• Visão troglodita

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  • 30/08/2016 09:00

    O troglodita inquieto ruminava impropérios, que do interior da caverna repercutiam na vastidão das planícies e dos planaltos mais próximos, saindo pela enorme boca aberta à imensidão aonde dinossauros e toda parentalha locomoviam-se na pachorra de suas descompassadas evoluções. Vez por outra brigavam – o troglodita e subordinados – ensurdecedoramente diante do opinativo das contradições que geravam confrontos naquele mundo da insanidade animal e da formação do "homo sapiens". Porém o tal "homo sapiens" deixara a caverna, que trocara por um sítio com todas as mordomias possíveis naquele mundo perdido.

    O novo habitante era a "mulher sapiens", agora no total comando da caverna exercendo liderança absoluta, já que alguns dos companheiros anteriores ou residiam em outras cavernas amplas e decoradas, nadando em pepitas auríferas incrustadas em paradisíacos recantos camuflados, ou estavam detidos em tocas de regimes abertos e semiabertos, monitorados por cordinhas ligadas ao setor da segurança da grande caverna.

    O enorme e incontonável problema era o gosto da troglodita pelo enrolar dos miolos, em seus pronunciamentos aos autóctones das paragens e para todos os himalaias, como, também, a sua vocação pela mentira deslavada, surgida, não da inteligência – em falta – mas da insegurança íntima provinda do despreparo pessoal advindo de fases belicosas onde a escola fora a ponta da lança envenenada.

    O quadro belo das florestas enegrecia-se diante dos pruridos negativos que habitavam aquela caverna ampla, onde a reunião de indivíduos e individuas discutia o sai-não-sai de forma amplamente hostil, com dedos nas caras e prontos a furar alguns olhos espantosamente esbugalhados de ira e destempero. No enorme pratão da caverna, figuras de proa destacavam-se pelo manejar guturações através dos vitupérios e da autoflagelação à qual se submetiam, quando se esticava o dedo e afirmava-se: não vejo moral aqui para julgar a divina e santa "mulher sapiens".

    Aquele mundo troglodita certamente ainda não estava preparado para o exercício da democracia, simplesmente porque o tema ainda não havia sido tratado pelos sábios da futura civilização grega. E nenhum deles sabia que estavam ainda na era do tacapaço. O que sabiam e praticavam era o grunhido de satisfação ou insatisfação, conforme o grau de comprometimento com o destino almejado por cada (cacófato consciente) habitante daquele buraco incrustado na longínqua rocha do globo que continuava girando, girando e girando. E continua.

    A história não termina por aqui; tem desdobramentos que passam pelo grupo de indivíduos e indivíduas espremidos na caverna, que desejam a minha caverna, a minha vida e, ainda, que estejam educados e instruídos, que tenham meios de subsistência, sem necessidade de abaterem vários dinossauros por dia, que tenham sítios e apartamentos de cobertura, comida nas cuias, crianças e adolescentes na escola, segurança, dignidade e verdade nos atos dirigentes, digna justiça. bolsas, bolsas, bolsas… porque o futebol olímpico já foi conquistado…

    E tudo isso para que o indivíduo com fome, seguido por um cachorro magro, possa euforicamente afirmar:

    – É o que nos faltava !

    E outros cidadãos do comando afirmarem, após lautos churrascos de pterópodes:

    – Aguardem, que ai vem muito mais nas eleições. É só votar em nós para que todos exerçam a basilar sentença dita pela "mulher sapiens", que um dia fez arrepiar o mundo, quando afirmou: "atrás de uma criança sempre vem um cachorro"!

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