• Preconceito, a arte de denegrir

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  • 23/03/2018 10:55

    Há dias escrevi – “não sou todo mundo, eu sou eu, e é o quanto basta” , porque vejo as pessoas se influenciarem, se contagiarem com opiniões alheias, “emprenhando-se” pelos ouvidos, sem discernir e avaliar os fatos. É falta de essência interior.

    O GLOBO publicou matéria de Caetano e da cantora Teresa Cristina, que gravou Noel Rosa, mas não incluiu, no repertório, o belo “Feitiço da Vila”, por considerá-lo preconceituoso, por influência de Caetano. A seguir transcrevo a letra, na íntegra, para que alguém ache o que ela diz:

    “Quem nasce lá na Vila/ nem sequer vacila / ao abraçar o samba/ que faz dançar os galhos,/ o arvoredo e faz a lua,/ nascer mais cedo.

    Lá, em Vila Isabel,/ quem é bacharel/ não tem medo de bamba./  São Paulo dá café,/ Minas dá leite,/ e a Vila Isabel dá samba.

    A Vila tem um feitiço sem farofa/ sem vela e sem vintém/ que nos faz bem/ tendo nome de princesa/ transformou o samba/ num feitiço descente/ que prende a gente;

    O sol da Vila é triste/ samba não assiste,/ a gente implora:/ "sol, pelo amor de Deus,/ não vem agora/ que as morenas/ vão logo embora’.

    Eu sei tudo o que faço/ sei por onde passo/ paixão não me aniquila/ mas, tenho que dizer,/ modéstia à parte,/ meus senhores,/ eu sou da Vila!”

    Ela peca ao elogiar, denegrindo a imagem do poeta da Vila e, mesmo assim, grava-o por sabê-lo sucesso. Quem não viveu na época com seus costumes, não pode criticar nada sob a ótica de hoje. É preconceito sem base como faz com letras de outras obras. A moça está confusa com a opinião de Caetano que, como dizia um amigo – “ele pode ser bom mas não tanto quanto pensa que é”, mas a mídia aplaude. Não gosto de sua soberba, não compro seus discos, mas respeito quem compre – é o direito de cada um. O disparate seria eu criticá-lo e sair assoviando suas músicas.

    É temeridade olhar para trás com olhos enviesados por puro preconceito ou influência. Então, retiremos da história todos os grandes senhores, barões, marqueses, etc, que se serviam de escravos, o que era aceito por parte da sociedade. Inversamente, comparemos os valores da época com os de hoje que provocam repugnância pela total falta de postura, educação de berço e social – o que havia, na época, em demasia e hoje carece de tudo. Na sombra de Caetano, a moça tresanda fanatismo esquerdista, como boa aluna.

    Apesar da crônica do correto João Máximo, tal CD não me atrai pelo peso da atitude – preferindo ouvir a nossa Geralda Nascimento de voz pura, modulada e especial, que canta Noel e tantos outros com elegância, simplicidade e sem preconceito. Mas infelizmente, não tem a mídia para divulga-la – e o mercado não sabe o que está perdendo! 

    jrobertogullino@gmail.com

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