• Ruptura no túnel pode ter causado cratera, aponta relatório do Ibama

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  • 19/11/2017 08:00

    A cada dia que passa fica mais evidente para os especialistas a relação entre as escavações do túnel da nova subida da serra e a cratera que engoliu uma casa há dez dias, às margens da BR-040, na Comunidade do Contorno. 

    Apesar da Concer ainda não ter admitido oficialmente que a obra tenha sido responsável pelo buraco, um relatório feito por um grupo de trabalho envolvendo engenheiros, geólogos e órgãos públicos, a pedido do Ibama e do Ministério Público, revelou dados alarmantes sobre a situação. No documento, geólogos afirmam que uma ruptura no teto teria "absorvido o solo acima como um funil". O texto diz ainda que pequenas partes do túnel já haviam se desprendido anteriormente, e que o túnel só não desmoronou antes porque a quantidade de chuva dos últimos meses não foi o suficiente. Ainda de acordo com o relatório, o tipo de rocha que compõe a região dificulta a adesão do concreto, o que acaba se tornando um grande obstáculo no trabalho de estabilização da estrutura. 

    Procurado pela Tribuna, o geólogo Johannes Stein, que participou da obra e foi um dos membros da equipe que produziu o relatório, disse que todas as análises de dados coletados foram entregues ao Ibama, conforme exigências feitas pelo próprio órgão e pelo Ministério Público. Para ele o problema maior foi a inundação do túnel. “Fizeram toda uma classificação do maciço rochoso na época da construção. A surpresa foi que o túnel encheu de água e isso não estava previsto. Ele não foi preparado para água. Foi construído e estava sendo preparado para ser arejado, ventilado e receber fluxo de veículos pequenos. A água foi uma surpresa que não deveria ter acontecido. O túnel é inclinado, por conta dessa inundação acabou virando um grande reservatório de água”, explicou Stein. 

    O local onde uma casa foi engolida e outras dezenas de imóveis foram interditados está numa área considerada vulnerável a desastres naturais, que já era monitorada pela Defesa Civil antes da construção do túnel. A região fica numa zona íngreme entre as reserva biológica do Tinguá e a Área de Proteção Permanente (APA) de Petrópolis, que deveria ser protegida e monitorada frequentemente. Em audiência na 4a Vara Cível de Petrópolis, na última semana, a Concer mostrou que tinha conhecimento disso. E mesmo assim o local foi escavado. “É um absurdo. Eles sabiam que estávamos numa área de risco e mesmo assim eles fizeram a obra e depois deixaram jogado. Não poderiam ter feito isso com a gente”, desabafou a moradora do Contorno Vanderléa Monteiro. 

    No início da semana a concessionária fez uma inspeção com um equipamento subaquático, percorrendo 675 metros desde o desemboque do túnel, no Duarte da Silveira, até o local da cratera, onde a estrutura foi bloqueada pelo desmoronamento, o que evidencia ainda mais a relação das escavações com o acidente. 

    O Ministério Público Federal (MPF) determinou que em um prazo de 20 dias a Concer informe à Defesa Civil de Petrópolis qual a extensão dos danos causados pela escavação do túnel no Bingen. Com documentos e laudos, a Defesa Civil quer garantir que não há riscos na região de entorno. “Queremos, baseados em laudos técnicos e sondagens, garantir que está afastado risco no Capela, Bingen e Duques – onde houve movimentação de construção da nova pista de subida da serra – em especial no trecho do túnel que teria 4,6 quilômetros pelo projeto da Concer”, afirma o secretário de Defesa Civil, Paulo Renato Vaz.

    A  empresa tem até o dia 10 de dezembro para recuperar todo o local onde houve o acidente, sob pena de multa de R$ 100 mil. Os trabalhos de preenchimento da cratera começaram neste fim de semana, com derramamento de toneladas de pó de pedra. Segundo a Concer, 323 caminhões serão necessários para tapar o buraco. 

    Mas, para o Departamento de Recurso Minerais do Estado (DRM), a resolução do problema vai muito além de preencher a cratera. O órgão disse em relatório que é preciso baixar o nível de águas minerais dentro do túnel e refazer os revestimentos, devido ao alto risco de desmoronamento em novas áreas.

    A Tribuna questionou a Concer sobre tudo o que foi falado nesta reportagem. Em resposta, a empresa que administra a rodovia disse que  é a maior interessada em esclarecer o abatimento de solo nas imediações, e que para isso, mantém as investigações técnicas que irão apontar o que ocorreu no último dia 7. Quanto ao documento citado na matéria, a companhia disse que até a tarde de ontem não havia recebido o relatório do Ibama.

    A Concer respondeu ainda que as escavações do túnel na região do desemboque,  na comunidade do Contorno, em Petrópolis, foram executadas em janeiro de 2015, recebendo o devido tratamento, e que durante o período de monitoramento não foi encontrada qualquer anomalia na região afetada. 

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