• Setor moveleiro de Petrópolis dá sinais de recuperação e deixa empresários otimistas

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  • 14/05/2019 11:18

    O estado do Rio de Janeiro ocupa o segundo lugar no ranking de produção do setor moveleiro no país. Responsável por empregar centenas de trabalhadores, a construção de móveis e utensílios domésticos enfrentou uma dura crise há anos e que agora mostra sinais de uma tímida recuperação, que deixa animados os empresários petropolitanos, apesar de o quadro econômico no país não ser tão favorável no momento.

    Para se ter uma noção do quão importante é a atividade para a economia local, dados fornecidos pela Firjan apontam para a estabilidade da média de contratações em Petrópolis em relação ao estado do Rio. De 10 anos para cá, a Cidade Imperial é responsável por 35% da mão de obra contratada em todo o estado do Rio. Embora tenha havido nesse período uma diminuição de empregados no setor, o município manteve o patamar até os dias de hoje.

    A força petropolitana na indústria de móveis, no entanto, remete à história política e econômica no país. Quando a Família Imperial se estabeleceu por volta de 1820, trouxe para cá marceneiros especialistas em móveis requintados, com estilos clássicos, que predominavam na Europa. Logo, foram formados os primeiros profissionais brasileiros que, a princípio, atendiam a emergente classe burguesa que tinha condições de pagar por esses materiais caros para a época. Daí começaram a surgir, por exemplo, os chamados móveis coloniais, usados até os dias de hoje.

    Número de estabelecimentos e de funcionários em Petrópolis e no estado do Rio (2009 a 2017). Fonte: RAIS MTE

    De lá para cá, muitas coisas mudaram. O sobe e desce da economia atingiu em cheio a categoria, sendo que mais recentemente prejudicou muito um dos bairros que, outrora, era até chamado de Polo Moveleiro: o Bingen. Embora ainda haja lojas e até algumas pequenas fábricas, a crise diminuiu o lucro do empresariado e, consequentemente, engrossou a fileira de desempregados. Porém, uma boa notícia surge no horizonte para o setor: pequenos sinais de recuperação dão fôlego aos que acreditam no potencial de crescimento industrial.

    “Boa parte dos setores da economia no Brasil sente o peso da crise econômica, mas o momento é de recuperação e o setor moveleiro não está fora disso”, aponta o especialista em madeira da Firjan, Júlio Cézar Gaia, que conversa habitualmente com empresários sobre a melhora sensível nos últimos anos. Isto ocorre, segundo ele, em meio à forte concorrência existente em outros estados, que também são fortes no âmbito da indústria. Como resposta a isso, Gaia observou que houve no Rio um grande investimento em inovação de design.

    O caminho da inovação, aliás, foi tomado por uma das famílias tradicionais que trabalha na manufatura de móveis na cidade. Com mais de 30 anos no mercado, Noel se transformou em uma marca da indústria de móveis, não apenas por conta de sua produção, mas pela evolução do negócio, que o transformou em uma referência nacional. Só que a vida nem sempre foi só de bonança. Segundo Daniel Noel, empresário e diretor do Sindicato das Indústrias de Marcenaria de Petrópolis, foi preciso se reinventar para não apenas sobreviver no mercado cada vez mais competitivo, mas transformar o negócio em algo reconhecidamente nacional.

    “Meu pai, Paulo Noel, começou com uma fábrica há mais de 30 anos. A nossa produção já chegou a contratar mais de 70 funcionários, mas houve uma decadência que nos obrigou a inovar, abandonando apenas um determinado estilo e passamos a investir em design. As crises econômicas nos prejudicaram bastante, não o suficiente para fechar nosso negócio. Decidimos apostar nas novidades e hoje possuímos nossa indústria e lojas funcionando plenamente para atender a todo o Brasil”, explicou Daniel. 

    Para tentar explicar o sobe e desce no negócio, Noel contou que, em particular, o ano de 2014 registrou uma queda brusca nos negócios do setor moveleiro, a tal ponto de haver demissões que, em três anos, por exemplo, foi superior a 15 por cento. Tomando como base os números do sindicato, havia 605 trabalhadores e, em 2017, caiu para 435. Observou, também, que foi registrado um aumento na informalidade, pois muitos dos funcionários demitidos montaram seus próprios negócios, sem muitas vezes pagar os impostos e encargos previstos na lei brasileira.

