• Sirenes do Sistema de Alerta e Alarme permaneceram silenciosas em meio aos temporais

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  • 19/01/2020 10:35

    Nestes primeiros dezessete dias de janeiro foram mais de 600 ocorrências registradas pela Defesa Civil. A maioria dos casos (327) é de deslizamentos de terra. Foram 66 imóveis interditados. Só nos primeiros cinco dias do ano, o acumulado de chuvas chegou a 294 milímetros no Centro. E os protocolos preventivos não foram observados. Moradores de áreas com risco alto e muito alto denunciam as falhas no monitoramento e acionamento das sirenes.

    No dia 02 de janeiro, a cidade ficou debaixo d’água. Ocorreram alagamentos em diversas ruas do Centro e o índice pluviométrico na Rua 24 de Maio chegou a 148 milímetros em quatro horas, segundo boletim da Defesa Civil divulgado às 18h20. Ainda segundo a Defesa Civil, as sirenes do Morro do Estado e Rua Nova foram acionadas às 17h05, por conta do grande acumulado no local. Mais de uma hora após o início do temporal. O alerta oficial da Defesa Civil Municipal, que é feito via mensagem do aplicativo whatsapp em decorrência de chuva forte, foi recebido pelos usuários depois de quase três horas de chuva intensa. 

    Moradora da comunidade 24 de Maio há mais de 30 anos, a aposentada Maria José Vila Nova disse que ficou assustada com o volume de água que descia pela Rua Nova. “A rua sumiu. Desceu de tudo, todo o lixo que estava na parte de cima da rua desceu com a água”, disse. Segundo a moradora, a sirene tocou após o início da chuva do dia 02 de janeiro por horas, e só parou de tocar depois que a Defesa Civil foi até o local. “Eu até achei que estava quebrada, porque tocou sem parar. E depois, nas chuvas seguintes, até essa última (do dia 08 de janeiro) não tocou mais”. Na chuva do dia 08, o acumulado de chuvas na Rua 24 de Maio, segundo boletim da Defesa Civil divulgado às 15h30, chegou a 201,8 milímetros em 96 horas. 

    O protocolo de acionamento das sirenes funciona com dois tipos de alertas, o preventivo, que alerta sobre a possibilidade de chuvas fortes; e o de risco de deslizamentos generalizados na comunidade, para que a população seja evacuada da área. Desde a sua implantação, em 2014, o acionamento segue o protocolo de monitoramento de acúmulo de chuvas em horas. A partir de 40 milímetros por hora, somado ao acumulado de, no mínimo, 70 milímetros nas últimas 24 horas, é considerado estado de alerta para que os moradores em áreas de risco sejam retirados destes locais e encaminhados para os pontos de apoio.

    Mas no Quitandinha, nas chuvas do dia 08 de janeiro, isso não aconteceu. Ainda sem o acionamento da sirene, a moradora Michele Wilbert saiu de casa na Rua Minas Gerais, pouco antes do deslizamento de terra que atingiu a casa vizinha. “Aqui só escutamos as sirenes quando são feitos os testes. Em nenhuma dessas chuvas teve acionamento. Eu saí de casa porque escutei o estrondo da terra descendo, estava com as crianças em casa. Fiquei com medo e vim para a casa de vizinhos”, contou. A sirene mais próximo à Rua Minas Gerais é a instalada na E.M. Governador Marcelo Alencar, no Espirito Santo.

    Moradores próximos confirmaram que a sirene só é acionada nos dias de testes. “Não lembro da última vez que tocou, a não ser nos testes. Nestes dias de chuva, não tocou nenhuma vez”, disse o comerciante José Valdir. 

    O município possui 20 conjuntos de sirenes do Sistema de Alerta e Alarme em 12 comunidades: Gentio, Buraco do Sapo, 24 de Maio, Alto da Serra, Bingen, Dr Thouzet, Independência, Quitandinha, São Sebastião, Sargento Boening, Siméria e Vila Felipe. O equipamento pode ser acionado à distância, pela internet, e manualmente, por meio de chaves. Todo o conjunto foi instalado pelo governo do estado, que faz a sua manutenção. 

    Além das sirenes, o município conta ainda com o monitoramento dos rios feito pelo Inea, que mantém 19 estações no município. São oito estações hidrometeorológicas que fazem o monitoramento da chuva e nível dos rios Quitandinha, Palatinato, Santo Antônio, Piabanha e Cuiabá. E onze estações pluviométricas, que fazem o monitoramento da chuva. O Inea monitora as chuvas em todo o estado. Segundo o instituto, as defesas civis municipais e outros órgãos recebem avisos quanto à eminência de chuvas intensas, associadas ao comportamento dos rios monitorados, conforme cinco estágios de classificação: vigilância, atenção, alerta, alerta máximo e transbordamento – que se referem às condições dos rios. 

    Mas na quarta-feira, dia 08 de janeiro, o Bingen não foi alertado. Foram mais de dez carros arrastados pela correnteza, e lojistas que registraram perda quase total de equipamentos e mercadorias. Um prejuízo material que moradores e empresários da localidade ainda contabilizam. Neste mesmo dia, na Rua João Xavier, o acumulado de chuvas chegou a 96,4 milímetros por hora, segundo o boletim da Defesa Civil divulgado às 17h. A sirene da localidade não foi acionada. 

    Ainda que haja ferramentas para o monitoramento, os protocolos preventivos do plano de contingência não estão sendo observados. Para o engenheiro e professor do Cefet Luís Carlos Dias de Oliveira, a perda de corpo técnico na Prefeitura, especialmente na Defesa Civil, pode custar caro para a população. “Não tem técnico especializado para interpretar os dados, recebem a informação e não tem gente especializada dentro do município para fazer esse monitoramento. O município tem universidades, tem o próprio LNCC (Laboratório Nacional de Computação Científica) com profissionais especializados, e a Prefeitura não tem”, disse. 

    Para o engenheiro, as ferramentas de monitoramento e previsão geológica deveriam ser geridas pelo município. “Petrópolis tem que ter uma Defesa Civil que seja proporcional ao problema que o município enfrenta. As chuvas devem ser acompanhadas em tempo real. São medidas preventivas que não dependem de obra. Previsão meteorológica, controle urbano, fiscalização fazem parte de um programa de prevenção e monitoramento”, disse Luís Carlos. 

    Em dezembro, Petrópolis recebeu a doação de um pluviômetro semiautomático do governo do estado, que deve ser instalado na E. M. Senador Mário Martins, no Caxambu. Segundo a Prefeitura, a doação foi feita pelo trabalho desenvolvido dentro do Defesa Civil nas Escolas. A Prefeitura foi questionada sobre quem será responsável pelo equipamento, mas não obtivemos resposta. 

    A Prefeitura também foi questionada sobre quais são os protocolos de alerta e informou que as sirenes são acionadas levando em consideração os acumulados recentes, entre 24 e 96 horas – associados à quantidade de chuva na última hora. Os protocolos são iguais para todos os bairros que apresentam maior risco geológico (primeiro distrito). Na Estrada do Gentio e no Buraco do Sapo, as sirenes contam com tecnologia de alerta de inundações e de quantidade de chuva simultaneamente. O acionamento acontece quando o Rio Santo Antônio chega a 3 metros. O acompanhamento dos acumulados de chuva é feito pelo setor técnico da Defesa Civil.

     

     

     

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