• Quase 29 mil famílias vivem com menos de meio salário mínimo em Petrópolis

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  • Dados do Ministério de Desenvolvimento Social apontam 46.734 pessoas em extrema pobreza na cidade

    28/05/2022 08:20
    Por João Vitor Brum

    Petrópolis tem pelo menos 46.734 pessoas vivendo em extrema pobreza e 28.929 famílias com renda mensal inferior a meio salário mínimo, o que representa menos de R$ 606 no mês. O número de pessoas inscritas no CadÚnico, porta para serviços assistenciais, também é preocupante: são 90 mil cadastros, número que representa quase um terço de toda a população da cidade. Enquanto o total de famílias em extrema pobreza só aumenta, as medidas para atendê-las andam a passos lentos. Uma licitação para cestas básicas, em andamento, prevê a entrega de cerca de 500 cestas mensais, com entrega ao longo de um ano. Vale lembrar, também, que ainda não há um levantamento concreto de famílias afetadas pelas chuvas de fevereiro e março.

    Dados do Ministério de Desenvolvimento Social apontam que, em apenas dois meses, o número de famílias em extrema pobreza aumentou de 17.373 para 18.931, 8,9% a mais. São consideradas de extrema pobreza famílias com renda mensal de até R$ 89. As quase 19 mil famílias identificadas representam, de acordo com o governo federal, 46.734 pessoas. 

    Para a classificação do Ministério, famílias em situação de pobreza são as que possuem renda mensal entre R$ 89,01 e R$ 178, o que, em Petrópolis, representa 2.967 famílias ou 9.367 pessoas. 

    Já as famílias consideradas de baixa renda têm renda mensal de R$ 178,01 a meio salário mínimo, o que hoje é R$ 606. Na cidade, em abril, eram 7.031 famílias enquadradas como baixa renda, um total de 20.356 pessoas.

    Somadas todas as famílias que vivem com renda abaixo de R$ 606, o total chega a 28.929 núcleos familiares, são 76.457 pessoas vivendo com renda entre R$ 0 e R$ 606 em Petrópolis.

    Defasagem ainda é grande

    Não há um total consolidado de doações recebidas por Petrópolis após as chuvas de fevereiro e março, já que muitas instituições fizeram as entregas por conta própria e em locais diferentes. Apenas a Diocese de Petrópolis, por exemplo, doou pelo menos 14.500 cestas, enquanto a Central Única das Favelas arrecadou mais de 60 mil toneladas de alimento apenas nos primeiros dias após a chuva de fevereiro. À medida em que o tempo vai passando, a aquisição de novas cestas para atender às famílias em vulnerabilidade se faz necessária, em especial com um total que não para de crescer, mesmo que ainda não haja um consolidado de pessoas afetadas pelas chuvas.

    Uma licitação da Secretaria de Assistência Social, de R$ 1,8 milhão, prevê a compra de cestas básicas pelos próximos 12 meses. Considerando um valor de R$ 300 por cada cesta, isso representaria 500 famílias atendidas mensalmente no próximo ano, 2,6% do total de famílias em extrema pobreza – se o número não crescer, como aconteceu nos últimos meses. Caso as cestas fossem entregues de uma só vez, seis mil famílias seriam atendidas, apenas uma em cada três vivendo com menos de R$ 89 mensais.

    Após as chuvas, doações forma enviadas de todo o país, mas nem todas chegaram a quem precisava no primeiro momento por deficiência na gestão das doações. Pelo menos 8.750 cestas básicas enviadas pelo Ministério da Cidadania ficaram em um depósito no município de Mesquita por mais de um mês porque a Prefeitura de Petrópolis não as buscou. As cestas só chegaram à cidade após interferência da Defensoria Pública.

    Leia também: Alegando despensa cheia, Prefeitura não busca as 8 mil cestas básicas doadas pelo Governo Federal

    Dos valores enviados à Prefeitura após as chuvas, um deles, do Ministério do Desenvolvimento Regional, de R$ 1,6 milhão, foi destinado à compra de cestas básicas, colchonetes e itens similares, mas o governo municipal anunciou que devolveria o valor por já ter recebido muitas doações no primeiro momento após a tragédia, o que poderia causar duplicidade de itens. 

    O valor era para compras emergenciais. Porém, a suposta devolução anunciada não está especificada no Portal da Transparência, que tem o repasse de R$ 1.676.000 registrado, mas nenhuma informação sobre a destinação do dinheiro após chegar nos cofres municipais.

    Se tivesse sido usado exclusivamente para a compra de cestas, 5.586 poderiam ser adquiridas, ainda considerando o valor médio de R$ 300 por cesta.

    Leia também: Prefeitura usou apenas 26% de verbas emergenciais solicitadas ao Governo Federal

    Já o valor enviado por pix, referente a doações de todo o país, que representa R$ 297 mil, teve R$ 225 mil destinados para a compra de eletrodomésticos, tendo, ainda, cerca de R$ 70 mil disponível.

    Por não ser uma verba “carimbada”, o valor poderia ser usado para a compra de 993 cestas básicas, caso benefícios como o Cartão Recomeçar já estivessem disponíveis na cidade. O cartão possui uma parcela única de R$ 3 mil para compra de eletrodomésticos linha branca e materiais de construção, mas ainda não chegou à população petropolitana pelas inconsistências nos cadastramentos feito por Estado e Prefeitura.

    A Secretaria de Assistência Social informa que, desde as chuvas de 15 de fevereiro, o município já recebeu mais de 350 toneladas de alimentos (cerca de 15 mil cestas básicas e 52 toneladas de alimentos avulsos).
    Já foram distribuídas quase todas as cestas básicas e cerca de 41 toneladas de alimentos avulsos. Em estoque, portanto, o município conta hoje com cerca de 200 cestas básicas e 11 toneladas de alimentos avulsos.

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