• Reflexões sobre a derrota

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  • 08/11/2016 08:00

    Leonel Brizola dizia que o candidato ganha ou perde em função do adversário a ser enfrentado. O líder gaúcho comparava a disputa eleitoral a um campeonato de natação, ganharia quem nadasse melhor do que o oponente. A conclusão pode soar como truísmo, mas quase nunca é assim entendida pelos contendores, que encontram desculpa diversa para o insucesso.

    Evidente que para se chegar à piscina ou ao mar, há todo um conjunto de ações preparatórias, com adestramentos, uso de técnicas consagradas, equipes competentes, orientações de treinadores, dedicação e sacrifício. Em política, observa-se a mesma situação, porquanto deve-se ter um postulante preparado, com um quadro de assessores capazes, que possam identificar as vantagens do candidato assistido e as vulnerabilidades do concorrente, na preparação de uma comunicação consistente e um discurso convincente.

    Vencerá quem melhor se houver, antes e no ato final do confronto. Portanto, em princípio, não há justificativas que possam explicar a derrota, a não ser o reconhecimento de erros cometidos sob responsabilidade do próprio derrotado e de seu grupo político. Afinal de contas, todas as regras e condições em jogo são de conhecimento prévio. Como desconhecer, por exemplo, que um candidato à reeleição deixaria de usar o poder da máquina pública em seu benefício, sem ser ingênuo ou tolo? No Brasil, isso é natural, fato que me fez sempre ter posição contrária ao instituto da reeleição, em qualquer esfera da Federação. Fora daí, como diz o aforismo, tudo não passará de desculpa esfarrapada.

    Assim, em qualquer processo de autocrítica, aconselhável para quem ganha, mas fundamental para quem perde, impõe-se ao derrotado um olhar para dentro de suas próprias fileiras de assessores e conselheiros. Neles e no candidato estarão as razões maiores do malogro, quase sempre, como fruto da arrogância e da onipotência. Em certos casos, a falta de humildade e da capacidade de ouvir pode ser fatal, especialmente a quem poderia contribuir de alguma forma, ainda que modestamente, para o êxito da campanha.

    Na atualidade, inteligente é o político paciente, que sabe escutar, que se aconselha, mostrando capacidade para separar o que deve ou não ser aproveitado, pois haverá sempre alguma margem para o aprendizado. Na outra ponta, a afetada superioridade, que implica em autossuficiência e isolamento, conduz ao desastre. De plano, afasta a possibilidade de avaliação crítica dos projetos eleitorais e políticos postos em execução, dificultando ou impedindo a identificação de desvios ou desregramentos, que possam redundar numa sucessão de equívocos, com o comprometimento definitivo das possibilidades d e vitória no pleito.

    Na história das eleições no Brasil há disputas políticas que guardam significativos ensinamentos, com o êxito eleitoral de quem jamais se poderia supor vitorioso. Nas constatações referidas de Brizola, tem-se ele mesmo como paradigma, quando derrotou poderosas e até então invencíveis máquinas do poder federal e estadual, no Rio de Janeiro, no início dos anos 80 do século passado, em campanha memorável da qual participei. O sabe-tudo, do alto de sua enganosa sapiência, será sempre mau conselheiro, fator de desagregação e distanciamento, com efeitos altamente negativos, muitas vezes incontornáveis.

    Há um conjunto de atos a serem considerados com cautela, na formulação de um projeto de poder fundado no voto popular. Uma conclusão resulta elementar: ou o candidato nada melhor, desde as estações inaugurais da campanha, ou jamais se sagrará campeão.

    paulofigueiredo@uol.com.br

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