• PF investiga personagem que estimula, na web, crianças a se mutilarem

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 30/06/2020 12:08

    Um homem vestido com uma máscara do personagem Pateta, da Disney, estaria induzindo crianças e adolescentes a se mutilarem A Polícia Federal (PF) passou a investigar o caso e, de acordo com os agentes, um perfil com o nome de Jonatan Galindo nas redes sociais está promovendo os vídeos. O intitulado “Homem Pateta” ensina táticas de mutilação e induz crianças a cometerem suicídio. A Polícia Federal também informou que o suspeito lança desafios em que o personagem dá instruções e pede para que as crianças as sigam. As respostas podem ser enviadas por mensagens de texto, vídeos e até ligações ao vivo, que logo são excluídas pelas vítimas a pedido de Jonatan.

    Leia também: Escolas municipais do Rio permanecem sem aulas até 3 de agosto

    De acordo com investigações da Polícia Federal, o “Homem Pateta” teve seu perfil criado em 2017 na Europa e no México. Algumas contas com codinome Jonatan Galindo já apresentam conteúdo em português.

    A PF alerta os pais a manterem um vínculo de amizade e cumplicidade com os filhos, ter um conhecimento básico sobre internet, computação e redes sociais. Os responsáveis devem evitar altas exposições dos filhos online, seja por fotos ou vídeos, além de acompanhar os conteúdos consumidos pelas crianças.

    Na avaliação do psiquiatra Rodrigo de Almeida Ramos, o risco é limitado, porém, a prática da automutilação tem origens mais complexas e envolve a perda de controle do indivíduo tanto no mundo interno quanto no externo. “Além disso, mais de 90% dos casos de suicídio envolvem uma doença mental como depressão ou transtorno bipolar. De tal sorte, que para praticar a automutilação e o suicídio, o adolescente tem que estar minimamente doente. Pessoas sadias mentalmente dificilmente tornam-se presas para atividades psicopáticas de pessoas desconhecidas”, afirma.

    Ao mesmo tempo, o especialista reitera que isso não desobriga os pais a estarem sempre atentos ao que os filhos veem na internet. “O adolescente, por ainda não ter a parte cerebral relacionada ao controle dos impulsos totalmente desenvolvida, pode ter acesso a materiais que ainda não tem condições de compreender e isso deixá-lo ansioso. E ainda promover um compartilhamento desse material entre amigos que, então, pode chegar a um adolescente vulnerável. Tivemos recentemente o caso da boneca Momo que, embora tenha gerado um estado de alerta na sociedade, não refletiu em aumento de casos de automutilação ou suicídio”, conclui.

    Recomendações

    Em tempos de pandemia, em que as crianças e os adolescentes estão cada vez mais atuantes na internet, a exposição a esse tipo de conteúdo preocupa. A pedido da reportagem, o psiquiatra Ricardo Abel Evangelista apresentou duas formas de como os adultos podem interferir no risco de comportamentos induzidos de automutilação ou suicídio pelas crianças. Uma forma tem a ver com a presença de longo prazo dos pais na vida da criança e outra com intervenções mais imediatas quando os riscos já estão instalados. Confira:

    1: Intervenção mais longa – Crianças com boas referências adultas tendem a desenvolver melhor a noção do que é vida real e o que é fantasia, aumentando esta fronteira com seu amadurecimento e medindo cada vez melhor as consequências de seus atos. Este é um processo de longo prazo que ocorre porque, com pais presentes e participativos, elas vão recebendo desde sempre noções limitadoras (certo e errado, bem e mal, por exemplo) e, acima de tudo, forma-se o vínculo de confiança necessário para que ela fale sobre o que acontece em seu mundo com os pais. Assim, eles podem fazer novas orientações, incentivar os bons comportamentos e inibir os ruins. Quando a presença parental é falha, surge um vão nas demandas por acolhimento que a criança naturalmente tem, tornando-se assim mais vulnerável a orientações provenientes de outras figuras de afeto substitutas – mesmo que tal figura seja um personagem de internet.

    2: Intervenção mais imediata – A primeira e mais óbvia é a recomendação de que os pais precisam ter ideia de quais conteúdos os filhos visitam na rede mundial e filtrem isso por eles. Crianças estão em desenvolvimento cognitivo e intelectual, são naturalmente curiosas, e precisam de certo balizamento ao longo da infância para que, aos poucos, elas desenvolvam os próprios filtros. Contudo, além deste comportamento vigilante dos pais, talvez ainda mais valioso que isto seja a atitude afetiva e acolhedora destes. Há que se ter os momentos de firmeza na contenção de certos comportamentos da criança – quem é pai ou mãe sabe disso – mas o laço afetivo permite que a criança confie nos adultos e conte as coisas que viu e ouviu, servindo como alerta aos pais. Caso se detecte algo suspeito na fala da criança, os pais não devem mostrar descontrole, mas terminar de ouvir e explicarem com a maior calma e firmeza possíveis que aquilo não seria certo, não tem cabimento, ou algo assim. A segunda atitude, aí sim, é impor filtros aos sites visitados pela criança. Embora isso pareça muito óbvio, no mundo atual onde casais trabalham bastante (fora de casa ou em home office) o grande desafio é dedicar o tempo necessário atendendo os filhos com diálogo, brincadeiras, orientações e, por que não, ensinando certos limites.

    Caso a criança persista com ideias ou atos de automutilação, ou com falas sobre suicídio mesmo após a interferência dos pais, então, a avaliação psicológica e psiquiátrica será fundamental para que as causas daqueles atos sejam melhor elucidadas e tratadas.

    Últimas