    Poltrona Lina, criada por Leonardo e Fernanda Mangiavacchi. Foto: Reprodução/Facebook Elon Móveis de Design

    Por outro lado, o investimento na informatização e em novos desenhos de móveis trouxe dividendos incríveis que deram a Petrópolis a condição de expoente nacional em design e interiores. Seus móveis foram premiados: a poltrona Lina, da Elon Móveis de Design, genuinamente petropolitana, roubou a cena em 2018 em uma das maiores exposições nacionais do setor: criado em 1988 pelo Sindicato das Indústrias de Mobiliário de Bento Gonçalves (Sindmóveis). 

    É um projeto que nasceu no coração da Serra Gaúcha para atender às demandas de inovação do setor moveleiro local à época, mas logo ganha caráter nacional e, depois, internacional, contando com uma participação massiva de concorrentes da América Latina. Mais que uma vitrine de tendências, o Prêmio Salão Design é um canal de integração entre designers e indústrias, premiando o talento e levando ao mercado peças com diferencial competitivo. Nesses 30 anos de realização, são mais de 15 mil histórias contadas em 15 mil projetos inscritos até hoje.

    Inspirado em sua própria história, empresário enxerga crescimento – Que a estética dos móveis dão uma nova cara a interiores de residências e escritórios, todo mundo já sabe. Mas ela também transforma vidas e para muito melhor: há 20 anos, o marceneiro Paulo Roberto Esteves começou varrendo chão de obra e como marceneiro autônomo. Sem dinheiro, mas com muita vontade de crescer. Encarou os altos e baixos da economia sem muitos recursos e hoje possui a ANBI Marcenaria e Design e mais duas lojas. Tudo erguido com muito trabalho e investimentos, de acordo com ele. 

    Na Estrada do Carangola, o hoje bem-sucedido empresário possui sua indústria com 21 funcionários e com bom muito bom humor afirma que está otimista com o crescimento da indústria moveleira em Petrópolis, em partes graças à chegada de Jair Bolsonaro à presidência da república.

    “Hoje, a nossa expectativa para o setor é de crescimento, até porque estamos muito animados com a eleição de Bolsonaro. Eu já vejo melhora. Só acho que ele não pode errar. De qualquer maneira, planejo fazer melhorias no meu negócio e acredito que crescerá em Petrópolis já a partir deste ano”, disse Paulo Roberto, um ex-militar que apostou tudo num negócio em que produz móveis de acordo com o gosto do cliente. 

    Como prova de que os homens de negócio locais estão apostando na retomada do crescimento, o mais veterano da praça é um belo exemplo de como acreditar naquilo que o fez uma outra importante referência na construção de móveis. A RBR, cuja existência já ultrapassou quatro décadas, deu uma aula de como é possível ignorar uma crise e seguir investindo no negócio. Na rua Paulo Barbosa, Centro Histórico, o veterano Antônio Roberto da Silva, conhecido na sociedade como “Seu Roberto”, inaugurou um salão no dia 25 de abril deste ano com mais de mil e 100 metros sobre a loja que já existia há 43 anos.

    “O país atravessa uma crise que atinge a todo mundo. Mas acredito no profissionalismo de cada um na tentativa de vencer essa crise. Eu fiz a minha aposta em oferecer ao público uma variedade de móveis e utensílios domésticos que as pessoas vão gostar. Se eu achasse que não valia a pena, não teria feito esse investimento, que gerou mais seis empregos entre montadores e vendedores”, finalizou “Seu Roberto”, que se intitula um otimista nato. Dá para perceber isso.      

    Família de ex-Seleção Brasileira foi pioneira no país

    O setor moveleiro petropolitano já foi uma referência nacional. E, por incrível que pareça, a influência da Itália no estilo que fora adotado no município rendeu bons negócios para uma família que emigrou para cá trazendo não apenas na bagagem a novidade na construção de móveis, mas também um personagem que também fez história com a seleção brasileira de futebol.

