• Falta de parâmetros e dados represados podem gerar subnotificações no quadro epidemiológico do município

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  • 21/04/2021 19:16
    Por Luana Motta

    Na última segunda-feira (19), o prefeito interino Hingo Hammes publicou mais um decreto com novas medidas de restrições para o enfrentamento da covid-19 em Petrópolis. Este é o sétimo decreto desde o dia 04 de março deste ano. Novas medidas vem sendo adotadas em um intervalo entre 7 e 10 dias. Sem transparência sobre quais parâmetros estão sendo usados para a tomada de decisões, após 44 dias de restrições a Prefeitura ainda não apresentou qual o impacto da adoção das medidas no quadro epidemiológico no município. Com dados atrasados, o Painel Covid-19 pode gerar subnotificações de casos.

    A Tribuna fez um levantamento cruzando os dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Saúde no Painel Covid-19 com os sete decretos que foram publicados. Aqui, tomamos como base a recomendação Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que no dia 23 de março, com base no agravamento do quadro epidemiológico no país, apontou que, para que houvesse uma redução na transmissão da doença, era necessário que fossem adotadas medidas mais restritivas ou lockdown por cerca de 14 dias.

    Esse levantamento foi feito na tentativa de encontrar e apresentar os parâmetros epidemiológicos que foram adotados pelo governo interino para a tomada de decisões. A base usada pela Tribuna leva em consideração o Plano de Retomada das Atividades Socioeconômicas de Petrópolis, criado no ano passado pelo Gabinete de Crise para enfrentamento da covid. O recorte das semanas epidemiológicas compreende as duas semanas anteriores a publicação de cada um dos decretos.

    • No dia 04 de março, quando foi publicado o decreto de nº 31, a taxa de contaminação das semanas 7ª, 8ª e 9ª (14 de fevereiro a 06 de março) estava entre 1,2% e 1,5%. De acordo com o Painel, esse indicativo é relacionado a capacidade de casos confirmados da semana anterior contaminar pessoas para a próxima semana. Nessas três semanas, foram confirmados 2.255 novos casos. E a taxa de internação em leitos de UTI do Sistema Único de Saúde (SUS) no dia 04 de março, estava em 69,23%. Foram contabilizados 44 novos óbitos nestas semanas. Neste primeiro decreto, a Prefeitura restringiu horário de funcionamento de estabelecimentos, voltou a fazer a vigilância sanitária nas barreiras nas entradas da cidade e instituiu o “toque de recolher” entre 22h e 5h.
    • No dia 15 de março, quando foi publicado o decreto de nº 34, a taxa de contaminação das semanas 9ª e 10ª (28 de fevereiro a 13 de março) estava entre 1,2% e 0,7% – mostrando uma redução na taxa de contaminação. Foram confirmados 1.669 novos casos e 45 novos óbitos. A taxa de internação em leitos de UTI do SUS havia subido para 83,81%, no dia 15 de março.
    • No dia 22 de março, quando foi publicado o decreto nº 43, a taxa de contaminação das semanas 10ª e 11ª (07 de março a 20 de março) estava entre 0,7% e 1,5% – mostrando novamente um aumento na transmissão. Nessas duas semanas foram confirmados 1.816 novos casos, e 70 novos óbitos. A taxa de internação dos leitos de UTI SUS havia subido para 89,81%, no dia 22. Esses últimos dois decretos tiveram as medidas prorrogadas, com pouca ou nenhuma alteração em relação as restrições.
    • Três dias depois, em 25 de março, quando foi publicado o decreto nº 50, a taxa de contaminação das semanas 11º e 12ª (14 de março a 27 de março) estava entre 1,5% e 1,2% – mantendo-se as mesmas das duas semanas anteriores. Foram contabilizados 2.442 novos casos e 99 novas mortes. A taxa de internação dos leitos de UTI do SUS estava em 93,75% e no dia seguinte, o município chegava a taxa mais alta desde o início da pandemia, em 99,07% de ocupação. Neste decreto, observando a recomendação do governador em exercício Cláudio Castro, quando foi adotado um “feriadão”, a Prefeitura suspendeu o funcionamento de atividades socioeconômicas não essenciais.
    Taxa de contágio por semana epidemiológica (Fonte: Painel Covid-19/SMS/PMP)
    • Já no dia 04 de abril, quando foi publicado o decreto nº 60, o município começou a flexibilizar algumas atividades socioeconômicas. A taxa de contaminação entre as semanas 12ª e 13ª (21 de março a 03 de abril) estavam em 1,2% e 0,8%. Foram contabilizados 2.361 novos casos e 115 novas mortes em duas semanas. A taxa de internação dos leitos de UTI do SUS ainda estava entre os índices mais altos desde o início da pandemia, em 97,54%, no dia 04.
    • No dia 12 de abril, quando foi publicado o decreto de nº 62, a Prefeitura prorrogou as medidas de flexibilização das atividades não essenciais. A taxa de contaminação entre as semanas 13ª e 14ª (28 de março e 10 de abril) estava em 0,8% e 0,4% – mostrando mais uma vez a queda na transmissão da doença. Foram confirmados 1.455 novos casos e 125 mortes. A taxa de ocupação nos leitos de UTI do SUS estava em 86,89%, também mostrando uma redução.
    • Já nesta segunda-feira, dia 19 de abril, quando foi publicado o sétimo decreto de nº 74, foram liberadas todas as atividades não essenciais com exceção daquelas que gerem aglomerações, como festas, boates e danceterias, que já eram proibidas desde o ano passado. As atividades flexibilizadas pode funcionar em horário habitual, desde que adotando as medidas de sanitárias. A taxa de contaminação das semanas 14º e 15º (04 de abril a 17 de abril) está entre 0,4% e 0,1%. Segundo os dados do Painel, foram confirmados 462 novos casos e 95 mortes em duas semanas. A taxa de ocupação dos leitos de UTI do SUS estava em 83,87%.

