• Rua Teresa atrai novos negócios para vencer a crise

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  • 28/03/2019 16:57

    Duas irmãs empreendedoras acordam cedo todos os dias e seguem para seu endereço de trabalho. Quando chegam à Sorelle, uma pequena loja de decoração de festas em um dos muitos shopping centers existentes na Rua Teresa, observam algumas lojas vazias e indagam: por que essa região, predominantemente voltada para a indústria da moda, não diversifica seus negócios? O pleito delas não chega a ser um absurdo, mas aos poucos o importante símbolo econômico do município ganha ares de diversidade.

    Monique Costa e Isabel Costa têm um histórico familiar na Rua Teresa, pois a mãe delas foi dona de uma loja de roupas por 35 anos. Ambas não tinham planos de seguir a tradição familiar e investir em roupas ou afins, até que o antigo locatário de uma loja se dispôs a ceder o espaço. Foi quando elas resolveram montar um pequeno negócio de cessão de objetos para casamentos. A locação desses produtos, na realidade, foge completamente do perfil de moda. 

    Elas representam uma tendência que, aos poucos, pode agregar valor ao famoso polo de modas conhecido em todo o Brasil. Em entrevista, as irmãs defenderam uma Rua Teresa que atenda a todos os gostos possíveis – desde o aluguel de objetos até clínicas e escritórios. Dessa  forma, segundo elas, é possível beneficiar a economia da região e, ao mesmo tempo, ocupar os espaços vazios que existem em alguns shopping centers. “Eu vejo lojas fechadas que poderiam ser aproveitadas. Mas existe o estigma de que a Rua Teresa é só um polo de moda, ou local para sacoleiras. Eu acho que esse perfil poderia e deveria mudar”, assinalou Isabel.

    A administradora do Shopping Alberto Pereira Dias, Monique Alves, admitiu que diferentes categorias vêm se instalando no local, ainda que em número menor do que dos lojistas de roupas. Segundo ela, médicos, centros de beleza e advogados já fazem parte da mesma paisagem que antes era predominantemente de artigos de moda. “A crise fez com que houvesse mais procura de aluguel para outras categorias profissionais. Vemos isso como algo positivo. Essa diversificação traz esse aspecto positivo”, disse Monique, que faz a gestão de mais de 150 lojas naquele local. 

    Quem resolveu apostar no sucesso do seu negócio na Rua Teresa é a fotógrafa Andreza Theodoro, que garante não estar arrependida em utilizar uma loja para transformar em um estúdio. Segundo ela, a opção pela Rua Teresa está relacionada às dificuldades de montar toda a estrutura de fotografia em locais como o Centro Histórico. “Até eu chegar à Rua Teresa, pesquisei vários lugares. No Centro é quase impossível. Fui até o bairro Castelânea, mas quando olhei aquela loja na Rua Teresa, gostei e finquei meu negócio ali. O local tem estacionamento e outras facilidades que não encontro em qualquer outro lugar de Petrópolis”, disse Andreza.

    O proprietário de uma empresa de informática considera que a Rua teresa reúne todas as condições de sucesso para os negócios. Foto: Bruno Avellar

    E quando um empreendimento diferente da moda se mantém por tempos? Sim, existem e prosperaram por mais de uma década. Único no espaço que só tem lojas de roupas, a Support Informática se mantém forte há 12 anos e, de acordo com o proprietário Jacques Senna, boa parte de sua prestação de serviços não é voltada para seus vizinhos na Rua Teresa, mas para outros clientes em Petrópolis e até São Paulo. Mas por que ele está lá? A resposta está na ponta da língua. “A Rua Teresa é central. Aqui, a locação é mais barata e reúne todas as condições para o negócio vingar”, comentou Jacques. 

    Imobiliários veem mudanças, mas perfil do local não mudará

    A despeito de ser um polo de moda reconhecido em todo o país, existe um mercado imobiliário que também é afetado diretamente nos negócios da Rua Teresa. E não é algo insignificante, já que muitas pessoas investiram muito dinheiro na aquisição de lojas para complementar a sua renda. Hoje, enfrentam um dilema: ou reduzem o aluguel, ou arcam com as despesas da loja vazia. Isto acaba, de certo modo, impactando na economia da região industrial e comercial.

    Segundo Paulo César Salles Santos, quando se observa as lojas fechadas, vem logo na mente que a Rua Teresa está enfrentando uma crise aguda, ou coisa parecida. Mas não é bem assim. Ele explicou que os proprietários de lojas optam muitas vezes por chegar a um acordo com o locatário, ainda que ganhe menos do que em anos anteriores, para evitar os gastos com o espaço vazio.

    “Existe uma mudança de perfil em relação a alguns anos atrás. Eu já tive lojas com aluguéis que variavam entre R$ 4 a R$ 5 mil e hoje esse valor caiu até pela metade em alguns casos. Já não pedem nem mais luvas. Hoje, tem locatário que pede R$ 1.800, pois a demanda está fraca”, observou Paulo César. Essa tendência de queda foi apontada por outro empresário do setor, Alcides Telles da Cunha, ao comentar que a pedida dos proprietários para aluguéis vem caindo ano após ano, sendo que a maioria tem optado por baixar os aluguéis, em vez de manter as portas fechadas e as consequentes despesas.

