• Mesmo sem consenso sobre eficácia, vereadores aprovam indicação para compra de ivermectina pelo SUS

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  • 04/03/2021 21:09
    Por Luana Motta

    A indicação do uso de medicamentos para tratamento precoce ou profilático contra covid-19 tem uma lista extensa de suposições, testes não comprovados e muitas pesquisas, essas últimas nem sempre são de órgãos oficiais, algumas até baseadas em experiências pessoais.

    De um lado, temos a ivermectina, que ainda não teve a eficácia comprovada por órgãos oficiais, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), de que realmente tem resultado contra a covid-19; de outro lado, a indicação de especialistas que continuam afirmando que o único método eficaz contra a doença é a vacinação.

    E no meio dessa polêmica, eis que surge a Câmara Municipal de Petrópolis: por 11 votos a 1, os vereadores aprovaram a indicação legislativa que prevê a distribuição pelo Sistema Único de Saúde (SUS) do medicamento no município para tratamento precoce contra a covid-19.

    A indicação, que foi votada em regime de urgência, é do vereador Octávio Sampaio (PSL). Segundo o vereador, a indicação foi baseada em 28 estudos científicos que comprovam a eficácia da ivermectina nos primeiros dias de sintoma.

    “Está se falando muito em aumento do número de infectados, estados estão fechando. Achei justo fazer a proposta em regime de urgência. Até porque o ponto principal é que nos hospitais particulares os pacientes já recebem a receita da ivermectina ou é aplicado na hora. O que eu quero é que os mais pobres tenham acesso também”, disse o vereador.

    Outros 10 vereadores também votaram a favor – pelo menos 5 deles disseram já ter feito o uso do medicamento. O próprio Octávio Sampaio disse que tomou o remédio até maio e, até o momento, não foi contaminado pela doença. Testemunhos pessoais à parte, da lista de vereadores somente Gil Magno, que se afastou após uma pessoa de seu gabinete ter testado positivo para covid-19; e Júnior Paixão, ambos do DC, estavam ausentes da sessão.

    O vereador Fred Procópio (PL) – que já havia pensado na compra de medicamentos para os funcionários da Câmara, conforme noticiou a coluna Les Partisans – também não votou, na condição de presidente interino da Câmara, mas assinou o requerimento de urgência que levou a indicação a plenário nesta quarta-feira – junto com outros 12 vereadores. Somente o vereador Yuri Moura (Psol) não assinou e votou contra a indicação.

    “O primeiro ponto é lembrar que a Câmara Municipal não tem autonomia, autoridade ou capacidade técnica pra decidir que tipo de medicamento a população pode ou não usar. O pior de tudo é fazer isso em uma votação em regime de urgência sem passar pela Comissão de Saúde, sem convidar especialistas ou sequer ouvir o poder executivo através da sua Secretaria. E o que mais me preocupa é que, por mais que a gente consiga derrubar essa votação de ontem, muita gente ainda pode acreditar nas fake news, nas redes de mentiras que estão na internet sobre a eficácia desse medicamento”, disse Yuri.

    Para o vereador, se as pessoas começarem a acreditar que o medicamento é eficaz para o tratamento precoce ou profilático da doença, podem abandonar as medidas restritivas de prevenção a covid-19. “O que aconteceu ontem foi uma vergonha. Eu me posicionei e continuo defendendo o voto não. Vou acompanhar de perto para que a gente busque mais recursos mais soluções para a única coisa que pode superar a covid-19 que é a vacina”, disse o parlamentar.

    Presidente em exercício da Câmara, Fred Procópio disse que a premissa que alicerça as duas decisões é de dar o máximo de liberdade para que as pessoas façam a tomada de decisões.

    “Tem gente que não tem condições de comprar o remédio, mas acredita no resultado dele. E tem gente que está na mesma condição social socioeconômica e não acredita. Agora, na minha leitura, o governo deve proporcionar para as pessoas liberdade, a gente tem: se você quiser você toma, se você não quiser você não toma. É opcional”, disse.

    No entanto, Procópio afirma que, embora a decisão de tomar o medicamento recaia sobre a população, a decisão de tomar a vacina não deve ser vista da mesma maneira. “Você não pode comprometer os demais com base no que você acredita. A gente tem a ciência já comprovada dizendo que a única solução é a vacina. Por isso que a ivermectina ali, na minha concepção, é importante receber a indicação e entender isso: as pessoas têm liberdade de escolha”, disse.

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