• Vale do Cuiabá: marcas da tragédia ainda são visíveis oito anos depois

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  • 12/01/2019 09:19

    A dona de casa Maria Angélica Nascimento, de 35 anos, ainda batalha para voltar à vida que tinha antes da tragédia de 2011, que atingiu o Vale do Cuiabá, na região de Itaipava. “Nós nunca mais fomos os mesmos. Quando chove forte, quase não dormimos. O rio enche e o medo de que invada as casas, ou que aconteça algo parecido, volta tudo de novo”, contou a moradora da Comunidade do Borges, um dos locais devastados pela chuva no dia 11 de janeiro de 2011.

    O desastre de 2011 fez 73 vítimas fatais e deixou 190 desabrigados. Arquivo/Tribuna de Petrópolis.

    Oito anos depois das chuvas que atingiram também as cidades de Teresópolis e Nova Friburgo, as marcas da tragédia ainda podem ser vistas nas casas, na estrada, no rio que corta o Vale do Cuiabá e, principalmente, no relato dos moradores. 

    O comerciante Lairton Teixeira de Carvalho, de 43 anos, passou a madrugada do dia 12 de janeiro de 2011 em cima de uma árvore no quintal de casa. “Eu sou muito grato, naquele dia foi Deus que nos salvou. No meu quintal tinha três árvores, duas foram levadas pela água. A que eu subi ainda está lá, o galho que fiquei segurando ainda está lá do mesmo jeito”, contou.

    Maria Angélica e Lairton fazem parte do grupo dos moradores que vêm tentando reconstruir a vida no local. Esquecido pelo poder público, a região do Vale do Cuiabá – incluindo Boa Esperança, Madame Machado, Benfica, Estrada do Gentio, Santa Mônica e Ponte das Arcas – quem não conseguiu auxílio dos governos estadual e municipal teve que arregaçar as mangas e recomeçar por conta própria.

    As marcas da tragédia ainda podem ser vistas nas casas, na estrada, no rio que corta o Vale do Cuiabá e, principalmente, no relato dos moradores. Alexandre Carius/Tribuna de Petrópolis.

    Em 2011, o desastre fez 73 vítimas fatais e deixou 190 desabrigados. Destes, pelo menos 120 famílias conta com o benefício do aluguel social. Uma solução provisória que já dura oito anos. A líder do Movimento do Aluguel Social e Moradia de Petrópolis, Cláudia Renata Ramos, conta que com o passar dos anos a situação das famílias só foi complicando cada vez mais. O Inea, responsável por indenizar as famílias que perderam as casas nesses locais, não cumpriu com o prometido. Algumas famílias que abriram mão do aluguel social e optaram pela indenização ou a compra assistida não receberam nada até hoje.

    Sem investimento por parte do governo estadual em habitação, e sem a recuperação das estradas, pontes e recuperação do rio que corta a região, quem mora no Vale do Cuiabá ainda tem sensação de isolamento. “Ontem passei mal e tive que pedir para o Corpo de Bombeiros o atendimento. Não tem quem chegue aqui nessa estrada de terra. Ficamos isolados, a gente fala quando acontecer uma emergência, mas ontem, por exemplo, aconteceu”, lamentou Maria Angelica, fazendo referência à estrada que dá acesso à sua casa. Batida de terra, a rua está com difícil acesso e ainda sem iluminação pública. O ponto de ônibus mais próximo fica a 10 minutos de caminhada.

    “Graças a Deus eu consegui recuperar muita coisa. Mas a maioria dos moradores, não. Os que conseguiram foi graças ao esforço deles próprios, porque tiveram pouca ajuda do poder público. Nos primeiros meses teve aquela grande mobilização, mas depois de todo esse tempo, foi esquecido”, disse Lairton.

    Num projeto formiguinha, o Programa Minha Casa Minha Vida começa a beneficiar os desabrigados

    O conjunto habitacional Vicenzo Rivetti é o primeiro conjunto do Programa Minha Casa Minha Vida na cidade. São 776 unidades habitacionais destinadas às famílias com renda mensal de até R$ 1,8 mil. O conjunto está com 97,5% concluído. No conjunto habitacional da Posse, apenas 24 unidades foram entregues em 2016 e tiveram que ser reformadas por apresentarem vazamentos e infiltrações. Outras 72 foram entregues em dezembro de 2018. A a previsão é que mais 48 unidades sejam entregues no fim de janeiro de 2019.

    De acordo com a prefeitura, a previsão é que 920 unidades sejam concluídas até julho deste ano. São 1.124 famílias beneficiárias do aluguel social no município, sendo 400 pagos pela prefeitura e 724 pelo estado. O valor é de R$ 500 por mês.

     “As famílias que têm o aluguel social esperam ansiosas pelas moradias. E as que não têm aluguel social estão à mercê, por não ter como pagar por uma moradia, e acabam voltando para as áreas de risco. Petrópolis tem um histórico de tragédias recorrentes. Desde 1981, pessoas perdem as casas e a vidas em áreas de risco”, destacou Cláudia. Para a líder do Movimento, as políticas públicas em favor dos moradores vítimas de chuvas na cidade devem ser eficientes. 

    Sistema de sirenes e educação Ambiental nas escolas fazem parte do Plano Verão

    Petrópolis possui hoje 234 áreas de risco alto e muito alto em todo o município. São 102 áreas de risco no primeiro distrito (Petrópolis); 39 no segundo (Cascatinha); 35 no terceiro (Itaipava); 32 no quarto (Pedro do Rio); e 26 no quinto (Posse). 

    Nesses locais há 20 conjuntos de sirenes do Sistema de Alerta e Alarme em 12 comunidades; Gentio, Buraco do Sapo, 24 de Maio, Alto da Serra, Bingen, Dr. Thouzet, Independência, Quitandinha, São Sebastião, Sargento Boening, Siméria e Vila Felipe. Segundo a prefeitura, os equipamentos são estados mensalmente. 

    A prefeitura também vem realizando o Defesa Civil nas Escolas – disciplina obrigatória na rede municipal. 113 escolas municipais já participaram e 8 unidades particulares. Ao todo, mais de 36 mil alunos fizeram atividades sobre os temas da Defesa Civil e Educação Ambiental. 

    Missa em memórias dos 8 anos das tragédias de 2011

    Hoje foi realizada, às 18h, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, na Rua Montecaseros, uma missa em memória dos 8 anos das tragédias de 2011. Ao final, será realizado um ato para lembrar as vítimas das tragédias na cidade desde 1981. 

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