Produtores do Brejal se queixam da falta de estradas para transportar a produção
São pouco mais de 80 km de estradas vicinais que dão acesso a maior parte da produção de orgânicos do estado. São pelo menos 60 produtores, além da produção tradicional, somando quase 200 agricultores no total. Com as principais estradas do Brejal, na Posse, sem obras há quase três anos, o escoamento da produção e o acesso aos sítios está comprometido. Embora o município ostente o título de Capital Estadual dos Produtos Orgânicos, quem deu jus ao mérito reclama do descaso e da ausência do poder público.
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Logo no início da Estrada do Brejal, embora pavimentada, a via tem vários trechos com buracos e desnivelamento do asfalto. Em 63,5 km de estradas de terra, pelo menos 12,5 km estão em situação crítica. O levantamento foi feito pelo Comitê das Estradas do Brejal, um grupo organizado entre famílias e produtores locais, que vem trabalhando no desenvolvimento da região há, pelo menos, oito anos. Alexandre Viana, morador do Brejal há 19 anos, e membro do Comitê, disse que o grupo vem cobrando da Prefeitura a manutenção das estradas desde 2017, neste período foram feitas várias reuniões com as secretarias, mas a manutenção regular nunca foi retomada.
Os prejuízos se acumulam, essas estradas são o principal acesso das famílias. Além de caminhões e carros dos agricultores, há os ônibus escolares que fazem o transporte dos alunos da região até as três escolas municipais da localidade. E é o trajeto utilizado pelos visitantes que fazem o Circuito Eco Rural Caminhos do Brejal. Além do pavimento, a falta de capina nas margens das estradas dificulta a passagem de veículos e a visibilidade durante a noite, deixando alguns trechos em risco para os moradores.
“A manutenção emergencial era feita nos trechos que tinham maior prioridade. Mas no momento quase tudo é prioridade”, lamenta o presidente do Comitê, José Luiz D’Avila. Ele explica que a manutenção regular deveria ser feita pela Regional da Posse, mas os equipamentos estão todos quebrados. Apenas a Patrol está funcionando, mas foi consertada pelos moradores da Estrada do Taquaril, localidade próxima e que também sofre com a falta de manutenção. Incontáveis vezes os produtores fizeram vaquinha para arcar com as despesas, desde a compra de combustível, até o pagamento do operador das máquinas. No pátio da Regional, que fica no Centro da Posse, uma escavadeira está parada, sem rodas, a espera do conserto.
O trecho mais crítico é a Estrada dos Caboclos. Com a estiagem o terreno ficou arenoso e erosado, as valas que se formaram na via, em alguns casos, só permitem o acesso com veículos próprios para o terreno. Mas estes, são os mesmos trechos utilizados pelos ônibus escolares e os micro-ônibus da linha 728 – Jurity e 729 – Albertos da empresa Turb, que atende a localidade.
O Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário de Petrópolis (Setranspetro), fez um relatório com mais de 300 páginas onde aponta os principais problemas viários encontrados pelo município, que prejudicam as empresas de ônibus e os usuários. Segundo o sindicato, a região do Brejal é uma das mais afetadas, com uma extensão de sete quilômetros de estrada de chão, atendidas pelas duas linhas.
“Com o excesso de buracos e curvas fortes, a operação dos coletivos fica comprometida, tendo viagens mais lentas e com trepidações. Também com excesso de vegetação pela pista, muitas vezes há queda de galhos e até árvores no trecho, que impedem a passagem dos veículos. Em dias de chuva, os coletivos ficam por algumas vezes impossibilitados de cumprir seus respectivos itinerários, por conta da lama”, informou o Setranspetro.
A produtora Francelina de Mello tem um filho de 12 anos que utiliza o transporte escolar todos os dias. A preocupação com a falta de manutenção é justamente com a segurança das crianças no ônibus. Além disso, quando chove, muitas vezes os estudantes têm que andar trechos a pé, porque o ônibus fica impossibilitado de passar por causa da lama. E não só isso, a moradora explica que o acesso das concessionárias também fica difícil. “Já chegamos a ficar dias sem energia elétrica porque a concessionária não vem por causa do acesso”, lamenta.
Em alguns trechos, os moradores fizeram mutirão e taparam buracos com pó de pedra e cascalhos na tentativa de amenizar o impacto. “Há pouco tempo uma senhora passou mal aqui, e o socorro levou duas horas para chegar. Se não formos lá na estrada principal encontrar com a ambulância, eles não conseguem nem encontrar o endereço”, lamenta a produtora Ângela Maria Botelho.
Caminhos do Brejal: roteiro turístico comprometido pela falta de manutenção
Foto: Bruno Avellar
Há mais de 50 anos na região, o produtor Augusto Katsumoto disse nunca ter visto as estradas em um estado tão precário como estão agora. “Em dias de chuva, nós vamos para a Posse e ficamos pensando: será que vamos conseguir voltar para casa hoje?”, contou. Seu sítio, que é o principal produtor de mudas da região, fica na Estrada Pilatos e faz parte do Circuito Eco Rural.