    Represamento de informações leva novos casos à subnotificação

    Embora os dados apresentados no Painel pareçam positivos, eles não são fidedignos a realidade. No levantamento feito pela Tribuna não foi possível chegar ao mesmo resultado que a governo interino afirma ter chegado, porque as informações do Painel Covid-19 estão em parte desatualizados. Além das informações serem inseridas manualmente, item a item, os dados estão represados desde dezembro do ano passado, o que torna impossível usar essas informações como parâmetro para identificar o quadro epidemiológico atual no município.

    Número de casos em análise por mês (Fonte: Painel Covid-19/SMS/PMP)

    Segundo dados extraídos nesta quarta-feira(21) do Painel Covid-19, estão em análise:

    • 310 notificações de dezembro/20;
    • 824 notificações de janeiro/21;
    • 582 notificações de fevereiro/21;
    • 1.428 notificações de março/21;
    • 1.234 notificações de abril/21.

    Na 13ª, 14ª e 15ª semanas epidemiológicas que deveriam ter sido usadas na análise de casos para a tomada de novas decisões em relação ao decreto publicado nesta segunda-feira, há 1.821 casos em análise. Ou seja, o número de novos casos confirmados nesta semana pode ser muito maior do que é apresentado no Painel. Os dados represados colocam em dúvida também sobre o monitoramento dos novos casos.

    Prefeitura diz que toma como base a realidade do município, mas não apresenta resultados

    No ano passado, quando começaram a ser adotadas as medidas de flexibilização a Prefeitura colocou em prática o Plano de Retomada. A partir do dia 01 de junho, as atividades – divididas em grupos – foram sendo autorizadas a funcionar. Sendo observados a taxa de ocupação dos leitos de UTI por covid-19, que deveria estar abaixo de 80% da capacidade disponível; a avaliação epidemiológica diária de números de casos e números de óbitos; e o número de leitos de UTI e Clínico/dia.

    Em resposta à Tribuna, a Prefeitura explicou “que a tomada de decisões tem como base tanto a realidade vivenciada na cidade, inclui ai as questões econômicas e sociais, quantos os dados epidemiológicos e de atendimentos”. No entanto, mais uma vez, a Prefeitura não apresentou os parâmetros ou Nota Técnica feita pela Secretaria de Saúde e Vigilância Epidemiológica e Sanitária – como era feito no ano passado, e metodologia que vem sendo adotada pelo Ministério da Saúde e Secretaria de Estado de Saúde – para que essas medidas restritivas sejam determinadas.

    No início do mês, a Tribuna publicou uma reportagem apresentando as inconsistências no Painel Covid-19 e como essas falhas colocam em dúvida a tomada de decisões pelo governo. Em resposta aos questionamento da Tribuna, o governo interino disse que “vem buscando o equilíbrio, de forma a garantir fôlego ao sistema de saúde para que consiga absorver os pacientes, ao mesmo tempo em que busca conscientizar a população sobre a necessidade de manter os cuidados para prevenir a disseminação do coronavírus”.

    Sem maiores informações sobre a base epidemiológica, a Prefeitura informou que “Hoje(20/04), os dados epidemiológicos apontam desaceleração da taxa de contágio, que chegou ao índice mais alto em março, quando alcançou patamar semelhante ao registrado no início de dezembro. Além disso, comparando os meses de março e abril, houve queda de cerca de 20% na demanda nas portas de entrada, o que diminuiu a pressão sobre o sistema de saúde”.

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