    Com uma visão mais otimista, outro empresário do ramo imobiliário, José Afonso Barenco de Guedes Vaz, entende que essa relação entre locatário e proprietário poderá mudar à medida que o Brasil retomar o caminho do desenvolvimento econômico. Portanto, a queda nos valores dos aluguéis vão continuar até que o ambiente de negócio se recupere a níveis de anos passados. “Os proprietários de lojas são pessoas que deram suas vidas ao investirem na Rua Teresa. É claro que existe um problema econômico e essa movimentação é até normal para os tempos de hoje. Mas não será sempre assim. Os valores dos aluguéis poderão até subir à medida que o Brasil voltar a crescer”, prevê José Affonso. Para aumentar o problema, não se pode culpar diretamente os valores cobrados dos aluguéis ou o egoísmo do proprietário pelas lojas fechadas. A questão, para eles, vai muito além.

    Os empresários ouvidos pela Tribuna, no entanto, concordam em um ponto: que a Rua Teresa não deixará de ser o que ela sempre foi, ou seja, um polo de moda. Mas enfrenta uma série de gargalos econômicos que contribuem para uma queda nas vendas e no seu ambiente econômico. A pedido do jornal, eles enumeraram diversos pontos que criam problemas para quem tem negócios na região: a saída da antiga rodoviária da Rua Porciúncula para o Bingen;  a instalação de novos polos de moda em Duque de Caxias, na beira da estrada BR-040; as péssimas condições da via no trajeto para Petrópolis; multas a turistas que visitam o local e uma falta de política dos governos para essa área tão importante para a economia petropolitana.

    “Na década de 90, as condições econômicas e sociais eram outras. Viam para cá muitos sacoleiros atraídos pelo preço e pela cidade em si, devido à propaganda espontânea que a cidade tem em relação ao seu apelo histórico e nas novelas da Globo. Qual a realidade de hoje? Dezenas de lojas estão na beira da estrada e as facilidades com as quais os compradores têm tido. A nossa estrada tem pedágio caro e é muito ruim. A saída para isso é a diversificação, pois para evitar que mais lojas fiquem vazias, é importante que outros ramos de negócio entrem, aumentando um fluxo de pessoas e aumentando o interesse pela compra de nossos produtos”, explicou Szistowski.

    Associações dizem que a crise pesa, mas falam em superação

    As lojas vazias na Rua Teresa podem ser um sintoma de algo que não vai bem. Apesar disso, os empresários têm uma visão otimista do setor e até falam em uma retomada do crescimento, embora reconheçam que há questões a serem resolvidas no horizonte do curto, médio e longo prazos. O Grupo Empresarial da Rua Teresa, uma das denominações que cuidam da defesa e dos interesses dos lojistas, não vê uma crise propriamente dita e justificou seu argumento. 

    Membro do Grupo composto por mais de 200 empresários, Denise Fiorini explicou que as lojas da região não ficam vazias por muito tempo, já que o movimento econômico no local é bem dinâmico e, portanto, são fatos normais do que acontece nos negócios. Ainda assim, Denise atribui a crise financeira geral como um instrumento que impede a retomada de um crescimento vertiginoso ocorrido em décadas passadas. E defendeu ações de publicidade para que transformem a Rua Teresa como parte do roteiro do turista.

    “Nós temos centenas de lojas que empregam muita gente em Petrópolis. O que acontece com a Rua Teresa é o retrato do que ocorre no Brasil, que aos poucos ainda tenta retomar o crescimento. Na semana passada, recebemos centenas de pessoas, as lojas estavam cheias e ela segue como um dos principais agentes econômicos da cidade. Estamos em dia com os comerciários, ajudamos muito a Petrópolis. No inverno, aguardamos ainda mais visitações por conta do Festival de Inverno e a Bauernfest. Estamos muito otimistas e de braços abertos para receber o turista”, frisou a empresária.

    A outra entidade que cuida dos interesse corporativos dos empresários da moda, a Associação da Rua Teresa (Arte), contará, a partir de abril com a nova diretoria. A atual presidente da instituição, Cláudia Pires, informou que os novos projetos voltados para o setor estarão a cargo da nova gestão. No que tange aos problemas vividos com a categoria, ela aposta na mudança política em Brasília para reverter essa situação. 

    “A Rua Teresa, como todo o setor de serviços no país, sofreu uma queda. Mas com a entrada do novo Governo Federal, ocorreu um retorno da esperança na população, o que fez retomar o crescimento nas vendas em janeiro, moderadamente. Com a entrada do outono/inverno, sempre ocorre um aumento na procura de mercadorias da nova estação, trazendo um aquecimento nas vendas. A Arte sempre tentou trabalhar em conjunto com outros setores do turismo, para juntos termos um resultado maior de visitantes na rua Teresa, aproveitando esse poder turístico da nossa cidade”, explicou a dirigente.

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