• Princípio do fim das canalhices

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  • 02/04/2017 08:00

    Uma vez escutei uma frase com a qual faço a abertura deste artigo: "Enquanto os homens de bem não tiverem a coragem dos canalhas, o Brasil nunca vai mudar". Fui surpreendido esta semana (e note-se, todas as semanas  temos mais do mesmo) com uma série de acontecimentos que nos revoltam e enojam acerca do que temos nos quadros políticos. Vamos a alguns deles, que isolados pouco representam, mas que se somados nos levam a visualizar nosso quadro de canalhices, desmandos, oportunismos e falta de caráter. 

     O deputado Lúcio Vieira Lima (do PMDB-BA e irmão do ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo de Michel Temer, Geddel Vieira Lima) comprou com a verba de gabinete para tal fim, por meio da agência de turismo que serve à Câmara, durante o recesso entre o Natal e o Ano Novo, nada menos do que 75 passagens aéreas que somados os trechos, são 79.935 km, considerando a distância aérea entre as localidades. O número praticamente equivale a dar duas voltas inteiras na circunferência da Terra, que é de 40.075 km. 

     O conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Marco Antônio Alencar (filho do já falecido Marcelo Alencar, ex-governador do RJ) é possuidor em seu haras, em Itaipava, de nada mais nada menos, do que 30 cavalos que valem um milhão de reais cada, entre outros animais, cuja estimativa de preço beiram a casa de 100 milhões de reais; em contraponto a isto, lembro que seu salário no TCE é de 30 mil reais mensais.

    A advogada Adriana Ancelmo, mulher do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), foi para casa onde passará a cumprir prisão domiciliar. Acusada de integrar o esquema de corrupção liderado por seu marido, também preso, Adriana estava preventivamente em Bangu 8 desde dezembro de 2016. Ela foi autorizada a cumprir prisão domiciliar com base em uma norma do Código de Processo Penal que permite a mudança de regime de mulheres que tenham filho de menos de 12 anos e estejam cumprindo prisão preventiva. Adriana tem dois filhos, de 11 e 14 anos. 

    Esses eventos nos levam a pensar: o crime compensa? A julgar pelos episódios acima, aparentemente sim, mas pontualmente algumas coisas boas passam a acontecer graças à operação Lava Jato: o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi condenado esta semana pelo juiz federal Sérgio Moro, a quinze anos e quatro meses de prisão pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e evasão fraudulenta de divisas. O processo se refere ao pagamento de propina milionária que envolveu a compra do campo petrolífero de Bénin, na África, pela Petrobrás, em 2011. Vale lembrar que além de Eduardo Cunha ainda estão presos Sérgio Cabral, José Dirceu, Antônio Palocci, João Vaccari Neto (ex-tesoureiro do PT), Paulo Ferreira (outro ex-tesoureiro do PT), o ex-deputado André Vargas, o ex-deputado Pedro Correia (PP), João Cláudio Genu (também ex-tesoureiro do PT), o ex-senador Gim Argello (PTB), o ex-deputado federal Luiz Argolo (Solidariedade). 

    Vejo uma luz no fim do túnel: penso que uma grande reviravolta está acontecendo no combate à impunidade; são lentos os movimentos (porque a Justiça é lenta) mas nos dão um certo alento e ainda acredito que o Brasil tem jeito. Os acontecimentos que se sucedem a cada semana, nos dão sim uma grande revolta, não é difícil de compreender isto, e alguns homens de bem, com coragem do tamanho das dos canalhas, como os juízes Sérgio Moro (em Curitiba) e Marcelo Bretas (no Rio) nos levam a apaziguar nossa ansiedade em ver que realmente as coisas podem mudar.

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