• Por um dia de Paz

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  • 14/06/2020 00:01

    O caos que nos envolve começa a impor suas ordens: parou o mundo com uma pandemia, instalou uma crise econômica, evidenciou as desigualdades nos países que não apresentam uma política voltada para o menos favorecido, por estarem comprometidos com o atendimento dos interesses das oligarquias. Agora, com o assassinato de um homem negro por um compatriota branco fardado nos Estados Unidos, deflagrou-se uma onda de manifestações antirraciais pelos continentes…

    Acho que o inesperado nos fez uma surpresa: – quem poderia prever, seja por carta, búzios, bola de cristal ou pelo alinhamento planetário, que um vírus declararia guerra à humanidade exatamente neste momento em que ela se encontra desprovida do humano?

    Vou aqui por esta beirada da vida, seguindo os versos das canções, tentando entender, pelas metáforas, a razão pela qual a realidade tenta podar os sonhos: – será que algum dia conseguiremos ouvir o “que a brisa canta”?

             – Será que entramos no “Cota Zero” drummondiano: “Stop:/ a vida parou/ ou foi o automóvel?”

             – Carlos, na minha humilde concepção, os automóveis é que precisam estacionar para que a vida possa ter a oportunidade de ver a ternura. Bastou o homem se recolher um pouco para que a natureza se manifestasse: as praias estão mais limpas, o ar menos poluído, os animais passaram a circular com mais liberdade. Está provado que o homem é quem provoca esse desequilíbrio no planeta.

    A insensibilidade é uma característica da tirania. Em qualquer regime tirano, a morte é recebida com frieza, porque faz parte da manutenção do status quo.

    Hoje acho que a democracia não é um sistema de governo, mas um estágio educacional de uma civilização, não a vejo como um regime imposto por um gestor público. Na minha utopia, o nível de consciência humana é que determina o respeito às normas da boa convivência, sem depender das leis outorgadas nas constituições. Pela sensibilidade humana do amor ao próximo, é possível estabelecer um comportamento social sem ferir nenhuma constituição. Isso prova que precisamos de pouco para conduzir o viver de forma pacífica.

    A revolução começa dentro de nós. O homo erectus ainda lasca pedra para construir armas. Por isso o processo evolutivo ocorre quando se desenvolve a capacidade de amar. Assim nos distanciamos da grotesca estupidez que alimenta a ignorância. O homo sapiens que só se preocupa com a geladeira, com o freezer, com o vil metal, com os meios de locomoção luxuosos perde a oportunidade de evoluir na dimensão humana.

    Desconfio que esse meu pensamento utópico tem me deixado meio cético, porque não me permite acreditar em “salvadores da pátria”, uma vez que as mudanças esperadas, eu só as vejo pelas ações coletivas que visam ao bem comum. É um equívoco pensar que a paz é a não-guerra. Mesmo sem uma guerra declarada, vivemos esta insegurança nutrida por ódio e vingança. Com isso, surge essa obsessão pelas armas, porque o outro é sempre visto como um inimigo, uma vez que não há respeito pelas adversidades. Repito: a democracia é um estágio educacional em que as limitações são respeitadas. Por isso a incapacidade de amar é o obstáculo maior por não enxergar o perdão.

    O joelho do homem branco fardado no pescoço do compatriota negro é milenar. Até hoje Caim mata Abel. A história da humanidade está repleta dessa barbárie. Aqui no nosso país, muitos brasileiros também não estão conseguindo respirar nos hospitais por falta de aparelhos. O joelho da corrupção está fincado no pescoço de tantos compatriotas que se encontram sem ar e sem comida. Esse crime tem provocado mortes de inocentes. Não há democracia onde reina a insensibilidade social. A corrupção é um câncer. No Brasil, essa doença é crônica.

             – Dobro o meu joelho por Aquele que disse: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”, porque Ele deu a vida para que a paz estivesse conosco.

     

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