já comprava na Mona Modas, então eu conhecia a loja. Volta e meia eu comprava lá e lembro que foi o local em que entrei para gastar meu dinheiro pela primeira vez, aos 22 anos. O atendimento era ótimo, o pessoal muito educado”.
Associada à responsabilidade do atendimento estava a qualidade das mercadorias oferecidas. É o caso dos lençóis e toalhas do enxoval de casamento adquiridos pela aposentada Sandra Regina Gimenes Bulgarelli que, com mais de 40 anos de uso, continuam a fazer parte de sua rotina.
“Levei quatro anos para casar, então ao longo desse tempo fui comprando aos poucos. Fazia crediário e, quando terminava de pagar, fazia outro. Lembro muito da dona Mona, sempre na loja, arrumada, maquiada, solícita e simpática com os clientes. E as funcionárias também: atendiam bem e faziam questão de mostrar o que havia de melhor”.
Fachada da antiga Mona Modas, nos dias de hoje. Foto: Bruno Avellar.
O magnetismo do comércio
Como se não bastasse a garantia do que havia de mais atual no mercado, o estabelecimento se sobressaía pela oferta de dois por um: junto das aquisições, o cliente construía relações. A aposentada Valdeia Senra de Souza, a Deia, de 66 anos, explica que o mesmo acontecia com quem vivia do outro lado do balcão.
“Trabalhei por 18 anos com a dona Mona. Eu era novinha quando entrei. Tinha uns 16, 17 anos. Gostei de lá e fiquei. Fui muito feliz. Comecei como balconista, aí pelo meu desempenho, me colocaram como gerente. Foi ótimo porque me deram valor. Dali para frente as portas se abriram”.
Se para aqueles que por ela passaram, a loja se mostrou um marco; que dirá para aquela que deu nome a ela. A senhora Mona Hanna Magamez, a dona Mona, relembra o 1º ímã que, mais tarde, acarretaria no magnetismo do negócio: o início de seu relacionamento com o marido, Edgar, que já ultrapassa os 50 anos na vida e nos negócios.
“Meu marido morava aqui e foi ver a tia, que era freira no colégio onde eu estudava, no Líbano. Casamos e viemos para cá porque ele já trabalhava com o irmão dele na ‘Nossa Casa’, que também era de roupa. Em um mês namoramos, noivamos e nos casamos. A Mona era moderna, iluminada, grande. Eu ficava o dia inteiro lá”.
Das jovens às senhoras, pouco a pouco, o comprar com a dona Mona se tornava costume. Como ela mesma explica, conhecida e tradicional, a loja fazia sucesso entre mães e filhas e, assim, o hábito de nela fazer as compras ia crescendo. À frente, mais tarde, da Mona Presentes – ainda em atividade, ela aponta a herança que o nome Mona carrega.
“Quando abri a Mona Presentes, mudei para uma coisa diferente, artigos de decoração, cozinha, cristais, porcelanas – e, junto do meu marido, abrimos a casa de festas Maison Magamez. E acabou que quem comprava na Mona Modas comprava na Mona Presentes também. Quando olhava o nome já sabia que era eu. Me reconhecia”.
Parcerias X Baterias
Ambiente de energia, era graças à sinergia da equipe que a Mona Modas fazia poesia. Encorajador, foi junto ao time que a auxiliar de escritório Dilda Moreira Bittencourt, de 61 anos, teve sua primeira experiência profissional. Dilda conta que, ainda que a dinâmica fosse nova, o time já era conhecido e querido por ela, então cliente de dona Mona.
Casamento de Dona Mona e Edgar. Foto: Arquivo Pessoal.
“A primeira vez em que entrei na Mona Modas foi para comprar roupas infantis para as minhas irmãs. As roupas de lá eram bem transadas. Depois disso me tornei cliente e, mais tarde, funcionária. Ela estava precisando de uma pessoa, conversamos no caixa e comecei. Já estou há 33 anos com eles. Hoje trabalho com o senhor Edgar”.
Onde o magnetismo se pautava pelo nível de companheirismo, é seguro dizer que as parcerias se mostravam como baterias. Para a agente comunitária de saúde Sueli Meira Vieira, principalmente no que diz respeito à recarga de seu polo positivo, foram elas as grandes simpatizantes e estimulantes.
“Trabalhei por 38 anos com eles. Comecei aos 16 com o senhor Edgar na loja Nossa Casa, em que ele era sócio com o irmão. Depois, quando ele resolveu abrir a Mona Modas, o acompanhei. O ajudei no término das obras, na limpeza, na confecção das cortinas para a loja, na compra de tecido para os uniformes dos funcionários.”
Do posto de, praticamente, aprendiz, Sueli conta que se tornou vendedora, sem deixar de se esforçar para ajudar e fazer de tudo um pouco: operava o caixa, pintava paredes, lavava o banheiro, fazia uma pontinha como vitrinista, ajudava na criação dos filhos da dona Mona. E, com isso, foi questão de tempo até que atingisse o cargo de gerência.
“No tempo em que trabalhei lá passaram pela loja 269 funcionários. E eu tinha liberdade lá dentro. Eles viajavam muito e eu tomava conta tanto dela, quanto do apartamento deles, das empregadas, das compras, de tudo. Cito a Mona Modas quase todo dia na minha vida porque foi uma vida inteira ali. Ali ganhei e criei meus filhos, me aposentei. Fui muito feliz”.
Onde parcerias funcionaram como baterias e a energia era sinal de sinergia, era no ineditismo do magnetismo que estava o charme da Mona Modas.
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