• Solidariedade entre os que têm parentes presos

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  • 12/09/2016 11:55

    Da necessidade de encontrar apoio no outro e da união por uma causa em comum surgiu a Associação de Mulheres Guerreiras: famílias a espera do milagre (Amugue). A iniciativa que é pioneira em Petrópolis e foi legalizada recentemente busca dar suporte as famílias que têm um ente preso. O movimento conta hoje com aproximadamente 400 guerreiras e Ivanete Pereira da Paixão foi quem teve a ideia de mobilizar pessoas que tinham em comum a dor e a esperança.

    Morena, como é conhecida, teve o filho preso aos 19 anos de idade acusado e condenado por tráfico de drogas. Há um ano e sete meses ele cumpre a pena que é de 10 anos e oito meses em regime fechado. A dificuldade em fazer a documentação para visita e as experiências que eram vivenciadas a cada descida ao presídio, no Rio de Janeiro. A cada descoberta as informações eram passadas por meio de um grupo, criado por Morena, nas redes sociais. O movimento cresceu e levou a ideia de montar uma ONG, porém devido ao alto custo e falta de recursos as guerreias conseguiram legalizar a associação. 

    “Eu tive problemas para fazer a carteirinha. Fui quatro vezes ao Rio sem sucesso e vi que outras pessoas passavam pelo mesmo transtorno. Muitas choravam e a preocupação é enorme. Eles entram sem nada no prédio, apenas com a roupa do corpo. Agora sabemos que não precisa da carteirinha para fazer ter o primeiro contato. Basta solicitar a assistente social”, conta. 

    A falta de infraestrutura em um momento delicado levou Morena a tomar atitudes precipitadas e nesta hora é preciso muito apoio e discernimento, pois segundo elas muitos se aproveitam da situação. “A necessidade de uma assistência para as famílias é grande e além disso, não há um núcleo de cadastramento na Região Serrana. É um momento desesperador quando recebemos a notícia. Vendi o que tinha para tentar contratar advogados, mas não adiantou pois tem muitos que só querem explorar a família”, revela. 


    Histórias: por trás do tráfico de drogas 

    Márcia Maria Farias, passou pela mesma situação que Morena, porém com o sobrinho que também foi preso por tráfico de dorgas. Ela contou que foi convidada para participar da associação pela líder do grupo e disse que o apoio da Amugue é fundamental. “Nos dá força para não desanimar. Eu já fiquei dois meses sem visitá-lo devido a uma depressão, mas hoje vejo que esses momentos são essenciais. É uma luta pois saímos de Petrópolis às 2h e às vezes enfrentamos filas de quatro horas. Mas a recompensa é ver a felicidade de quando chegamos para almoçar com eles. Converso muito com ele e quero que ele saia de lá um homem novo”, declara Márcia. 

    Muitas famílias também tem mais de uma pessoa na cadeia. Este é o caso de Vera Regina da Silva que chegou a visitar o marido e o filho, ambos presos por tráfico de drogas no Sertão do Carangola. “Meu marido ainda está preso e meu filho foi solto após 10 meses. Foram momentos muito difíceis porque não tinha a segurança de falar sobre o assunto com qualquer um. A família não é conivente com os atos, mas é julgada. Hoje a preocupação é que o meu filho seja reinserido na sociedade e consiga um emprego. Há seis meses ele foi solto e ainda não conseguiu serviço. Ele é um menino trabalhador e precisa uma nova chance”, diz. 


    Busca por parcerias 

    A Associação já conta com assistência jurídica do advogado Felipe de Castro Lourenço, que orienta e encaminhamento aos órgãos competentes. A psicóloga Edna Queiroga, que trabalhou no presídio Regional e Penitenciária de Segurança Máxima em Santa Catarina (RS), também faz parte do projeto. 

    A perita em psicologia forense retornou a Petrópolis há quatro anos e por meio de uma amiga conheceu Morena. Interessada pelo trabalho, Edna se ofereceu para ajudar as guerreiras. “Existe todo tipo de fragilidade e transtornos emocionais que necessitam de um suporte. O episódio da depressão, por exemplo é frequente”, fala. 

    Para as guerreiras há duas parcerias que precisam de urgência para serem firmadas. Uma é o transporte para visitas, pois elas não conseguem arcar com os custos. Há um ano e dois meses o transporte público, cedido pela Prefeitura, leva as guerreiras uma vez por semana ao presídio para visitarem seus filhos, sobrinho e maridos. Porém a quantidade de presos é grande e um esquema tem que ser montado para todos receberem a visita. 

    E a outra parceria envolve a reinserção dos ex presidiários na sociedade, já que segundo elas, na cidade não há um projeto, curso profissionalizante entre outros que incluam essas pessoas. 

    As parcerias competem ainda a sociedade civil, entidades governamentais e não governamentais e supermercados. É bem recebida a doação de até mesmo produtos com o prazo de validade curto. 


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