• Por que os quenianos correm mais

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  • 25/01/2016 09:50

    Pois bem. Mais uma vez os quenianos venceram a São Silvestre e não poderia ser diferente. Mas o que será que eles têm de tão especial assim. Entre outros fatores o VO2 máximo e o percentual de utilização dessa capacidade faz a diferença fundamental. E para que serve o VO2 máximo? É isso que vamos ver hoje. Assim como o carro é movido à gasolina e/ ou álcool o nosso corpo é movido a oxigênio, por isso somos chamados de seres aeróbios. À medida que fazemos qualquer tipo de atividade física a necessidade de oxigênio aumenta e isso é medido em valores chamado de VO2 (volume de oxigênio expresso em mililitros por kg de peso corporal por minuto – ml/kg/min. ou medido em litros por minuto – l/min.). Ao contrário do automóvel nós gastamos combustível (oxigênio) quando estamos parados ou dormindo. Nessa situação o VO2 estimado é em torno de 3,5 ml/ kg/min. e na situação máxima num exercício extenuante como a corrida, corredores comuns como nós, esses valores podem chegar entre 60 a 70 ml/kg/min. valores esses clamados de VO2 máximo. Num atleta de elite esses valores podem chegar a 70 ou 80 ml/kg/min. Portanto, bem mais que a gente. Oque isso tema ver com a corrida é que quanto maior o VO2 Máximo melhor o desempenho ou a chamada potência aeróbia do corredor numa prova de média e longa distância. Novamente fazendo analogia com o carro sabemos a diferença de motor com mais ou menos cavalos. Entretanto não é só isso que faz um campeão. O desempenho esportivo depende de vários outros fatores onde o VO2 Máximo é apenas um deles. Alguns são treináveis e outros que fogem ao controle dos técnicos e do próprio atleta como a genética. Entre os fatores treináveis podemos destacar os fisiológicos, os psicológicos e os biomecânicos. O treinador experiente conhece bem os métodos de treinamentos capazes de melhorar a resistência, a velocidade, a capacidade de suportar a fadiga e o gesto esportivo resultando na economia da corrida, isso sem falar no fator psicológico. Entre os fatores que fogem ao controle técnico o genético é o que mais pesa no desempenho onde se costuma dizer que o campeão já nasce feito como uma pedra preciosa bruta só precisando lapidar. O fenômeno que mostra claramente isso é o domínio dos quenianos nas corridas de média e longa distância nos campeonatos mundiais e Olímpicos. Entretanto nem sempre foi assim. Há pouco mais de vinte anos 48% dos campeões dessas modalidades eram europeus enquanto 26% eram africanos dos quais somente 13% eram quenianos. Hoje, segundo dados da IAAF (Associação Internacional de Federações de Atletismo) os europeus representam menos de 11% e os africanos 85% dos quais 55% são quenianos. Desses, a maioria vem de uma subtribo chamada Nandis que representa 2% da população das oito tribos chamadas Kalenjin estimadas em meio milhão de pessoas. Genética somada ao treinamento de qualidade vivendo numa altitude de 2000m acima do nível do mar dá o resultado que conhecemos. Eles são esguios, pernas longas, tronco pequeno, extremamente magros e ossatura fina. Estudos biomecânicos de locomoção humana mostram que poucos gramas adicionados aos pés e tornozelos são suficientes para aumentar o custo metabólico da corrida. Logo, corredor de canela fina em princípio corre mais. Essas são qualidades que por si representam economia de corrida. Além disso, se sabe que boa parte dos quenianos nasceu e viveu em áreas rurais sendo acostumados desde crianças a percorrer longas distâncias de casa para a escola brincando de correr o tempo todo. Quando comparado o VO² máximo dessas crianças com as de centros urbanos comprovou-se que os da zona rural tinham valores até 10% maiores. O VO2 máximo é um componente fisiológico importante na resistência da corrida, mas principalmente o chamado limiar anaeróbio. Esse limiar de lactato se refere ao ponto onde esse produto do metabolismo começa acumular nos músculos impedindo o seu trabalho normal. Essa capacidade também é treinável, mas também depende do fator genético. Os atletas de elite têm esse limite normalmente mais elevado que os fazem correr mais numa situação para nós insuportável e os quenianos mais ainda. Nós não somos atletas de elite, mas o nosso VO2 Máximo pode ser aumentado com treinos de melhor qualidade. O simples fato de tentarmos baixar os tempos individuais já é suficiente para aumentar o VO2 Maximo e a capacidade de suportar a fadiga elevando o limiar anaeróbio.

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