• Pizzaria Barbaridade: do tamanho da sua fome

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  • 01/02/2020 10:00

    Foi numa pizzaria de esquina da Mosela que o freguês descobriu o tamanho de sua fome. Fora do que era tido como avançado, as curvas da massa foram remodeladas. Quadradas, passaram, então, a ser comercializadas a metro. Sem margem, ou melhor, borda, para o desperdício, a Barbaridade ironicamente traduziu o que havia de mais avançado no mercado.

    Primeira e única pizzaria na cidade a vender pizzas a metro, o único regresso da Barbaridade foi às origens dos fundadores. Proveniente de família alemã, o petropolitano Bruno Duarte Ferreira cresceu junto da família em volta da mesa e, em dezembro de 1992, cedeu às raízes: abriu, junto do primo, Altamir Cailleaux Filho – o Mirim, o próprio negócio no segmento da alimentação.

    Disposta a estimular a curiosidade do público e a revolucionar o mercado da época, a dupla apostou no bárbaro, no inédito. Implementou tábuas de carne de sol, de joelho de porco, e ressignificou o conceito de pizzaria. “Era sempre engraçado quando ligavam para fazer o pedido e nos perguntavam como entregaríamos tantos metros de pizza”, diz Olga Fraguas Pires, 65.

    Esposa de Mirim, a aposentada conta que acompanhou e participou desde a criação ao fim do empreendimento, em 2003. Apontada como uma paixão, ela desempenhava com satisfação quaisquer fossem as funções designadas na loja: de operar o caixa a descascar batatas e auxiliar na cozinha.

    Foto: Arquivo pessoal

    Munida de um livro dos frequentadores mais assíduos do restaurante, Olga explica que, às quintas, reunia a turma dos referidos fregueses para um cardápio diferenciado em que não faltavam pratos ligados à culinária alemã. Nos demais dias, contudo, a atração principal se mantinha a mesma: a pizza a metro, preparada em tabuleiros modificados.

    “Nossa caixa de viagem não podia ser de um metro porque não caberia na moto, então fazíamos assim: se a pessoa pedisse um metro de pizza ela receberia duas caixas de 50 cm”. E se, por sua vez, a pessoa decidisse comê-la no próprio restaurante, a criação logo chamava atenção pelo formato quadrangular que a tornava recheada por completo.

    Nascido e criado na Mosela, o massoterapeuta e terapeuta de fogo sagrado, Fabiano Monken Afonso, de 41 anos, não exitou em conhecer o modelo. Adolescente, à época, passou a frequentar a Barbaridade semanalmente junto da família que, quando ia em sua totalidade, pedia ao menos dois metros de pizza.

    “Já morei no Rio, moro em Campos e nunca mais vi pizza como aquela. Na Barbaridade não tinha desperdício. Você comia a pizza inteira porque não tinha borda”. Comercial, até onde necessário, mas longe de industrial, o espaço cativava e se destacava, justamente, pelo fato de ser caseiro.

    Sem borda para o desperdício

    Extensão de casa, até porque foi atrás do negócio que Bruno nasceu e viveu, o negócio foi idealizado por amigos e seu sucesso assegurado também por eles. Bruno e ‘Mirim’ não trajavam ternos e muito menos miravam planilhas quando decidiram fundar o restaurante. O cenário, na verdade, foi bem contrário a esse.

    Diz Bruno que os dois expunham gado na Feira Agropecuária, de Itaipava, quando decidiram alugar uma barraca para venda de bebidas e comidas: ponto de partida para o restaurante. Um colega sugeriu o nome e, acordadas algumas ideias, estava criado o projeto de negócio. “Os amigos incentivaram muito. Eles queriam fazer um ponto de encontro, e foi o que aconteceu”.

    Capazes de convencer o público a aderir às invenções da Barbaridade, os primos implementavam melhorias na “base do bate-papo”. E, assim, abertos a opiniões, tornaram a picanha na chapa carro-chefe do “a la carte” e a produção semanal de pizza de ao menos 70 metros. “Chegava fim de semana e era fila que te deixava maluco para acomodar todo mundo”. 

    Tendo crescido junto da família em volta da mesa, Bruno habituou a filha a fazer o mesmo. Recorda a administradora de empresas Fabiana Ferreira, de 42 anos, que já aos 16 os auxiliava a cobrir folgas e a gerenciar o negócio. “Era um lugar bem agradável e familiar. Para eles era uma festa e acho que foi esse o motivo de ter dado certo”.

    Tendo recebido e desenvolvido amigos ao longo de dez anos, a Barbaridade traduziu o avanço e a civilização de quem não tinha borda para o desperdício, fosse ele de alimentos ou laços.

    Foto: Arquivo pessoal

     

     

     

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