Homem de 73 anos cuida sozinho de cemitério que quase ninguém conhece na BR-040
Quem passa pela BR-040, na pista de descida, não imagina que ali, na altura do km 92 existe um cemitério. O pequeno terreno, escondido na mata, está localizado no Quarteirão Worms e há pelo menos cinco anos não é realizado enterro no local. A área foi doada à Prefeitura para que a transformasse em cemitério e atualmente quem toma conta do espaço é o aposentado José Rosa de Jesus Filho, de 73 anos.
Quase toda a família do aposentado está enterrada no cemitério do Quarteirão Worms, que existe há mais de 50 anos. “Minha mãe, meus avós, está todo mundo aqui”, contou seu José Rosa, que cuida sozinho do terreno. Ele capina, pinta e também realiza os enterros. “Estou sempre pedindo à Prefeitura que mande tinta. Pelo menos uma lata de cal, para poder pintar e deixar mais bonito. Mas não consigo nada não. Então, eu faço o que posso”, comentou o aposentado.
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José Rosa diz que não recebe nada para cuidar do cemitério, que fica localizado a poucos metros da sua casa. Viúvo há cinco anos, ele vive sozinho e passa os dias cuidando do terreno e da pequena igrejinha (Nossa Senhora das Dores) onde uma vez por mês é celebrada uma missa. “Antigamente as festas reuniam muita gente. Agora, tudo acabou. Há cinco anos não enterro ninguém aqui. Só temos visita no dia dos Finados por causa da missa, aí fica cheio”, disse José Rosa.
O cemitério tem poucas campas e boa parte dos corpos sepultados no terreno estão sem lápides. Mesmo assim, seu José sabe de cor onde está cada um deles. “Não tem identificação, mas eu sei porque eu mesmo enterrei. Tem lugar aqui ainda para enterrar mais pessoas, mas o acesso é difícil, né?”, lembrou o aposentado, que disse que também será enterrado no local, ao lado da família.
No dia em que a equipe da Tribuna esteve no local, seu José estava preparando o cemitério para o feriado dos Finados quando acontece a missa e as visitas. “Estou fazendo a limpeza e espero receber a tinta da Prefeitura para poder pintar a igreja. Tudo vai ficar pronto para o fim de semana”, ressaltou o aposentado.
As histórias do cemitério do Quarteirão Worms
O cemitério do Quarteirão Worms também é conhecido como um local utilizado para “desova” durante o regime militar. Investigações do Ministério Público e da Comissão Nacional da Verdade (CNV) apontam que a área foi usada pelos militares para ocultar os corpos de perseguidos políticos. O terreno foi visitado por técnicos da CNV e as informações coletadas fazem parte do relatório da comissão.
De acordo com a Comissão Nacional da Verdade, os corpos eram enterrados à noite, e o esquartejamento das vítimas era usado como recurso para dificultar a identificação. Também há suspeitas de que o cemitério era usado por grupos de extermínio da Baixada Fluminense e para o enterro de indigentes.