• São Paulo pode ter ‘chuva negra’ neste fim de semana

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  • 19/09/2020 12:14

    Com possibilidade de acontecer até domingo, 20, em São Paulo, o fenômeno da “chuva negra” resulta da chegada da fumaça das queimadas do Pantanal que se junta à alta carga de poluição atmosférica produzida na cidade. Segundo pesquisadores, embora o acúmulo de material particulado no ar aumente riscos para saúde e possa provocar problemas respiratórios, a chuva, em si, tem maior potencial de poluir rios e mananciais – sem grandes impactos para pessoas, casas ou veículos.

    Os incêndios lançam à atmosfera fuligem e material particulado, que são partículas muito finas de sólidos ou líquidos que ficam suspensas no ar, além de gases como monóxido (CO) e dióxido de carbono (CO2). As correntes aéreas, no entanto, arrastam a fumaça desde os focos da queimada, hoje principalmente no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, até outras regiões.

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    Partículas mais pesadas sedimentam no caminho, mas boa parte da poluição é transportada por centenas de quilômetros. Em região de influência de deslocamentos de correntes de ar, São Paulo acaba recebendo parte dessa carga poluente, que pode bifurcar e chegar a Estados da Região Sul ou à Argentina.

    Presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), Carlos Bocuhy explica que, na capital paulista, o produto dos incêndios encontra a atmosfera já carregada de impurezas. “É um ‘plus’ de poluição chegando e se agregando no momento em que a umidade está muito baixa”, afirma. Segundo Bocuhy, o cenário de poluição extra deve ser considerado preocupante. “A literatura científica identifica a fuligem como de periculosidade para a saúde e que afeta principalmente idosos, crianças e pessoas com menos recursos financeiros.”

    “Quando o material particulado entra pelas narinas, os alvéolos não conseguem filtrar, de tão pequenos que são, então vai direito para a corrente sanguínea”, descreve o presidente do Proam. “Há estudos que o associam a problemas no sistema respiratório e também acaba sendo um elemento carcinogênico, ou seja que potencializa o desenvolvimento de câncer.”

    É o excesso de poluentes no ar que “escurece” a chuva, diz o pesquisador: “A ‘chuva negra’ não é prejudicial, ela limpa a cidade: tira da atmosfera e lança na água”. O problema, diz Bocuhy, é que a chamada poluição difusa – detritos acumulados que a água retira do ar ou das superfícies, como asfalto, veículos e construção – vai parar nos rios. “Ela é carregada para o solo, escorre superficialmente e acaba nos mananciais.”

    Participante de pesquisa que monitora a presença de poluentes a atmosfera, Eduardo Landulfo, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen-Cnen), explica que a “chuva negra” pode se formar por duas situações. A primeira é quando a carga se encontra com uma nuvem de chuva, os materiais se agregam e há precipitação. Já a segunda acontece quando a “pluma de fumaça” se forma abaixo da nuvem. “Se chover, a água capta essa sujeira e aí transforma na ‘chuva negra’.”

    Segundo afirma, os principais impactos da chuva são relativos à poluição difusa, mas sem grandes riscos para pessoas ou bens. “Como há compostos de nitrogênio e oxigênio, poderia acidificar, mas essa hipótese é só se chover por vários dias, com efeito prolongado”, explica. “Se chover um dia só, é só lavar o carro, para não ficar sedimentos, aqueles pontinhos pretos, que podem comprometer a lataria.”

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