Crise no transporte público petropolitano começou ainda durante a pandemia; relembre acontecimentos
A tão evidente e comentada crise no transporte público petropolitano, apesar de ter ter ganhado diversos novos capítulos nas últimas semanas, começou há muito mais tempo. Em 2020, durante a pandemia de covid-19, em tempos de isolamento social, algumas mudanças foram feitas no serviço e causaram efeitos que perduram até hoje. De lá para cá, manifestações, passagem de linhas para outras empresas e promessas de melhorias na prestação do serviço estão entre os principais acontecimentos.
Diminuição da frota
No início da pandemia, com o fechamento do comércio e funcionamento apenas de serviços essenciais, foi tomada a decisão de diminuir o número de ônibus rodando na cidade, já que a demanda de passageiros era menor. Com o passar dos meses e a flexibilização de medidas para o combate ao coronavírus, o número de passageiros foi, gradualmente, aumentando, e a oferta de ônibus já não era suficiente para atender a demanda. Certas linhas tinham menos ônibus operando do que o usual, enquanto outras não tinham nenhum veículo. A situação segue até os dias atuais, sem as empresas terem retornado com 100% das linhas pré-pandemia, mesmo após decisão da Justiça que determinou o retorno no último ano.
Alterações no preço da passagem
Em agosto de 2021, a tarifa de ônibus na cidade teve uma queda de R$ 4,40 para R$ 4,20. A decisão, tomada pelo prefeito interino Hingo Hammes, veio em contrapartida ao pagamento de subsídio às empresas, como garantia de uma melhora no serviço. Sete meses depois, em fevereiro de 2022, a passagem voltou ao valor anterior, mas, em maio, passou a custar R$ 4,80 para quem utilizava o sistema de bilhetagem eletrônica e R$ 4,95 para quem realizava o pagamento em dinheiro.
Ônibus perdidos na tragédia
A tragédia do dia 15 de fevereiro também gerou danos às empresas petropolitanas. Segundo o Setranspetro, seis ônibus tiveram perda total, sendo afetados por alagamentos e deslizamentos.
Greve dos rodoviários
Nesse meio tempo, em abril do último ano, os rodoviários realizaram uma greve que durou cerca de um dia e meio, entre os dias 6 e 7. A paralisação chegou a ser considerada ilegal pelo Tribunal Regional do Trabalho. Ao final do movimento, os rodoviários garantiram algumas melhorias reivindicadas.
Cascatinha perdeu linhas no Carangola
No fim de junho de 2022, uma grande mudança no transporte público foi anunciada pela Prefeitura. Oito linhas do Carangola deixaram de ser operadas pela Cascatinha e passaram a ser atendidas pela Cidade das Hortênsias. Na época, números da CPTrans mostravam que a Cascatinha tinha média superior a 200 falhas mecânicas mensais, enquanto a Cidade das Hortênsias tinha a maior eficácia do sistema.
Operação PII
No fim do mês de março deste ano, o prefeito Rubens Bomtempo foi alvo de uma operação do MPRJ e da Polícia Civil que investigava a transferência de linhas da Cascatinha para a Cidade das Hortênsias sem a realização de licitação.
Licitação
A licitação das linhas de ônibus operadas pela Cascatinha chegou a ser anunciada, mas foi suspensa pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE). Enquanto não ocorre a liberação, a Prefeitura diz estudar o modelo de concorrência e as linhas que serão licitadas.
Manifestações
Entre novembro e março, manifestações foram realizadas por passageiros pedindo melhorias no transporte público. Estrada da Saudade e Morin foram os locais em que os moradores mais protestaram, paralisando os ônibus por mais de uma vez no período.
Determinação de melhorias
Em dezembro, o Executivo determinou que as empresas tomassem medidas imediatas para que um melhor serviço fosse oferecido à população. O principal pedido era o de renovação da frota. Com o pedido sendo atendido inicialmente, a CPTrans assinou um termo de cooperação com o Setranspetro, no mesmo mês, formalizando o pagamento referente ao vale-educação, no valor mensal de R$ 1,8 milhão. Neste período, 29 ônibus novos e seminovos entraram em circulação na cidade em linhas da Cascatinha e Petro Ita.
Troca de presidentes na CPTrans
Em agosto, o então diretor-presidente da CPTrans, Jamil Sabrá, foi alvo de operação da Polícia Civil por contratos irregulares durante as tragédias em Petrópolis. No cargo, foi substituído por Fernando Badia, que exerceu a função até o fim do último mês. No seu lugar, assumiu Thiago Damaceno.
Incêndio na garagem da Petro Ita e Cascatinha
O capítulo mais grave da crise ocorreu na última semana, quando a garagem da Petro Ita e Cascatinha foi atingida por um incêndio de grandes proporções, que acabou destruindo 74 coletivos das empresas, sendo 50 da Petro Ita (10 em desuso) e 18 da Cascatinha (10 em desuso). Outros seis veículos eram sucata. Em oito dias, a frota foi reforçada com 25 ônibus, que se dividem entre veículos da Master, empresa pertencente ao mesmo grupo, outros emprestados por viações da Região Metropolitana e alguns da própria Petro Ita e Cascatinha que estavam sendo reformados.
Dívidas
Segundo dados do Governo Federal, somadas, Petro Ita e Cascatinha têm dívidas de mais de R$ 170 milhões. As viações Esperança, Petrópolis e Autobus, que deixaram de operar no transporte municipal há mais de 10 anos também aparecem na lista com dívidas que, juntas chegam a R$ 235 milhões.
Recuperação Fiscal
O último capítulo da crise está nos pedidos de recuperação judicial feitos por Cascatinha e Petro Ita e aceitos pela Justiça. O deferimento dos pedidos ocorreu neste mês e, agora, as empresas têm 60 dias para a apresentação dos planos de recuperação judicial.