• Projeto indecoroso

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  • 14/06/2016 13:00

    Convencida por Lula, Dilma Rousseff admite convocar plebiscito para que a população se manifeste sobre a realização de novas eleições presidenciais, caso o Senado rejeite seu impedimento. Reempossada, segundo suas palavras, poderia “remontar um pacto que vinha desde a Constituição de 1988 e foi interrompido com o processo de impeachment”.

    Insiste no discurso do golpe, mistura as estações e não explicita qual o pacto que foi interceptado. Desconhece que é de competência exclusiva do Congresso Nacional convocar plebiscito, onde não encontraria apoio.

    Com sua proverbial estultice, orquestra manobras ditadas por seu criador. Condena Cunha, mas esquece que o recebia com frequência no Alvorada, com o objetivo de mantê-lo como aliado de seu governo. Não desiste de estabelecer liames entre Cunha e Temer, na tentativa de embaralhar os fatos e criar embaraços ao atual presidente. Mas não custa lembrar que Dilma até a undécima hora ainda admitia um acordo com Cunha, tanto é que o pedido de impeachment foi aceito em termos bastante restritos, frente ao conjunto da obra que incrimina a presidente faltosa.

    Somente com muita ingenuidade pode-se engolir essa historieta do plebiscito, ou com muita má-fé, como o faz o notório senador Roberto Requião. Qual o cristão que confia na palavra de Dilma, mitômana fundamental, desde a campanha e no exercício da presidência? Talvez alguns senadores, com o propósito inconfessável de aproveitar a situação de instabilidade do governo para barganhar a nomeação de cargos e a concessão de favores do presidente interino.

    Dilma, reintroduzida no cargo, logo deixaria de lado a ideia do plebiscito, sem a menor cerimônia. Trata-se, portanto, de conversa fiada, um projeto indecoroso, mais um expediente fraudulento, mais um estelionato, como tantos outros cometidos durante o pleito de 2014.

    Isto sim é que é golpe. O retorno da presidente, agora acusada pessoalmente de ter cometido uma sucessão de ilícitos penais e eleitorais, representaria duro golpe contra o Brasil e suas instituições. É claro que não se teria um golpe, na acepção que lhe empresta a Ciência Política, uma vez que a rejeição do impedimento poderia dar-se na forma da legislação vigente. No entanto, com ela de volta, teríamos o caos absoluto, a conjugação da incompetência com a corrupção, com o país mergulhado na anarquia econômica, inflação elevada e total desorganização das finanças públicas, numa viagem definitiva, trágica e funesta para a sociedade.

    Restaria a falência da Lei de Responsabilidade Fiscal, uma conquista da probidade na gestão do gasto público, com a negação do texto constitucional sobre os crimes de responsabilidade, como letras mortas no ordenamento jurídico. A partir da mais alta autoridade da República, veríamos então que o crime compensa e que valeria a pena o procedimento predador e ilegal na administração pública.

    Veja-se o risco da readmissão de Dilma Rousseff, raivosa, vingativa e intolerante, sem nenhuma vocação para a construção do diálogo democrático. Acresça-se ao seu temperamento irascível e grosseiro a ampla rejeição do povo brasileiro, cerca de 70% aplaudem o impeachment, índice que espelha com eloquência o desastre de sua presença no comando da República.

    Neste momento tormentoso e preocupante da vida nacional, estima-se que a representação política no Senado interprete com muito juízo os anseios da Nação, ratificando a voz das ruas, com o afastamento definitivo da presidente inepta e delituosa.

    paulofigueiredo@uol.com.br

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