• Professor e trovador

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  • 26/06/2017 12:45

    Às vezes, como Cora Coralina, considero o ser humano uma colcha de retalhos: parentes, amigos, ou seja, os entes queridos completam o nosso ser. Somos tecidos por este fio do Supremo Bem: o Amor.

     A eternidade é construída quando se conjuga o verbo Amar. Quanto mais se ama, mais se tem a noção do eterno, porque se unem as diferenças pelo respeito mútuo, pela reciprocidade do carinho. A linha que seria o limite entre as divergências é o ponto de união.  

     A efemeridade da vida nos diz, a todo instante, que “somos pó e ao pó voltaremos”. Nesta travessia, o bem que praticamos durante a nossa existência é o que permanece. Ao ver partir um ente querido, sentimos uma dor profunda que nos leva a ter a sensação de perda irreparável, pela irreversibilidade que a morte estabelece. Deus é Perfeito, Pleno, deu ao homem uma memória para alimentar as lembranças. E assim, alivia-se o sofrimento das partidas. 

    E, por meio das lembranças, tento amenizar esse amargo sentimento de perda pelo falecimento do amigo, professor Roberto Francisco, a quem aprendi admirar pela coerência, pelas suas convicções, pela sua dedicação aos que lhe estendiam a mão em busca de ajuda.  

    Esse educador ratificou o conceito de família como alicerce da sociedade. Esposa, filhos, netos e bisnetos, todos se orgulham dele. E nele, encontravam apoio, segurança e discernimento diante dos percalços da vida. Até os amigos, ele tratava como uma extensão familiar. 

    Várias vezes nos encontramos pelas ruas de Petrópolis, parávamos para alguns minutos de prosa. Em poucos instantes, passava alguém e o cumprimentava.  Fato este que me levava a admirar a memória dele, pois citava o nome da pessoa e sempre perguntava pelos familiares.

    Outro fato que me fazia admirar a sua memória está relacionado ao número de trovas que ele sabia de cor. E, no momento oportuno, declamava-as. A fluência que tinha no discurso atribuía à influência do pai, o senhor Buzico, a quem ele sempre se referia com reverências.

    “Se quiseres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”, já afirmara Leon Tostói. Dentro dessa vertente, é possível entender a forma orgulhosa com que o professor Roberto falava de Anta, o solo em que nasceu. Depois se tornou cidadão petropolitano. E aqui, o seu corpo foi sepultado em um ato de muita comoção, com intensa salva de palmas. 

    Quando o corpo dele estava sendo sepultado, falou um amigo comum, com voz resignada: “desce por essas cordas, 60 anos de uma amizade ininterrupta…” – ao ouvir isso, apenas o abracei e um silêncio ficou neste vazio. Esta ferida só o tempo cicatrizará. Não tenho ainda nem 60 anos de vida…

    No velório, vi outra lição desse mestre, uma confraternização calorosa: reunidos em torno dele, havia professores com ex-alunos, colegas de turmas que não se viam há anos. Pessoas das mais diversas camadas sociais se despediam com lágrimas nos olhos. 

    Se o poder público deseja homenageá-lo, que faça, preservando o monumento erguido à trova na Praça Wolney Aguiar, conhecida como Praça dos Trovadores.  Ele tinha um carinho por aquele espaço em que se colocavam as trovas vencedoras dos concursos realizados neste Município. Hoje o monumento está esquecido.

    P.S.: Em nome dos Membros da Academia Petropolitana de Educação, externo aqui o sentimento de tristeza pelo falecimento desse Membro Emérito, que presidiu este sodalício no período de 2004 a 2006. Que os familiares e amigos encontrem, na misericórdia divina, bálsamo para esta dor que ainda lateja…

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