TCU aponta problemas no diagnóstico de câncer
O Tribunal de Contas da União (TCU) realizou recentemente uma vistoria nos equipamentos de saúde do país e identificou que em todos os estados o diagnóstico de câncer é feito de maneira tardia, com a doença já em estágio avançado, diminuindo as chances de cura. Em Petrópolis, os problemas não são muito diferentes do restante dos municípios. Dificuldades para marcar consultas, longas filas de espera realização dos exames, são alguns dos apontamentos relatados pelos pacientes.
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O médico oncologista Julio Vieira de Melo, que atende no Centro de Terapia Oncológica (CTO), disse que essas e outras reclamações, chegam por meio dos pacientes que são atendidos no Centro. “Normalmente é um número grande de pacientes e um número pequeno de profissionais nos equipamentos. E a dificuldade em realizar os exames, porque as filas que estão muito grandes. Para se ter uma ideia um ultrassom de abdômen demora em média um ano e dois meses para ser feito. Isso para os pacientes do CTO que tem prioridade. A gente trabalha nessa ponta, então não temos como saber todas as dificuldades, isso é o que é relatado pelos pacientes”, disse.
O médico explica que o trabalho preventivo é possível em dois tipos de câncer. O de colo uterino por meio de exame preventivo, e o câncer de cólon, com a colonoscopia. Todos os outros são chamados exames preventivos, mas na verdade são para detecção precoce. “De forma preventiva tem o colo uterino e o cólon, esse consegue detectar lesão pré-maligna antes de virar câncer e com relação ao de mama e o de próstata, quando são detectáveis no início são absolutamente curáveis”.
Na auditoria, o TCU apurou que a Política Nacional para a Prevenção e Controle do Câncer apresenta deficiências na sua implementação, razão pela qual o TCU determinou ao Ministério da Saúde que apresente plano de ação com medidas que visem à reversão dos problemas detectados. O objetivo do levantamento foi avaliar o acesso a serviços de diagnóstico. Foram coletadas e analisadas informações relacionadas aos oito tipos mais prevalentes de câncer no Brasil: próstata, mama, colo do útero, tranquia/brônquio/ pulmão, cólon e reto, estômago, cavidade oral e tireoide.
Além dos prejuízos para a saúde do paciente, a detecção tardia da doença traz prejuízos para o Sistema Único de Saúde (SUS). “Na detecção tardia normalmente o paciente acaba internando com alguma complicação. O que gera o custo da internação dos exames, e eventualmente até internações em CTI. Os tratamentos das doenças mais iniciais podem ser somente em cirurgia. Já quando a doença está mais avançada, vai requerer quimioterapia, radioterapia, fisioterapia, nutrição, então quanto mais tardia a doença é detectada, normalmente maior o peso para o sistema”, explica.
Num quadro geral, a auditoria revelou que um alto percentual de pacientes está sendo diagnosticado com a doença em grau de estadiamento (classificação dos tumores) III e IV – estágio já avançado da enfermidade. Segundo o TCU, o relatório apontou, ainda, ausência de informações consistentes e confiáveis que possibilitem o cálculo e o acompanhamento do tempo e dos valores despendidos para realização do diagnóstico do câncer. Também não foram identificados indicadores de desempenho e ferramentas administrativas que permitiriam a avaliação contínua da qualidade de cada etapa percorrida pelos pacientes para a identificação da doença e da própria efetividade das políticas aplicadas. O que confirma o relato de pacientes que esperam em longas filas por exames e consultas no SUS.
Ainda assim, o médico vê o cenário no município positivo comparado a outras regiões do país. “A gente vive em um lugar em que o acesso à informação e aos recursos médicos profissionais é bom. Então por isso a gente pode dizer que hoje, no CTO há a entrada de 60% dos pacientes com estágio inicial e 40% avançado”, avalia.
Com base no relatório, o TCU determinou ao Ministério da Saúde que, no prazo de 90 dias, elabore e apresente ao Tribunal plano de ação contendo as medidas a serem adotadas, os responsáveis e o prazo para implementação das medidas. Segundo o tribunal, o plano deverá conter uma série de ações, como o desenvolvimento de um programa para estruturação da rede de atenção à saúde em relação ao diagnóstico de câncer, a análise da viabilidade de criação de centros regionais de diagnóstico e a avaliação do desalinhamento entre os valores pagos pelo SUS e os custos efetivos da realização dos exames. A auditoria foi realizada no Ministério da Saúde, na Secretaria de Atenção à Saúde (SAS/MS), no Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) e nas Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde de quatorze estados.