O fotógrafo Renne Raibolt tinha acabado de completar 58 anos quando se contaminou pelo coronavírus, em março desse ano. Das cinco pessoas da casa, quatro tiveram a doença. Lá pelo 11º dia, quando achou que estava se recuperando bem, de repente o quadro de Renne piorou. Na emergência, com 25% do pulmão comprometido, os médicos trocaram seus antibióticos por outros considerados mais fortes e ele foi mandado de volta para casa. Mas 48 horas depois, sem sinal de melhora, Renne voltou a emergência. Ele conta que nas quase 24 horas entre a entrada no hospital até a sua internação o quadro do seu pulmão pulou de 70% para 90% de comprometimento. Renne foi direto para a internação no Centro de Tratamento Intensivo (CTI).
“A coisa foi muito rápida, por isso que a gente pede para todo mundo esse cuidado de procurar médico. De não ficar em casa, se mexer. Ter fé, mas não só a fé, a fé que movimenta”, conta.
A partir dai começou uma força tarefa. Para que não fosse entubado, Renne conta que com a ajuda dos fisioterapeutas do Hospital Santa Teresa, onde ficou internado, se esforçou muito para se adaptar a uma máscara VNI, que faz um trabalho de ventilação não invasiva com pressão positiva, o que ajuda na oxigenação do paciente. Dia após dia, o tempo de uso da máscara foi aumentando e seu quadro de saúde foi melhorando.
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“A fisioterapia já começa dentro do ambiente hospitalar onde a gente consegue hoje, com algumas técnicas, a ajudar o paciente nessa parte da reexpansão pulmonar, da oxigenoterapia, fornecendo oxigênio, auxiliando na expansão pulmonar quando a carga viral está alta, atingindo várias áreas do pulmão”, explica a fisioterapeuta Thalita Moreira de Rezende, que atende Renne também na reabilitação após a doença.
Renne ficou doze dias internado, emagreceu 7 quilos. E hoje se recupera das sequelas que a covid-19 deixou. “Cansaço, fraqueza muscular, sudorese nas madrugadas, memória lenta, falta de ar quando faço exercícios e falo muito. Mexeu nos meus dentes, ficaram fracos, quebrei dois”, conta o fotógrafo.
Fisioterapia ajuda na reabilitação após doença
A fisioterapeuta explica que a principal necessidade dos pacientes que passam pela internação hospitalar por acusa da covid-19 é reabilitação pulmonar. A perda de paladar e olfato, são sintomas que geralmente acometem pacientes que tiveram sintomas leves.
“No pós covid a principal queixa vem sendo a falta de ar e a dificuldade de fazer suas atividades diárias devido ao cansaço que a falta de ar causa. Quando está na fase aguda do vírus, as áreas pulmonares ficam sem expandir, então o oxigênio não consegue chegar em determinadas áreas do pulmão e isso faz com que o corpo não consiga carregar o oxigênio adequadamente”, disse Thalita.
Alguns pacientes reclamam que não conseguem mais executar tarefas simples como tomar banhos sozinhos. Durante a entrevista com o Renne, ele relatou o cansaço ao mandar um áudio de pouco mais de 5 minutos. Ele teve alta hospitalar no dia 12 de abril e faz reabilitação domiciliar.
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“A proposta é reinserir o paciente as suas atividades, que é utilizando de exercícios que a gente tem dentro da fisioterapia que chamamos de VNI, que é a ventilação não invasiva. Dá pra fazer em casa também onde usamos de uma pressão positiva. Para fazer uma reexpansão pulmonar nós temos exercícios respiratórios que são utilizados para o treino da musculatura respiratória”, explica a fisioterapeuta
Pacientes relatam dores, mal estar e queda de cabelo no pós covid-19
Quem teve sintomas considerados mais leves relatam que após a recuperação alguns sintomas continuaram a serem sentidos, são os chamados sequelas da covid-19. A bancária Janaína Bahia teve covid-19 em dezembro, logo após o Natal. “Por sorte não me reuni com a família no dia de Natal pois poderia ter contaminado a todos. Meu marido também começou a sentir os sintomas uma semana após. Ficamos em casa durante 15 dias por recomendação médica e já voltamos ao trabalho. Alguns colegas que fizeram Ceia de Natal acabaram contaminando a família apesar de todas as recomendações para evitar aglomerações nas festas de fim de ano”, disse.
Embora tenha tido os sintomas considerados mais leves, após a recuperação Janaína contou que sente a visão embaçada e dores nas articulações.
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A designer de unhas Henriete Gall teve covid-19 em dezembro do ano passado. Ficou seis dias internada na UTI do Hospital Nelson de Sá Earp. Além do agravamento que acometeu seu pulmão, ela conta que teve mudança no paladar e sentia muita dor por cima dos olhos. Conseguiu se recuperar, mas a designer que trabalha principalmente com a estética, teve uma sequela que não é tão comum em todos os pacientes: a queda de cabelo. “A covid tem uma inflamação no corpo e inflamou os folículos capilares, foi onde ocorreu a queda de cabelo. Eu não cheguei a ficar careca, mas caiu muito cabelo. Agora que está crescendo”, contou. Ela precisou fazer tratamento com produtos capilares específicos.
O segurança Diego José da Silva, de 29 anos, se contaminou duas vezes no ano passado. A primeira vez em setembro, e quatro meses depois em dezembro novamente teve a doença. “Meus sintomas foram muito cansaço, uma forte dor nas costas, perda de paladar, muita febre, uma leve dor de cabeça, e um mal estar”, conta Diego. Mesmo após a recuperação ele continuou sentindo mal estar. Ele buscou atendimento médico e com antibióticos conseguiu se recuperar totalmente.