• Pixulecos e acarajés

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  • 01/03/2016 11:40

    A linguagem é típica do submundo do crime, escrachada, debochada. A palavra pixuleco ingressa no universo da gíria tupiniquim pelas mãos sujas de João Vaccari Neto, tesoureiro do PT, preso pela Lava-Jato. Fruto de sua cabeça criminosa, é elaborada como código e passa a designar a grana da corrupção, a ser obtida junto a grandes empreiteiras, com vultosos negócios com o poder na república lulopetista. É o que acontece com acarajé, que ganha o mesmo significado, em diálogos entre delinquentes, envolvendo transações ilícitas de assalto aos cofres da Nação. Em cena, empresas e atores de procedência ou vinculados ao Estado da Bahia, particularidade que deve ter levado à utilização da iguaria da culinária baiana, sagrada para algumas religiões de origem africana.

     Numa e noutra hipóteses, como sempre, o crime e o lulopetismo. Com algum requinte, embora mantida a comunicação tosca, chegaram a elaborar um organograma sobre a distribuição de ‘acarajés’ pelos executivos da Odebrecht. Tudo muito bem calculado, em conversas que revelam absoluto descaso em relação a princípios morais elementares.

     Vale o registro dos diálogos impudentes: “Tio Bel, você consegue me fazer chegar mais 50 acarajés na quarta-feira à tarde, por volta das 15hs, no escritório da OOG, no Rio? Estou no México, mas chego de volta na quarta. Grato e abraço do RR” (Roberto Ramos para Hilberto Mascarenhas). E a resposta de Hilberto prima pelo cinismo: “Ok, programado. Seus acarajés chegarão quentinhos”. E há ainda a indagação sobre alguma “baiana de confiança” para a entrega dos quitutes: “Meu tio, vou estar amanhã em São Paulo. Será que dava para trazer 50 acarajés dos 500 que tenho com você? Ou posso comprar aqui mesmo, no Rio? Tem alguma baiana de confiança aqui?”, quer saber Roberto Ramos. Em resposta, Hilberto Mascarenhas diz que os acarajés podem ser entregues em qualquer lugar entre Rio e São Paulo, pedindo apenas que seja avisado com antecedência de 48 horas.

     É muito acarajé – 500, crédito de Ramos com Hilberto. Vá ter acarajé assim no raio que o parta. E as 48 horas de antecedência? É claro que se trata do tempo mínimo exigido para o preparo e a fritura dos bolinhos. Afinal, os feijões, com seus grãos quebradinhos, precisam ficar de molho por 12 horas. E depois? Bem, há todo um processamento a ser observado, que vai da retirada dos olhinhos e das cascas dos feijões, com toda a delicadeza e temperos adicionais, até sua retirada das frigideiras, devidamente dourados. Embalados, podem seguir viagem.

     Como se não bastasse, a administradora da patifaria, Maria Lúcia Tavares, não teve dificuldade em sustentar que não tinha nada de dinheiro na designação dos acarajés, porquanto eram realmente enviados de Salvador para o Rio. É muito despudor, como se fôssemos todos um rebanho de idiotas, dispostos a engolir justificativas tão mal-ajambradas.

     Houve protestos do Coletivo das Entidades Negras e da Associação Nacional das Baianas de Acarajé contra o nome da Operação Acarajé dado pela Polícia Federal às investigações do caso. Bobagem, pura perda de tempo. No fundo, cheira a orquestração política à sombra do lulopetismo. Se quiserem protestar que o façam contra os ladrões do erário, verdadeiros genocidas, que matam por atacado, quando retiram recursos da educação e da saúde.

     Acarajé, em iorubá, significa comer bola de fogo, como é servido, em temperaturas elevadas. Aos ladrões de todos os naipes, portanto, muito cuidado.

     paulofigueiredo@uol.com.br

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