• Tributo a Moacyr Miranda

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  • 02/12/2020 10:10

     

    Lá pelo dia 23 ou 24 de novembro, em página na Internet, vi uma notícia muito triste. Dizia que falecera Moacyr Castro Miranda. Para mim, um feito inacreditável, fora da normalidade porque o Moacyr que conheço é ser imbatível, de grande coragem por driblador de qualquer infortúnio. Eu somente esquecera de que o infortúnio denominado morte é imbatível e de suas garras ninguém escapa. Eis, então, que dei crédito à notícia e uma grande tristeza de mim se apoderou. Corri até minha estante de livros e peguei o volume “Há sempre lugar para uma Taça de Champagne”, delicioso relato de memórias editado pela família e por ele próprio no ano de 2011. Li de novo todo o trabalho, passando pela dedicatória que encaminhou às minhas mãos a sua taça de champagne: “Ao presado amigo Prof. Joaquim E. D. Santos, reconhecido nos tempos de esportista hoquista, como excelente patinador, envio, com um abraço, algumas linhas de momentos por mim vivenciados. Petrópolis, agosto de 2011. Moacyr Miranda”.

    Uma dedicatória que bem assinala a minha mais estreita ligação com Moacyr Miranda: a patinação e o hóquei sobre patins, em momentos mágicos de nossas vidas, quando frequentávamos o rinque Marowil e disputávamos partidas de hóquei sobre patins. Naquela oportunidade, Moacyr nunca deixava de assinalar a minha habilidade na patinação e o meu pouco talento como jogador de hóquei, apesar de haver conseguido e na mesma equipe que ele, o Atlântico Hóquei Clube, honrosos títulos locais. No calor da atividade, ele, Moacyr, nosso amigão Hélio Santos, Sr. e Eu, mantivemos por muitos meses,  na “Tribuna” e, em seguida, no “Diário de Petrópolis”, a coluna satírica e informativa “Patinando”, que assinávamos “Os patinadores desconhecidos” e que todas as categorias de praticantes e torcedores sabiam muito bem de quem se tratava. E ninguém podia fugir das gozações em sadias críticas. Tempos lúdicos e de grande companheirismo. Estive com Moacyr no curso de Direito da Universidade Católica de Petrópolis e, bem mais tarde, quando Moacyr assumiu a presidência do Serrano, exigiu minha presença como vice-presidente de comunicações, quando mantivemos a coluna “Notícias do Serrano”, tanto na “Tribuna” como no “Diário de Petrópolis”. Tive, no final do mandato, a honra de ser indicado pela Diretoria para proferir o discurso de saudação e inauguração da placa de regozijo pela excelente atuação de Moacyr naquela presidência.

    E viemos, pela vida, um acompanhando as atividades do outro e muitas vezes parávamos na rua 16 de Março para um papo ou um cumprimento mais apressado.  Moacyr era fiel às suas amizades sinceras, como sabia acautelar-se das pessoas e grupos com os quais não apreciava conviver. Ele era franco, objetivo, não guardava o dito de hoje para ser dito amanhã. Por tal característica – de batalhador incansável – era respeitado e admirado por fiéis amigos e seguidores, agindo sempre com honestidade e convidado e escalado à participação em importantes missões públicas.

    Uma outra aproximação nossa era a Mosela, onde vivemos a maior parte de nossas vidas com nossas famílias.

    Nos últimos anos Moacyr Miranda, sempre apaixonado pelo hóquei sobre patins, acompanhava e prestigiava Helinho Santos na sua epopeia de manter a atividade em Petrópolis e honrá-la em competições nacionais e internacionais. Helinho também partiu e, de ambos, fica a herança do esporte que se mantém vivo e de toda a trajetória que edificaram com muito amor, coragem, dedicação, desprendimento e crença.

    De repente senti vontade de calçar meus patins, caminhar até o rinque Marowil para lá encontrar Moacyr e Helinho Santos, junto com toda a rapaziada de nossos encantadores prélios, batendo estiques, fazendo girar a bolinha dura, arremessando ao gol nossas destrezas, caindo, levantando, evoluindo magicamente pela quadra como gigantes alados desprendidos do solo e ganhando as luzes da imortalidade. Sinto uma solidão em boa brisa, vejo vocês todos  em evoluções pela quadra, enquanto uma chuvinha fina bordada de ruço remete o quadro etéreo aos flocos de baixas nuvens que a tudo envolvem de inefável saudade.

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