• Projeto capacita profissionais para identificar casos de abuso sexual infantil

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  • 26/08/2019 12:33

    O abuso sexual infantil é um tema cercado pelo preconceito e pelo silêncio das vítimas e das famílias que, muitas vezes, não sabem lidar com a situação. Em meio a essa realidade, falar sobre a violência infantil é fundamental, já que são poucas as pessoas que conseguem identificar os sinais e que sabem lidar com a situação, sabendo quais palavras usar e qual procedimento adotar. Em Petrópolis, um programa de capacitação é oferecido pelo Reconciliatio-Psicologia Integral, programa que reúne profissionais da área da saúde, que se aprofundaram mais neste fenômeno cruel dos abusos sexuais contra crianças e adolescentes.

    Em Petrópolis, até o dia 30 de junho foram realizadas cerca de 600 intervenções pelo Núcleo de Atendimento Psicológico Especializado Infantojuvenil (Nape-IJ), para atender a 181 solicitações. Destes, 30% tiveram indícios de que o abuso ocorreu. Com a parceria do Nape-IJ e do Projeto Minha Aurora, os atendimentos são enviados diretamente das duas delegacias da cidade, oferecendo mais celeridade.

    Segundo a psicóloga, Clara Matuque, que atua no Nape-IJ e é uma das coordenadoras do Projeto de Prevenção de Abuso Infantil da Reconciliatio, falar sobre o tema é um dos melhores caminhos para favorecer que as vítimas tenham um espaço para se sentir seguras e denunciar e também para romper com o ciclo da violência, pois o abuso sexual ocorre de forma velada. 

    “Eu acredito que falar sobre o abuso tenha favorecido que as pessoas encontrem um espaço para falar das suas dores, falar das suas vivências. Todos precisam se capacitar, para poder identificar, entender a reconhecer minimamente o que é o abuso, principalmente em como abordar uma criança, porque abordando de forma inadequada pode ser prejudicial. O abuso sexual, é uma progressão, que se dá em sua maioria por estágios, então se você consegue identificar antes de acontecer, você preserva aquela criança de um dano maior”, disse Clara.

    Ela também alerta sobre as estatísticas que apontam que a maioria dos casos de abuso infantil acontecem por pessoas próximas às crianças. “O agressor não é um monstro, é uma pessoa que cuida, que está ali dentro, tem todo um lado afetivo. Ele costuma ser uma pessoa próxima e existe toda uma dinâmica que envolve o abuso, o agressor costuma ser uma pessoa que a criança gosta, porque dá presente, dá cuidados, então a mensagem que a criança recebe é ambígua e tudo isso são dinâmicas que mantêm a violência de forma velada”, explica a psicóloga.

    Programa de Prevenção

    Com palestras e capacitações voltadas para profissionais que lidam diariamente com crianças e adolescentes, criando um olhar atento e sensível aos sinais de abuso, o grupo de profissionais da Reconciliatio, tem como objetivo conscientizar e capacitar sobre o tema, além de trabalhar a prevenção do abuso sexual e a promoção de uma cultura de valores como caminho para romper com o ciclo da violência, visando a construção de ambientes seguros e de intervenção, a partir do entendimento de conhecimento e proteção.

    Criado após um convite para participarem de uma formação em prevenção ao abuso sexual, no Instituto de Desarrollo Integral de la Persona, no Equador, o grupo que atua há seis anos na cidade promove as formações destinadas especialmente aos profissionais que lidam com crianças e adolescentes.

    Como identificar uma vítima

    Os primeiros sinais dados por uma vítima são as alterações de comportamento, “é preciso analisar se houve mudanças e se aproximar com perguntas abertas para dar espaço de fala. Perguntas como ‘Está acontecendo alguma coisa ou tem algo que você queira me falar?’, favorece que ela veja que tem um espaço de confiança, porque a primeira coisa que se rompe no abuso é a confiança”, disse Clara.

    Em seguida ela conta a importância de respeitar os limites da criança, por exemplo quando não querem cumprimentar com beijos e abraços alguém e ensiná-la a dizer não.“Ensinar também as partes do corpo, falar sobre o assunto – respeitando a sua etapa de desenvolvimento. Não adianta falar de sexo para uma criança de cinco anos, isso é até agressivo para ela, mas pode-se falar sobre os sentimentos, porque a sexualidade não é só o sexo, a sexualidade são os nossos sentimentos, nossas vontades, tudo isso faz parte, então é preciso ensinar a criança uma boa vivência da sexualidade, para que ela não fique com tanto pudor, de não poder fazer nada, mas que também não naturalize tudo”, explica a psicóloga.

    Além disso, o silêncio, alteração de humor, falta de concentração, comportamentos sexuais, entre outros indicativos, são sinais de que algo pode estar errado.

    Através do Nape-IJ, em Petrópolis, é feito um trabalho especializado para a análise de denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes. Elas são encaminhadas pelo Conselho Tutelar e passam por acompanhamento qualificado.

    Com equipe formada por psicólogas e Assistentes Sociais, o setor criado pela Secretaria de Assistência Social, faz estudo de todo o contexto social das supostas vítimas de abusos. Dessa forma, é possível demonstrar com mais certeza, se a violência aconteceu e assim fornecer subsídios para que as autoridades policiais e judiciárias possam atuar na punição dos agressores.

    Os profissionais dos Centros de Referência de Assistência Social (CREAS) fazem o comunicado aos órgãos competentes quando há identificação de casos suspeitos e realizam o acompanhamento das famílias das crianças vítimas, após todo o atendimento do Conselho Tutelar e Nape-IJ. Após o término dos atendimentos, a família é encaminhada para o tratamento psicoterápico na rede de saúde e para o acompanhamento psicossocial no CREAS.

    Desde sexta-feira, Petrópolis também conta com um laboratório que fará análise de espermas e fluídos coletados de vítima de violência sexual. A implantação do laboratório faz parte das ações do projeto Minha Aurora. O programa também conta com ações de prevenção ao crime de estupro, com palestras de conscientização em escolas e a distribuição de cartilhas e panfletos, dando as principais orientações para as possíveis vítimas de abuso sexual e sobre como agir caso conheça alguém que tenha sofrido um abuso.

    Para saber mais sobre a Capacitação, os profissionais podem ser contatados pelos telefones: (24) 2246-2852. A Reconciliatio funciona na Rua Figueira de Melo, 142, Centro.

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