• Piramba

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  • 01/09/2016 09:59

    Na década de oitenta, frequentamos a localidade de Rio da Cidade, proximidade de Araras, para onde nos dirigíamos todos os fins de semana, ocupando um sítio chamado Piramba.

    Os proprietários eram nossos padrinhos de casamento. Residiam no Rio de Janeiro e não tinham filhos; ela do lar e ele Procurador Federal, porém já aposentado.

    O casal, entretanto, decidiu viver na França e, posteriormente, em Portugal; na terra de Camões, elegeu Lisboa como residência lá permanecendo por quase seis anos. 

    Enquanto fixaram residência no exterior nos foi proposto que assumíssemos o Piramba; para nós foi uma surpresa agradável até porque nossos filhos já reclamavam de uma casa de campo e nós, por outro lado, já havíamos pensado a tal respeito; aceitamos, pois, a proposta de muito bom grado.

    Assumimos a propriedade, nos responsabilizando pelos encargos do caseiro, além de outros compromissos, todavia, com a obrigação primordial de zelar pelo imóvel procedendo os reparos necessários, especialmente com relação ao jardim que era muito extenso, coberto de um gramado que nos lembrava um tapete verde.

    E assim ocorreu durante aproximadamente seis anos.

    Nesse período, nossos filhos e os filhos dos amigos que compartilhavam o Piramba conosco, juntamente com os pais, iniciavam a adolescência; à época todos ainda podíamos controlá-los.

    Assim é que aproveitamos aquele espaço agradabilíssimo, com muita alegria, assistindo os filhos a se tornarem amigos de outros meninos e meninas e os pais a consolidarem amizades que perduram até os dias de hoje.

    A vivenda nos oferecia tudo de bom, uma bela piscina, árvores frutíferas, além de muito espaço propício a ser utilizado pela criançada. E se voltarmos no tempo, iremos constatar, realmente, que o Piramba só gerou contentamento, não só às crianças, como aos adultos, traduzidos em momentos inesquecíveis.

    Quando revemos os amigos, em eventos diversos, o Piramba é ainda é razão de boas conversas, inclusive recordando travessuras praticadas pela garotada, como por exemplo a subida em árvores na busca dos saborosos caquis, sem falar noutras “artes” praticadas pela meninada. 

    Ocorre, todavia, que os proprietários decidiram retornar ao Brasil, já idosos, e logo que chegaram à Petrópolis fizemos conduzi-los ao Piramba para “matar” saudades.

    Em lá chegando não reconheceram a propriedade já que a conservamos com muito carinho.

    A casa pintada com janelas azuis e paredes brancas; o gramado impecável e a piscina a convidar para um bom mergulho, é claro que não os idosos.

    Nesta altura, já havíamos adquirido um terreno em Itaipava e a obra já em andamento; os padrinhos resolveram, então, vender a propriedade e assim o fizeram quase de imediato.

    Depois de transcorridos trinta anos nos lembramos do Piramba com extrema saudade, eis que se tratava, realmente, como o nome bem o caracteriza, de uma subida íngreme, em caminho de pedras; contudo, quando lá chegávamos, especialmente no horário da noite, ao nos sentarmos sob uma frondosa árvore, podíamos apreciar os faróis dos veículos que trafegavam pela BR-040, aproveitando para respirar o ar puro do local, alto e sobretudo protegido, uma linda vista, local que, segundo a afirmação de um amigo, estava cercado por forças da mais pura espiritualidade. 

    Piramba, na verdade, nos lembra pirambeira, todavia lá deixamos um pedaço de nossas vidas, juntamente com filhos, esposa, pais, sogros e amigos.

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