• Video Bretz: digna de se rebobinar

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  • 16/01/2020 17:00

    Lançado em 1985, o filme estrelado por Luiz Ernesto Bretz foi sucesso de bilheteria. Exibido, inicialmente, na 16 de março, o longa nasceu de um romance. Do protagonista com o cinema. Com a arte de contar histórias pelas telas. E, assim, numa produção que durou cerca de 30 anos, o ‘Video Bretz’ construiu a própria trajetória: digna de se rebobinar.

    Obra de não-ficção, a locadora tinha nela mesma o mais interessante enredo entre os cartazes de lançamentos. A diferença é que a estrela do filme, até então não concluído, caminhava pela loja e interagia com seus clientes sem que eles ou ela própria se desse conta.

    Promessa de um novo mundo, a ideia de ter à disposição e poder assistir quando bem entendesse títulos que havia perdido no cinema – e que antes nem se sonhava em ouvir falar novamente – foi o suficiente para o engenheiro petropolitano de 27 anos largar o emprego numa empresa estatal e investir no negócio.

    Nascido, portanto, de um romance, nos primeiros minutos da obra ‘Video Bretz’ o telespectador já sentia que uma jornada empreendedora e inspiradora o esperava. Tanto que, de uma, a locadora passou a contar com oito lojas – as principais nas ruas 16 de março e 13 de maio – e mais de 30 mil clientes.

    “Você podia alugar numa delas e devolver na outra. Também começamos a trabalhar fora do horário comercial, indo até as 20 horas, meia noite e, mais tarde, no final de semana direto”, conta o fundador Luiz Ernesto, aos 61 anos. Regulares, as idas à loja eram, terapêuticas – mas nem sempre homeopáticas.

    Fisioterapeuta, a aposentada Diva Botelho de Melo, de 60 anos, fala com propriedade sobre os hábitos de consumo dos clientes. Até porque por 30 anos foi ela quem assumiu o posto de gerente, o que, por sua vez, a tornou ‘braço direito, esquerdo e perna’ do cunhado e proprietário do negócio, Ernesto.

    Cinéfila, Diva tinha – e ainda tem – no vídeo, sua praia. “Sempre gostei muito. Na minha casa, para você ter uma ideia, só não tem televisão no banheiro”. Num emprego que se tornou diversão, somente aumentou a frequência e o olhar com que assistia às produções. Afinal, eram os atendentes as principais referências dos clientes.

    “Uns 20 filmes por mês eu via. Tinha que pesquisar muito sobre eles em revistas, saber o que havia sido indicado às premiações”. Onde as promoções de locação eram dadas em dias, e não em dinheiro, Diva recorda casos de clientes que impressionavam pela quantidade de filmes que buscavam.

    “Uma vez uma senhora chegou na loja numa sexta e levou uns 20 filmes. Foi lá no dia seguinte, entregou 10 e queria mais 10 para entregar na terça. Mas não tínhamos mais lançamentos para ela, que assistia a todos! Às vezes até briga pelos filmes dava. Foi o que aconteceu com Titanic”.

    Onde a família era a única categoria

    Tendo transitado entre gêneros ao longo das três décadas em que esteve no ar, a Video Bretz tinha na família sua única categoria. Foi com 19 para 20 anos que Cátia Oliveira, agora aos 49, começou a trabalhar na empresa. O ano era 1998 e as locadoras ainda viviam sua época glamourosa: charme que, para ela, nunca deixou de existir.

    “Caí de paraquedas, mas aos poucos fui me apaixonando. Você começa a ver filmes não tão americanizados, filmes que te fazem pensar mais”. De ‘O Fabuloso Destino de Amélie Poulain’ a ‘Minhas Tardes com Margueritte’, Cátia cresceu junto a uma equipe jovem – que tinha Diva como a veterana – e desenvolveu uma análise crítica das produções.

    Apaixonada por fotografia, não deixou passar a oportunidade de registrar o dia a dia da loja e o guardar como recordação num extenso, rico e único material sobre a Bretz. Dona de uma memória fotográfica, lembra de clientes pelo número com que eram cadastrados, assim como o advogado Fabiano Quixaba, de 40 anos, recorda o letreiro neon da locadora.

    “Aquilo era o mais emblemático da Bretz. A gente passava e dava vontade de alugar na hora. Era muito legal!”. Cliente da locadora por 20 anos – período em que morou na 13 de maio, Fabiano rebobina a fita da infância e, quase que instantaneamente, volta a ter sua carteirinha na mão e a se ver com os amigos na fila pelo aluguel de Jurassic Park.

    “A cada final de semana a gente alugava um filme no nome de um. Ah, e tinha que retornar a fita rebobinada, porque se não pagava multa!”. De proprietário de uma locadora, Ernesto passou a vender filmes em VHS para outras empresas. Ele hoje detém uma distribuidora de cinema e é prova de que a Video Bretz foi digna de se rebobinar.

     

     

     

     

     

     

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