Violência nas escolas: bullying e indisciplina são as principais ocorrências
“Ela era uma menina muito bonita, o que chamava a atenção dos meninos. Essa situação gerou conflitos e ela acabou sendo perseguida por um grupo de alunas. Além de toda violência moral e psicológica que ela começou a sofrer, um dia ela foi agredida por um grupo de alunos. Ela acabou tendo que deixar a escola por conta de toda essa humilhação que ela sofreu. Essa situação me chamou muito atenção e foi a que mais me marcou nestes anos todos de profissão. Ela sofreu bullying até o ponto de ser agredida o que a fez sair da escola, é uma situação marcante”, contou a orientadora escolar da rede municipal. De acordo com dados da Ronda Escolar, as principais ocorrências atendidas pelas equipes são brigas entre os alunos causadas em sua maioria por bullying e também indisciplinas dos estudantes com os professores e funcionários das escolas.
Em 2017, a Ronda Escolar realizou 1.233 visitas nas escolas públicas e particulares (sendo 710 no primeiro semestre) e atendeu 282 ocorrências. Em 2018, este número aumentou cerca de 69% no período de janeiro a julho, quando as equipes fizeram 1.197 visitas e atenderam 305 ocorrências. Em todo o ano passado, foram 2.014 atendimentos.
No primeiro semestre deste ano, os agentes da Ronda Escolar já realizaram 930 visitas e 197 ocorrências foram atendidas. “Dentro do ambiente escolar, acabamos vivenciando essas tristes experiências de violência escolar. E estudos mostram que a violência entre as meninas está mais ligada a parte psíquica. Elas são movidas pela inveja, pelos ciúmes e os conflitos acabam acontecendo. Foi o que houve com essa aluna”, pontuou a orientadora.
Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2015, revelou que cerca de 20% dos alunos do nono ano do ensino fundamental já afirmaram que zombaram, intimidaram ou caçoaram de algum de seus colegas de escola. E pouco mais de 7% disseram ter sido submetidos a situações de humilhação com frequência.
Outro estudo do Ministério da Educação com a Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, de 2016, apontou que 69,7% dos jovens afirmaram terem visto algum tipo de agressão dentro da escola, seja verbal, física, por discriminação, por bullying, ou devido a roubos, furtos e ameaças.
Uma lei federal sancionada em 2015, criou o Programa de Combate à Intimidação Sistemática, obrigando a produção e publicação de relatórios bimestrais das ocorrências de bullying nos estados e municípios para planejamento de ações. Em Petrópolis, a Ronda Escolar tem o papel de realizar reuniões com pais e responsáveis com os estudantes envolvidos em conflitos para proporcionar mediação. Além disso, os agentes também realizaram palestras com os alunos sobre bullying e o comportamento nas escolas.
Além da Ronda Escolar, as unidades também recebem com frequência o juiz da Vara da Infância e Juventude, Alexandre Teixeira para tratar do tema. “Não há como negar que essa questão do bullying desencadeia essa violência dentro do ambiente escolar. Em alguns casos que chegam aqui na Vara da Infância, os adolescentes confessam que chegaram ao ponto de agredir os colegas porque não aguentavam mais os xingamentos, os ataques verbais”, comentou o secretário da Vara da Infância e Juventude, Roberto Vicente Krepker. “Eles entendem que é uma forma de defesa. É preciso trabalhar essa questão no ambiente escolar e também com as famílias”, ressaltou.
Professores também denunciam casos de violência
Outro tipo de violência dentro das escolas que também vem aumentando no país são as agressões físicas e verbais a professores e funcionários. Mais de 12% dos docentes disseram já ter sido vítimas de agressões verbais ou de intimidação de alunos pelo menos uma vez por semana é o que diz uma pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
“Qual foi o professor ou professora que nunca sofreu violência por parte de um aluno? Isso acontece com todos”, questiona a professora da rede pública que leciona há 25 anos. Apesar dos casos de agressão, ela diz que nunca deixou a sala de aula e sempre tem motivos para voltar a dar aula. “Quando a situação ficava séria eu falava que iria embora. Cheguei um dia a pegar minhas coisas e deixar tudo, mas acabei voltando”, lembra.
A agressão sofrida pela professora veio de um aluno de 12 anos. Ela contou que ele a jogou da escada e a agrediu com socos e pontapés. “Um zelador que me socorreu e tirou ele de cima de mim. Na época, isso tem oito anos, eu cheguei na direção e falei: ou ele ou eu. Não tinha condições de continuar na mesma sala de aula que ele”, disse.
A professora de uma escola particular também lembra de agressões sofridas quando dava aula para uma turma do Ensino Fundamental, quando um aluno jogou uma pedra no quadro negro. “Continuar lecionando para aquela turma só a base de remédios”, contou a educadora.
No mês passado, o governo do Estado lançou o Programa Cuidar que tem como objetivo levar mais segurança a profissionais e estudantes da rede pública. Uma das medidas é a instalação de um aplicativo no aparelho de telefone celular dos profissionais. Por meio deste dispositivo, em caso de qualquer emergência nas unidades de ensino, eles poderão acionar a Central da Secretaria de Educação, onde uma equipe receberá imagens e áudios dessas situações para que, desta forma, possa identificar a necessidade de acionar, por exemplo, a Polícia Militar ou o Corpo de Bombeiros, e tomar a decisão mais adequada. O governo do Estado não divulgou o cronograma de implantação do programa e nem quando ele entrará em vigor.
Já nas escolas da rede municipal, a Prefeitura informou em nota que 80 unidades já possuem câmeras de segurança. Ainda de acordo com o governo municipal, a Secretaria de Educação tem como meta reforçar o sistema de segurança em todas as escolas e centros de educação infantil até 2020.
Conselho Tutelar também atende as denúncias
Os casos de violência dentro das salas de aula também são atendidos pelo Conselho Tutelar. A entidade é notificada pela escola tanto da rede particular quanto pública nas ocorrências envolvendo alunos com idade inferior a 12 anos. Os menores são atendidos pelos conselheiros assim como os pais e dependendo do caso, são encaminhados para atendimentos com psicólogos. As famílias também são atendidas e são acompanhadas pelos conselheiros.
Já nas ocorrências envolvendo adolescentes com idade acima de 12 anos, os casos são levados para a Vara da Infância e Juventude. “É preciso que todos os atos infracionais sejam levados para a delegacia. Quando o conflito é registrado em sede policial os adolescentes são encaminhados para a Vara da Infância onde são ouvidos. Dependendo do caso, são aplicadas as medidas sócio-educativas. É importante que os adolescentes saibam que há consequências e que as medidas serão adotadas”, alertou o secretário da Vara da Infância e Juventude, Roberto Vicente Krepker.