• Projeto que garante inclusão através da capoeira completa 10 anos levando o nome de Petrópolis para o mundo

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  • 20/09/2020 13:43

    “Trabalhar com crianças com deficiência, autistas ou cadeirantes não é para qualquer um. Tem que ter dom. Tem que estudar para isso”. Evandro de Souza, mais conhecido como mestre de capoeira Fumacinha, está certo na afirmação, mas o que ele não expressou em palavras é que, para esse trabalho, é essencial ter amor. E isso Fumacinha tem de sobra. O Projeto Capoeira Especial completa 10 anos neste mês de setembro. E leva ao longo destes anos muito mais do que inclusão: leva amor e visibilidade às pessoas com deficiência.

    Fumacinha está na capoeira há mais de 25 anos. Trabalha em escolas municipais e particulares da cidade, além do Centro de Treinamento, onde tem alunos de todas as idades. Só na rede municipal de ensino são 700 crianças em seis escolas – são pelo menos 200 alunos de inclusão. O trabalho é feito com dedicação e muito carinho. 

    “As mães são apaixonadas pelo projeto. Tenho vários pedidos de mães para que não paremos nunca. Agora na pandemia, com as atividades paralisadas, recebo de 20 a 30 telefonemas por semana das mães. Porque os filhos estão com saudade, sentem falta, querem saber quando vão voltar. A pessoa com deficiência não tem muita atividade, e no projeto ela está lá, participa”, diz Fumacinha. 

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    Todos participam, cada um dentro das suas potencialidades. Seja gingando na roda ou acompanhando com o olhar atento os movimentos do mestre. Fumacinha conta que há alguns meses se surpreendeu com uma das alunas. A menina, de cerca de 8 anos, tem autismo severo e não participava na roda. Ficava sempre ao redor com o profissional de apoio escolar. Um dia, em uma das aulas, por iniciativa própria, a menina entrou na roda e repetiu todos os movimentos que mestre vinha ensinando nas aulas.  

    “Nesses dois anos que achávamos que ela não estava participando, ela estava fazendo a aula na mente dela. Aí percebi que não posso separá-los, mesmo que eles fiquem só observando. O aluno também está participando do jeito dele”, conta Fumacinha. A capoeira é esporte e cultura. E nas escolas, é uma ferramenta poderosa para inclusão.

    O projeto, que começou com um aluno de uma escola privada do município, hoje, alcançou cidades vizinhas, como a Apae, que fica em São José do Vale do Rio Preto, e até outros países, com representantes no Chile e Irlanda. Em Petrópolis, Fumacinha conta com o apoio de outros dois professores – Rafael e Luiz Gustavo – que, assim como o mestre, se encantaram pelo trabalho e se dedicam ao projeto de inclusão. 

    O projeto virou notícia no Brasil e no exterior. Imagens do trabalho alcançaram milhões de pessoas e foram compartilhadas milhares de vezes.  

    Em 2016, a TV Escola e o Canal Futura fizeram um documentário sobre o trabalho do mestre, que foi visto em 11 países. A iniciativa rendeu também uma entrevista para uma TV francesa. 

    “O projeto está aí há tanto tempo e, mesmo assim, segue crescendo cada vez mais. Não imaginei que fosse tão longe. Em 2018, quando veio a TV francesa fazer a matéria sobre o projeto, ganhamos visibilidade. Nós e a cidade também. Mostramos que aqui tem coisa muito legal”, frisa..

    A grande festa que estava programada para comemorar os 10 anos do projeto precisou ser adiada por conta da pandemia. Mas Fumacinha garante que no próximo ano, assim que for possível, vai montar um aulão com os alunos. “Iriamos fazer uma grande festa, reunir vários dos alunos deficientes, fazer uma aula em praça pública, porque eles têm que ser vistos. É preciso que existam mais atividades para eles. Mas ano que vem vamos fazer. Que a gente tenha mais incentivo para esporte e cultura na nossa cidade”, disse o mestre.

    Usando a capoeira, o projeto envolve as crianças, promovendo a participação, a inclusão e união. 

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