• Sem recursos, DER abandona a estrada da Serra Velha

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  • 15/01/2018 16:00

    Quem opta por sair de Petrópolis utilizando o trajeto que passa pela RJ-107, ou Serra Velha, como é mais conhecida, é obrigado a enfrentar um cenário de total abandono. Logo no início do trajeto, a placa com a descrição Serra Verde Imperial, está quebrada e pichada, dando uma prévia dos problemas que o motorista vai enfrentar ao longo do trajeto. A estrada construída em 1841, pelo major engenheiro alemão Júlio Koeler, a pedido do Imperador D. Pedro II, como principal ligação entre o Porto da Estrela, no Rio de Janeiro, e a Fazenda Córrego Seco, atual Petrópolis, parece que foi esquecida pelos órgãos públicos. 

    Logo na primeira curva, na Lopes Trovão, apesar de ter espaço para a via de mão dupla, dois veículos não conseguem passar ao mesmo tempo. Bem no meio da curva abriu uma enorme cratera. O buraco coberto com pó de pedra, colocado na tentativa de tapar o buraco, levanta mais poeira do que ameniza a depressão da pista. Os motoristas precisam frear e passar com cuidado, porque se escorregar pode bater em outro veículo ou, acontecer o pior, descer encosta abaixo. 

    “Muitas vezes são os próprios moradores que tapam os buracos. Eu sou um, que já tapei várias vezes esse buraco perto da minha casa. Eu evito descer a Serra porque sempre quebra alguma peça do meu carro”, lamentou o morador Alan Brand.

    Em alguns minutos de conversa, Alan listou cerca de cinco pontos críticos, que segundo ele, os buracos já são tão antigos que já até decorou a localização. O pior é a noite, em vários pontos não há iluminação pública, o motorista precisa redobrar a atenção para não cair em um buraco. 

    A falta de capina é um outro agravante. O ponto mais crítico fica entre a localidade conhecida como Horta e o ponto final do ônibus que faz a linha Meio da Serra, da empresa Petro Ita. A vegetação está tão alta que impede totalmente a visibilidade dos motoristas. “O mato toma conta até da rua. Não dá para ver o carro que está vindo, quando você vai ver já dá de cara com o outro carro vindo”, disse um outro morador. 

    A Estrada Serra da Estrela, como também é chamada, liga o bairro Alto da Serra, em Petrópolis, a Vila Inhomirim, em Magé. São 14 km de extensão todo em paralelepípedos. A rodovia é muito procurada por motoristas como rota para escapar do pedágio cobrado pela Concessionária Concer na BR-040. Passam todos os dias carros de passeio, caminhões de porte grande e pequeno, e ônibus, municipais e intermunicipais. 

    Só na empresa Trel – empresa responsável pelas viagens intermunicipais para cidades da Baixada Fluminense, como Magé e Duque de Caxias – são 25 coletivos passando pela via todos os dias. Cerca de 160 viagens (ida e volta) diárias. A empresa Petro Ita que oferece duas linhas de ônibus para o Meio da Serra, faz em média 1.849 viagens partidas do bairro, e 1.735 viagens partindo do Centro da cidade. A empresa informou que só no mês de dezembro registrou 11 quebras devido à precariedade da via. 

    “O estado da rua nos preocupa demais. Quando eu estava grávida morria de medo de andar nos ônibus aqui, tinha medo do ônibus cair em um buraco. Uma vez isso até aconteceu, o motorista do ônibus não conseguiu desviar, caiu em um buraco e o ônibus quase tombou”, lembrou, com pesar, Raquel Dolaval. 

    A Estrada histórica era o principal elo para chegar às Minas Gerais e tinha grande importância econômica na época de sua construção. Agora, infelizmente, só restou o esquecimento. A rodovia é tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac). E toda área de vegetação é preservada pela APA Petrópolis/ICMBIO – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. O Inepac foi questionado sobre a falta de manutenção da via, mas até o fechando desta reportagem não recebemos resposta. 

    Quem administra a rodovia é o Departamento Estadual de Estradas de Rodagem (DER-RJ), que também foi consultado sobre o problema. Em nota, o órgão informou que “com os recursos que entram o DER-RJ tenta ao menos tapar os buracos. Mas diante da crise financeira o órgão não tem previsão de obras para melhoria definitiva da via”.

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