• Todo passado é futuro

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  • 03/12/2016 12:00

    Em memorável sermão no Maracanã sobre semeadura e colheita, o Pr. Billy Graham bradou: “seu passado há de encontrá-lo!”. Guardei o alerta de 1974. Ao longo do tempo não só se mostrou verdadeiro, tantas as vezes em que dei de cara comigo e meus erros, como me ensinou que passados há que, por terem sido um agora malcuidado, ressurgem explosivos.

     Há dias a polícia evacuou um bairro em Berlim por causa de bomba com alto poder destrutivo. Da 2ª Guerra Mundial, acabada há 71 anos, estava numa escavação de construção civil. Problema recorrente na Europa, Japão e norte da África, onde vez em quando essas sementes de tragédia reaparecem. Como ocorre com minas terrestres, sórdida arma salpicada na Síria, Colômbia, Angola e tantos solos de guerras cruéis. Órgãos internacionais contam uns 70 países ameaçados pelos artefatos que mutilam e matam cerca de 20 mil pessoas por ano. Só no século XX foram plantadas 400 milhões de minas. Cerca de 110 milhões permanecem ocultas. Atos de ontem esperando vítimas incautas. 

     Vi gente incauta passar sofrimentos que podiam ser evitados com maior prudência nos atos de agora. Todo presente, um dia, será passado. E todo passado é futuro. Presente mal vivido pode ser mina terrestre, que fica lá, enterrada, até que um dia esse passado nos encontra nalguma esquina do futuro e traz dor e sofrimento. Como esqueletos no armário. Coisas constrangedoras e mal resolvidas ocultas no passado. Há quem tanto as amontoe que um dia o armário arrebenta em avalanche de ossos revolvidos. Esqueletos devem ser enterrados em tempo adequado e local próprio, e problemas devem ser resolvidos tão logo surgem ou adiados apenas até a busca das ferramentas de sua resolução. 

     Meter esqueletos no armário é atitude símile a “varrer sujeira para debaixo do tapete”. Gambiarra barata, a disfarçar problemas ou adiar soluções que custam caro depois. Presenciei adolescentes ontem negligenciados por pais desatentos ou frouxos. São escoadouros de dinheiro, em psicólogos, terapeutas, médicos e advogados necessários ao agora adulto desajustado, inútil ou infrator. Foi barato deixá-lo à própria sorte como módica é uma mina terrestre: só 5 dólares. Mas removê-la custa uns 3 mil. É grátis não fazer exame preventivo. Mas é dispendioso curar o câncer depois.

     Os programas para vencer os diversos tipos de dependência química e psicológica partem de princípios derivados da matriz dos Alcoólicos Anônimos. Dentre outras coisas, exigem não só o reconhecimento da perda do controle da própria vida mas também a necessidade de um sadio inventário de erros e acertos de contas com o passado. É o que permite o processo de cura. Admiro muito os guerreiros dos 12 passos. Pessoas que passam a viver bem o presente porque sabem que o bom amanhã disso depende. E gastam boa parte do seu hoje desativando as minas terrestres do passado. Assim se curam, renovam-se.

     Então, faça. Arrependa-se de algo que você sabe o que é. Telefone para alguém que você sabe quem é. Conceda perdão. Devolva aquele livro. Pague aquela conta. Vá ao médico. Faça aquela visita. Dê aquele abraço. Jogue algo fora. Enfim, desenterre as bombas das tuas grandes guerras passadas e as desative. Depois as esqueça. Sem plantar novas minas, avance. Como o apóstolo em Filipenses: “esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus”. 

    denilsoncdearaujo.blogspot.com

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