• Saúde da mulher

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  • 20/09/2020 00:01

     

    Nesta semana participei de um bate-papo com diferentes aparelhos municipais que cuidam da saúde da Mulher. Para quem não sabe, sou uma das conselheiras do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher – COMDIM. Sou uma novata, uma aprendiz. Há nesse Conselho mulheres que atuam e lutam em prol dos nossos direitos há mais de 10 anos.

    Independente de partidos políticos e ideologias, a posição dos presentes manteve-se apartidária. A questão da Mulher foi levada a sério como deveria ser. Assim sendo, a discussão transcorreu em alto nível. Um dos problemas mais ressaltados foi a falta de informação, o desconhecimento por parte de muitas mulheres de todos os aparelhos municipais à sua disposição. Esse problema, contudo, é o mais fácil de ser solucionado.

    Quando digo aparelhos municipais refiro-me àqueles que são ofertados tanto pela sociedade civil quanto pelo poder público. São muitos e trabalham incansavelmente, porém ainda não são suficientes ou regionalmente mal distribuídos, além de horários não compatíveis com a mulher que trabalha fora. Em Petrópolis, as mulheres são mais de 52% da população (os dados não estão atualizados, são do censo do IBGE, 2010). Este índice se repete entre os eleitores, entre a população de idosos, ou seja, nós mulheres somos maioria!

    Nada mais justo do que ampliarmos a preocupação com os nossos direitos e com a nossa saúde. Segundo os dados do IPEA (2020) mais de 34 milhões de mulheres brasileiras são financeiramente responsáveis pelos seus lares. Os motivos são diversos e vão desde o abandono do lar pelo esposo até a opção de se manter sozinha, com filhos ou sem filhos. Há também nessa estatística, lares que são mantidos pelas aposentadorias das avós. No entanto, essa mulher tem se sobrecarregado dentro e fora do lar e, muitas vezes, o sistema de saúde não está disponível na hora em que ela mais precisa.

    Aqui também não falo apenas de Petrópolis, falo da maioria das cidades brasileiras. Os postos de saúde, em geral, não abrem aos finais de semana, nem mesmo aos sábados. A marcação de consultas e exames permanece quase impossível via telefone, pois o agendamento é feito em um único dia do mês e para quando tiver vaga. Isso sem falar na falta, carência, ausência de profissionais de diferentes áreas da medicina para atendimento multidisciplinar à mulher. Caso necessário, a mulher precisa buscar apoio nas emergências de hospitais, quase sempre lotados. O atendimento nas UPAS (onde tem) não anda bom das pernas, falta quase tudo (mesmo antes da pandemia), principalmente, depois que foi terceirizado e entregue nas mãos de OSs – Organizações Sociais.

    Para quem não sabe, essas OSs são escolhidas por indicação política, sem qualquer obrigação legal de abertura de licitação e/ou concorrência. Basta ser indicada por um político!

    Mas, voltemos à mulher. Vamos comentar sobre a saúde da mulher com mais idade. Há uma ambiguidade nas orientações. Ao mesmo tempo em que as idosas têm, legalmente, um atendimento prioritário em determinadas circunstâncias, em outras, as mais jovens são prioridade. Isso mesmo! O protocolo internacional ordena que, em situações de risco, aqueles em idade fértil e produtiva sejam socorridos primeiro. Nosso sistema de saúde é signatário de protocolos internacionais.

    Como resolver este impasse? Políticas públicas diferenciadas. Deveria haver um atendimento multidisciplinar específico para mulheres com mais de 50, 60 anos. Inclusive em espaços diferenciados. Cada município faria conforme as demandas de sua população. Assim, não haveria conflitos entre os protocolos.

    Outro fator determinante da saúde da mulher diz respeito à questão salarial. No Brasil, embora as mulheres sejam mais qualificadas, pois estudam mais que a maioria dos homens (Pnud, 2019), elas ainda recebem salários menores (IBGE, 2019). Em geral, a mulher estuda mais de oito anos, e os homens, na média, estudam apenas 7,5. Já a comparação para a estimativa salarial é por equiparação de função. Às vezes, dentro de uma mesma empresa, homens e mulheres com função e responsabilidade idênticas recebem salários diferentes. Este é outro fator preocupante e causador de estresse entre outros males.

    Eu pergunto então: se a mulher é mais qualificada, por que recebe um salário menor? Não vou nem citar as características femininas e suas respectivas habilidades, pois podem dizer que estou sendo tendenciosa. Também optei por não tocar no assunto da jornada dupla ou tripla e abstive-me de falar na violência contra a mulher, que já foi tema de um artigo publicado.

     

    Está na hora de olharmos com mais carinho e atenção para as nossas mulheres, guerreiras incansáveis. Todavia, precisam mais do que nunca do nosso carinho, afeto e dedicação.

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