No começo do ano, um de seus caminhões ficou atolado após uns dias de chuva. Só assim, depois de muito apelo, a estrada recebeu manutenção no trecho, explicou o produtor. Amortecedores e suspensão dos veículos são revisados com mais frequência do que o comum, porque constantemente quebram. E os veículos de passeio dos visitantes que participam do circuito também são prejudicados. Estrada do Xingú, Contrões, Cachoeirinha e Albertos, são mais algumas das vias que estão em estado crítico.
“A dificuldade de deslocamento dos automóveis dificulta e prejudica toda a logística do passeio. A manutenção das estradas é uma ação de extrema necessidade, uma vez que traz conforto aos nossos turistas e principalmente comodidade aos nossos agricultores que precisam escoar a produção”, frisa o presidente do circuito de Turismo Rural, Leonardo Fragoso.
Produtores fazem uma carta aberta cobrando soluções à Prefeitura
O Comitê das Estradas do Brejal, a Associação dos Produtores Rurais do Brejal e a Associação Socioeducativa e de Turismo Eco Rural do Circuito Caminhos do Brejal fizeram uma carta aberta ao Prefeito Bernardo Rossi cobrando melhorias nas vias vicinais da região. Os grupos apontam: o quadro de pessoal insuficiente, o maquinário quebrado, e a falta de planejamento para a manutenção regular, na Regional da Posse.
O vereador Ronaldo Ramos vem há mais de um ano cobrando da Prefeitura, a manutenção viária na região. Ele disse que conseguiu intermediar com mineradoras um material para a manutenção das vias, a custo praticamente zero. A escória de minério é um material que visualmente é parecido com pó de pedra e que atenderia a demanda da região. Segundo o vereador, o material que viria de mineradoras como CSN Mineração, Mineração Usiminas e Gerdau, daria mais durabilidade à pavimentação nas vias. Para que o material seja trazido para o município, a Prefeitura precisa disponibilizar o transporte, e para isso, necessita de uma licitação para a contratação do frete.
“Já fizemos reuniões com a Prefeitura e a Secretaria de Obras. Apresentei amostra do material, e a Prefeitura disse que iriam até a empresa, mas não saiu das intenções. O material é aprovado pelo Inea e seria uma manutenção a um custo mínimo para a Prefeitura. Estamos desde abril com essa proposta e até agora nada. A situação no Brejal está insustentável”, frisou o vereador.
A Prefeitura informou à reportagem que a proposta sobre a escória de minério para a manutenção de estradas vicinais será analisada pela Secretaria de Obras, que também avaliará a viabilidade do uso do material.
Sobre a manutenção viária, a Prefeitura confirmou que o trabalho de manutenção completa de ruas vicinais da Posse, incluindo o Brejal e o Taquaril, foi feita pela última vez em 2017. E disse que manutenção viária vem sendo feita desde este período em estradas vicinais. Neste ano, segundo a Prefeitura, foram atendidas pela Secretaria de Obras ruas de Itaipava, Pedro do Rio e Posse.
Sobre os equipamentos da equipe regional na Posse, a Prefeitura informou que uma pá mecânica está em funcionamento e outros veículos utilizados nos trabalhos de conservação no distrito estão recebendo manutenção, mas não informou qual é a previsão para quando será feito o conserto definitivo dos equipamentos.
A espera do poder público, moradores decidem fazer melhorias por conta própria
“Quando chovia, a gente não chegava em casa, era muita lama. Tínhamos que deixar o carro e andar 4 km a pé. Sempre esperando o asfalto que prometiam antes da eleição e depois não faziam nada”, lamenta o presidente da associação de moradores da Estrada do Taquaril, Sérgio Amaral. Não muito diferente do que acontece na Estrada do Brejal, a manutenção regular também não chega na localidade.
A estrada também é atendida pela Regional da Posse. Sem previsão para solução, os moradores se reuniram e fizeram um mutirão para a pavimentação do trecho. Com o valor arrecadado, a associação consertou uma Patrol, providenciou o pagamento de um operador e comprou material para concretar a via. “Nunca fizeram nada por nós, nossa diretoria está há oito meses e já fizemos muita coisa. E vamos fazer mais dependendo da ajuda de todos os moradores”.
Desde o início de julho, os moradores se reúnem todos os sábados para trabalhar na estrada. O valor investido até agora foi de R$ 15 mil, e segundo o presidente da associação será necessário pelo menos R$ 25 mil para a segunda parte do trabalho. São pelo menos, 50 produtores que abastecem o Horto Mercado e o Ceasa no Rio de Janeiro.