• Salvemos Petrópolis

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 26/08/2020 09:30

     

    por Joaquim Eloy dos Santos, escritor

    Petrópolis é um recanto do planeta ainda não descoberto por uma parcela da população fixa, que pouco ou nada conhece de sua história e dos personagens que a estruturaram desde a fundação em 1843. O município ostenta invejável potencial turístico edificado por titulares do império e da república, bem como uma seriação de equívocos urbanos que são marcos do desordenado sistema nacional de ocupação do solo. Sabe-se que por aqui temos uma cidade planejada a qual, infelizmente, pouco guarda ou usa com inteligência tal rara benesse, permitindo-se a gradativa destruição da natureza em favor de projetos de novas ocupações sejam em áreas nobres, com projetos monumentais ou em elevações que recebem as sobras da planície edificada, ambas rasgando impiedosamente o patrimônio florestal, riqueza que atraía os colonizadores nobres ou oriundos da classe de trabalhadores espoliados de suas vidas nas terras europeias de origem e até do próprio território nacional.

     

    A cidade e suas áreas vizinhais, aqui denominadas quarteirões, expandiu-se como região de refrigério de famílias afetadas pelas canículas dos rigorosos verões cariocas, como atraiu famílias que viviam no entorno político, em se elegendo Petrópolis como capital de verão do país e do estado do Rio de Janeiro, ampliando a área da antiga Corte Imperial e depois Distrito Federal, transformando a bucólica estância da vilegiatura em um complexo urbano composto por um centro histórico de vida comercial e bairros residenciais nos beirais dos riachos à frente e pela morraria salpicada de construções formadoras de um leque visual surrealista. E, recordar, a fase da implantação industrial, quando estabelecimentos de porte, edificaram prédios majestosamente amplos, represaram os filetes de águas, funcionando durante algumas décadas porém rendendo-se todos à desestruturação ocorrida no múnus político, largando patrimônios imobiliários gigantes para trás, hoje quase todos abandonados e alguns ridiculamente ocupados sem critérios de mercado, coisa que por aqui ninguém cuida muito ou tem interesse em resolver administrativa e politicamente.

     

    Tem sido o planejamento político o maior responsável pela desorganização municipal, entrando e saindo prefeitos e auxiliares mais preocupados com as urnas eleitorais do que, efetivamente, com o planejamento seguro em benefício da salvação municipal futura a qual, no momento, é o turismo.

     

    Turismo? Sim, visitas a bens históricos e culturais ocorrem; muitos turistas, daqueles apressados do nada ver, rodam em bandos daqui para ali e vão embora assim que o sol se recolhe por detrás dos morros. É preciso segurá-los por mais alguns dias para que saboreiem as nossas ofertas e deixem seus trocados na sociedade local.

     

    Quando elaborarmos uma política cultural séria e atraente, como já existe uma Bauernfest, como exemplo; quando usarmos o Quitandinha para eventos de efeitos cinematográficos; quando mostrarmos os bens urbanos com olhos brilhantes de entusiasmo e os históricos com encenações criativas e retornarmos às “vitórias” com belos cavalos circulando por entre o casario nobre, conduzindo embevecidos visitantes, quem sabe salvaremos Petrópolis?

    Últimas