    Tudo começou com uma linda história de amor, em que Affonso Canalli, original de Milão, se casou com Lucinda Demarchi, esta natural de Verona. Ambos tinham muita experiência na fabricação de móveis de vime – uma novidade bastante interessante na Europa -, e decidiram juntar as malas para tentar implementar o negócio no Brasil. Eles se mudaram para a cidade mineira de Juiz de Fora na virada do século 19 para 20.

    Do romance, Affonso e Lucinda tiveram cinco filhos. Por decisão de ambos, a família logo se transferiu para Petrópolis, para onde trouxeram a novidade no ramo de móveis. Eles montaram uma das primeiras fábricas de móveis de vime do Brasil e logo o negócio ganhou corpo com exportações para todo o país. Logo a Cidade Imperial se transformou em um ponto desejado para esse negócio, que foi muito bem-sucedido durante décadas.

    Vime é um material muito usado desde o século 19, principalmente na Europa, onde encontrou um terreno fértil para concorrer com móveis clássicos e produzidos a partir da madeira bruta. São originários de varas moles e flexíveis de origem vegetal, as quais têm como características o trançado, com várias formas de usos na manufatura de cestos e móveis. São usados outros materiais gramíneos, como canas e bambus, e galhos, desde quer finos e flexíveis.

    Desde a implementação da fábrica em Petrópolis, os Canalli não abandonaram suas raízes e a segunda geração da família mantém os negócios em outros estados. Em uma delas, lojas com diferentes móveis de design clássico e moderno são vendidos na cidade de Araras, em São Paulo. Por outro lado, o legado deixado ao país pelo casal italiano foi bem além da inovação para a época e chegou ao campo do futebol.

    Dos cinco filhos, Affonso e Lucinda tiveram um que não queria saber muito de construir móveis. Ele se chamava Heitor Canalli, nasceu em Petrópolis no dia 31 de março de 1910. Sua paixão estava longe de ser um fabricante de móveis. Na realidade, o futebol era o amor da sua vida. A tradicional fábrica Canalli, portanto, era algo fora de cogitação na sua vida, pois em 1927, jogando pelo Internacional, do Alto da Serra, ajudou o Carijó a se tornar campeão municipal de futebol. Em seguida, mudou de ares e vestiu outra camisa alvinegra: o Petropolitano. 

    O seu talento para o futebol logo chamou a atenção do Botafogo, que o contratou de imediato. Em 1930, fez sua estreia pelo Glorioso e quatro anos mais tarde disputou a Copa do Mundo, na Itália, país de seus antepassados onde, inclusive chegou a jogar mais tarde pelo Torino. No dia 21 de julho de 1990, morreu em Petrópolis. 


    Apesar dos altos e baixos, existe uma previsão de crescimento

    Apesar de o Banco Central ter divulgado um relatório em dezembro do ano passado dando conta de que a economia brasileira vai se recuperar gradualmente, os números do primeiro trimestre deste ano vieram abaixo do esperado. Ainda assim, a instituição ainda aposta que o país vai crescer 2,4%, mesmo com o recente alerta do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre uma desaceleração mundial da economia e isto, claro, impacta os negócios do setor moveleiro.

    Como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Ibge) não tem os números deste ano sobre o desenvolvimento da indústria de bens duráveis a nível nacional (que incluem os móveis), segue a expectativa positiva. No entanto, no ano passado o setor conviveu com altos e baixos, sendo que a situação se complicou muito entre os meses de abril e maio, quando ocorreu a greve dos caminhoneiros, que empurrou o Produto Interno Bruto (Pib) para baixo em praticamente todas as áreas da economia. E neste ano, o problema em Brumadinho, em Minas Gerais, gerou apreensão nos negócios da categoria.

    Os contratempos não foram suficientes para tornar a economia da indústria moveleira negativa. Pelo contrário. A reboque da economia em geral, a indústria moveleira teve um salto de 5,5% em relação aos números apurados em 2017. O último número divulgado pelo Ibge, especificamente em outubro passado, a alta foi tímida e apenas de 0,9%. 

    Para aqueles empresários que trabalham com produtos voltados para a exportação, 2018 foi bastante positivo: a variação, segundo dados oficiais, foi para cima e alcançou 16,5%. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel), as exportações cresceram mais de 20% em comparação ao ano passado. Segundo a Secretaria de Comércio Exterior, as exportações somaram US$ 35 milhões. 

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