• Rio de lama

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  • 12/11/2016 07:00

    Crises como a catástrofe que se abate sobre o Rio de Janeiro são pragas egípcias que castigam faraônicos pecados. Fez-se o que era evidentemente errado. Não se fez o necessário, por incompetência, imperícia e, não nos iludamos, pura maldade. O mau-caratismo e a roubalheira se encontraram com o imprevisto previsível, posto que cultivado pela imprudência de desgovernos estaduais que há décadas já, se abatem sobre nós como exércitos de hunos.

    Em calamitosa situação, o Estado naufraga na lama. Duro dizer isso a esse que um dia foi eleitor, personagem esperançoso que acha que voto muda o mundo. Mas, eleitores fluminenses: erraram. Mal escolhidos, os comandantes do barco. E todos, agora, os que votamos e os que não votamos, pagamos o preço abusivo. Doaremos no mínimo um rim e um pulmão cada um, para que Pezão se mantenha respirando, por aparelhos. 

    Na crise como na guerra, verdade morre logo. Mentira vergonhosa, a desatinada frase do Presidente da Alerj. Algo como: o Estado não pode existir só para que servidores comam todo o dinheiro que o governo arrecada. Frase revólver na cabeça do servidor público estadual. Vilipêndio da dignidade do sujeito que alcançou posto por mérito e esforço em concurso difícil. Janeleiros, maus funcionários, se há, só provam a metástase da má gestão governante. Feita a ressalva, afirmo: é o servidor público quem viabiliza política pública. Devia merecer respeito e salário digno em dia.

     Mas os fabricantes da crise vão pela trilha de criminalizar servidor. Esbulhar aposentado. Rir da cara da população de quem levou voto, cobrou impostos e a quem empurrarão pela goela a cobertura do rombo, em triplo roubo carpado. Desumanidade como gestão. Alguns do povo vão enlouquecer, outros suicidar. Só efeitos colaterais, dizem eles entre charuto e conhaque, em bistrôs de Paris, onde decidem o apocalipse com guardanapos na cabeça. Algumas famílias destroçadas, é só preço a pagar. Cospem assim em crianças sem escola, velhos sem saúde, favelas largadas ao esgoto e jovens despejados no tráfico. Querem-nos Etiópia famélica, Somália esfarrapada.

    Desgovernantes que diziam, na fartura: com nosso petróleo, era para estarmos na OPEP. Saíram gastando como sheiks árabes, monarcas abusados. Quando o preço do petróleo derreteu, o castelo de cartas ruiu, pondo a nu o desgoverno. Viu-se que na fartura o que se fez era só para selfies. O roubo e a imprudência eram maiores. Gastaram o petróleo do futuro. Isenções fiscais imorais. Meteram estatais em negociatas escabrosas. Com o dinheiro das aposentadorias como moeda de cassino, apostaram mal. Perderam, nós pagamos. A crise que chega, negra, longa e demorada, como dragão medieval cuspindo fogo sobre aldeias. 

     A Copa em péssima hora. Não vai ter Copa. Teve. E Olimpíada desnecessária. Vieram faraônicas obras, em negociatas da corrupção. Lindos eventos, só tapumes de excelência maquiando o mais profundo pavor do que agora se vê: famílias em pânico, insones pais de família, gente que perderá mais da metade dos salários, não verá aposentadoria, não comprará remédios da velhice enquanto a penúria bate à porta com sua foice.

     A tempestade perfeita. Petróleo em queda, PT no poder profissionalizando a roubalheira, mais a expertise peemedebista de manter o eleitorado em currais populistas. Desastre sobre o povo-vaca. Dele tudo aproveitam: voto, imposto, dependência e fome. O desespero, a incapacidade de reagir. Acima de tudo, o silêncio. Por isso, aqui grito.

    denilsoncdearaujo.blogspot.com

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