Ainda que não tenha eficácia comprovada contra a covid-19, e não seja recomendado por nenhum órgão oficial regulador da saúde, os petropolitanos correram às farmácias em busca do que parecia ser a solução mágica contra a covid-19: a ivermectina. Em uma pesquisa feita pela Tribuna, com cinco redes de farmácias em Petrópolis, todas registraram aumento na procura pelo medicamento. Na CityFarma, da Rua do Imperador, houve um aumento de mais de 500%, desde o ano passado. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou nesta quarta-feira(31), que: “não se utilize a ivermectina” para pacientes com covid-19.
Não precisa de receituário médico, o medicamento que geralmente é usado no combate aos piolhos, pode ser comprado por qualquer pessoa, e vem sendo usado por muitos petropolitanos para o tratamento preventivo ou profilático da covid-19. A Tribuna entrou em contato com a Farmácia Cristal, Petrópolis, Galanti e Pacheco. Nesta última, a responsável informou que chegou um momento no ano passado em que houve falta do medicamento e tiveram que reorganizar a quantidade de compra para que não voltasse a faltar no estoque.
Essa polêmica foi parar inclusive na Câmara Municipal, que no início deste mês, aprovou uma indicação legislativa do vereador Octávio Sampaio (PSL). O projeto de lei prevê a compra e distribuição do medicamento pelo SUS em Petrópolis. O projeto foi aprovado por 11 votos a 1.
Até o momento não há comprovação científica de que o medicamento ivermectina tenha eficácia contra a covid-19. A OMS recomendou nesta quarta-feira a não utilização do medicamento. “Nossa recomendação é não usar ivermectina para pacientes com Covid-19, independentemente do nível de gravidade ou duração dos sintomas”, disse Janet Díaz, chefe da equipe de resposta clínica à Covid-19 da agência da ONU, em uma entrevista coletiva.
A Associação Médica Brasileira e outras organizações também divulgaram uma nota na semana passada, pedindo o banimento do uso da ivermectina e da cloroquina para o tratamento da covid-19. Estes remédios vêm sendo amplamente defendidos pelo presidente Jair Bolsonaro.
No início do mês, em entrevista à Tribuna, o médico infectologista Marco Liserre, que é chefe do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Municipal Nelson de Sá Earp e médico no Hospital Unimed, fez um alerta para o risco do uso indevido do medicamento.
“O tratamento que as pessoas têm preconizado nas redes sociais, já caiu por terra pela ciência já ha algum tempo. A Sociedade Brasileira de Infectologia publicou um documento recentemente orientando os infectologistas a não usarem medicação precoce de espécie alguma. Hidroxicloroquina, cloroquina, ivermectina, azitromicina… Esses medicamentos não tem nenhuma ação sobre o vírus”, disse o médico.
De acordo com o médico, que trabalha na linha de frente contra a covid-19 em Petrópolis, houve registro de pacientes que tiveram complicações médicas e até morreram por causa do uso indevido do medicamento. “Não tem mágica com covid-19, e os cuidados têm que ser tomados para que não aconteça coisas piores. O indivíduo entra com uma doença x ou esta tentando profilaxia com uma doença x e evolui para uma internação, com o fígado destruído, com uma neurotoxicidade grave. Nós já perdemos pacientes aqui em Petrópolis, com neurotoxicidade grave. O paciente não tinha a doença. Mas ele usava ivermectina por conta própria”, alertou o médico.
A Secretaria Municipal de Saúde também informou que não há recomendação médica de medicamentos para tratamento precoce de pacientes com sintomas de coronavírus, portanto, não haverá nenhuma orientação neste sentido na rede de saúde municipal. Em caso de sintomas, há indicação de uso de analgésicos e antitérmicos (se houver dor e febre), hidratação e repouso. Antibióticos só são receitados se for constatada infecção secundária”.