• Rua Teresa: 300 lojas fecharam as portas nos últimos cinco anos

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  • 03/04/2016 08:30

    Mais de 300 lojas estão de portas fechadas na Rua Teresa, principal Polo de Moda da cidade. O número foi divulgado pela Associação da Rua Teresa (ARTE), após um levantamento que buscou mapear a quantidade de lojas abertas e fechadas. Atualmente, são 500 abertas. Segundo Claudia Pires, presidente da Arte, a realidade que se verifica hoje é consequência dos últimos 5 anos, porém que se agravou com a crise econômica que o país enfrenta. Além disso, ela explicou que alguns fatores contribuíram para que esse cenário fosse desenhado: aumento do valor do pedágio, péssimas condições da rodovia BR-040 – estruturais e com relação a violência – e também a concorrência do comércio na Baixada Fluminense que faz com que o público carioca não precise mais subir a serra para fazer compras. A entidade está buscando apoio para reerguer o polo de moda, um deles é retomar o convênio com a prefeitura, de repasse de verba no valor de R$ 15 mil por mês destinado à propaganda.

    A situação da Rua Teresa se agravou mais esse ano. Com a crise econômica e política que o país enfrenta, diminuiu o número de atacadistas que visitam o polo, assim como o volume de vendas para o público interno, que está receoso de gastar no momento. No local, é possível verificar essa queda e a falta de otimismo dos vendedores que passam boa parte do tempo, de braços cruzados. 

    Claudia explicou que o movimento caiu cerca de 40% desde outubro de 2015 até março de 2016. Além disso, comentou que, no ano passado, o convênio com a prefeitura não foi renovado. “Mandamos os documentos, disseram que estavam reformulando, mas não fomos mais atendidos”, lamentou. Questionada, a prefeitura não se manifestou sobre o assunto. 

    Com a crise e aumento do número de lojas fechadas, os proprietários estão baixando os preços dos aluguéis. Segundo o corretor de imóveis Josias Francisco dos Santos, hoje é possível encontrar lojas  com valores abaixo de R$ 700,00 para locação, o que anos atrás não acontecia. Porém, ele ressaltou que ainda existem aluguéis altos na rua, que chegam a R$ 18 mil, por mês. Ele explicou que as lojas do lado esquerdo são mais caras que as do lado direito por uma questão estratégica. “A maior parte das pessoas sobe e desce pelo lado esquerdo”. 

    Outro fator que influencia o cenário atual do polo de moda é que houve uma grande mudança no setor. Se antes, havia público para um mercado que produzia em massa, hoje, há uma maior preocupação com o consumo sustentável e por peças personalizadas que atendam determinados nichos. Para a coordenadora do setor de moda do Senai, Ana Carla Coutinho Torres, o processo de globalização acelerou a forma como as coisas acontecem e, com isso, o público procura cada vez mais novidades. “Passamos de um mercado de massa para um aonde o consumidor dita a moda, o que impacta diretamente na indústria, que é onde o processo começa”, comentou. 

    Para ela, o que falta na Rua Teresa é um atrativo que desperte o interesse do consumidor em subir a Serra. “Esta é uma questão mais abrangente e que vai além do negócio do varejo, envolvendo o turismo por exemplo”, pontuou. Além disso, comentou que houve uma mudança nos últimos anos no próprio polo de moda. “Se antes a maior parte das lojas pertenciam às indústrias que produziam e vendiam ali, hoje vemos um cenário distinto, aonde parte dos comerciantes compra em outros estados e até países para revender na Rua Teresa. Isso fez com que o polo perdesse um pouco a sua característica”, observou, acrescentando que o público também mudou. “Se antes o atacadista é que mantinha o comércio no polo, hoje é o varejo, o turista”. 

    Ana Carla sugere que seja realizado um trabalho de envolvimento entre os empresários, até mesmo na pesquisa por tendências e na busca em identificar o público-alvo, o que ele quer, os hábitos que possui. “São nesses momentos de dificuldade que as pessoas se juntam e, em conjunto, podem gerar novos negócios. Para a moda, a crise vira oportunidade”. 

    A especialista também destacou a importância do investimento em comunicação nesse processo e de manter a imagem de polo, de concentração de lojas em um espaço. “A Rua Teresa tem um nome consolidado, é um polo respeitado em todo o estado. O que falta é investir em comunicação e principalmente pensar estratégias vislumbrando o futuro. Com uma visão geral do setor é possível recuperar o movimento”. 

    Em nota, A Prefeitura informou que segue buscando meios para fortalecer a Rua Teresa: mantém diálogo com a associação, trabalha para a assinatura de novo convênio de cooperação para ações de comunicação e estuda proposta para organizar evento do pólo de moda no Palácio de Cristal. Além disso, implantou recentemente novo sistema de estacionamento rotativo, que atende os anseios da própria associação, que buscava mecanismos para garantir a rotatividade nas vagas.

    É importante ressaltar que o convênio de cooperação foi iniciado com o prefeito Rubens Bomtempo, que retomou a parceria em 2013, depois de quatro anos de paralisação, durante a gestão passada. Em 2015, por questões orçamentárias, o município não conseguiu manter o convênio, que será retomado neste ano.

    Foi também durante a gestão do prefeito Rubens Bomtempo que a delegacia de polícia foi transferida da rua, com o prédio sendo transformado, pelo município, em uma base que se tornou referência para lojistas e compradores – hoje também funcionam no espaço o Sebrae e uma escola do Senai, voltada para a formação de profissionais para a área de confecção.  


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