• Petrópolis Tênis Clube: chão de estrelas

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  • 14/11/2018 17:50

    Num diálogo regido por raquetes, o verdadeiro vencedor era aquele que se igualava à leveza da pequena esfera de lã. Enquanto a busca pela precisão dos movimentos transmitia excelência, era no triunfo sobre si mesmo que o jogador se dava conta da lacuna que apenas o tênis seria capaz de preencher.

    Notória, a admiração pelo esporte na cidade é resistente ao passar dos anos. E não é para pouco. Pioneiras, as quadras do Petrópolis Tênis Clube, hoje Petropolitano Foot-Ball Clube, se tornaram um verdadeiro “chão de estrelas”. Para Arnaldo Rippel, presidente há 13 anos do “Petrô”, não faltam marcos para serem lembrados.

    “O Tênis Clube tem algumas passagens interessantes. O primeiro torneio internacional de tênis no Brasil foi realizado lá em 1910. Foi um torneio entre brasileiros, alemães e americanos que, por sinal, não chegou a terminar porque em Petrópolis chove desesperadamente. Além disso, era o clube das personalidades. Santos Dumont jogava lá direto”. 

    Arnaldo, que há 40 anos integra a diretoria do Petropolitano, afirma que a relação de Dumont com o Tênis Clube desempenhou um papel fundamental no rumo de sua família. Segundo ele, foi o inventor quem impulsionou o namoro de seus avós, Edgar e Júlia Rippel, após forjar um encontro para os dois no local.

    “Meu avô era garçom no Palace Hotel e minha avó era arrumadeira lá. Só que meu avô caiu nas graças de Santos Dumont, para quem ele sempre levava comida. Dumont dizia que meu avô tinha que casar e sugeriu que ele namorasse a Júlia. Depois de combinar com meu avô, forjou um almoço e os chamou para servir, mesmo sabendo que os tais convidados não iriam”.

    Com um ponta-pé para lá de inusitado dado por Santos Dumont, foi no Tênis Clube que a história de amor dos dois teve início. E se engana quem pensa que antes de ser adquirido pelo Petropolitano FC o clube não tinha uma vida social agitada. Arnaldo explica que nos salões do casarão funcionava o “esboço de um cassino”. 

    “Lá eles começaram a fazer bailes, festas e eventos. Interessante é que os garçons iam treinar no cassino do Tênis Clube para depois trabalharem no Palácio Quitandinha. Em 1945 o Dutra acabou com os cassinos e o Petropolitano, que não tinha sede social, decidiu comprar aquele espaço”.

    Foto: Museu Imperial/Ibram/MinC


    Foto: Alexandre Carius

    Entre sets

    A marca do relógio no pulso, da camiseta e dos shorts, são apenas alguns dos traços que Hugo Cross, de 87 anos, carrega na pele de um tempo em que o tênis se fazia presente em sua rotina. As idas ao Clube Petropolitano eram diárias e faziam de sua presença na quadra um magnífico espetáculo. 

    “Comecei a jogar tênis com uns oito anos de idade no IPC, clube em Niterói. Era uma paixão mesmo. Não tinha jeito. Naquela época existia apenas o gosto por jogar. Fui tenista do Petropolitano, do Fluminense, do Vasco. Por isso participei de torneios, por aí afora, no Rio e em São Paulo, por exemplo. Passeamos bastante”.

    Incentivado pelo pai, Hugo se tornou uma lenda do tênis. Oponentes ou espectadores, as pessoas sentiam prazer em assisti-lo de camarote e em apreciar de perto seus movimentos. Vencedor ou não, ele saía do palco vitorioso, orgulhoso por se desafiar a superar os próprios limites. Fã de carteirinha, Vivian Cross, filha de Hugo, conta algumas de suas conquistas.

    “Para o meu pai, que chegou a ser campeão do Estado, ganhar era sinal de que havia jogado bem, por prazer. Foram muitos anos na raquete. Quando o Petrô completou 100 anos, foi feito um torneio com o nome dele que, assim como meu tio, fez muito pelo clube. O tênis não vivia sem meu pai”.

    Na sala da família, prêmios e medalhas representam uma pequena parte do que Hugo conquistou. Dignos de serem lembrados, os prêmios, que incluem um troféu vencido por Vivian, reluzem o carinho e o respeito ao tenista.

    Segunda casa: Petrô

    Inauguradas no início do século XX, as quadras de tênis que hoje pertencem ao Petrô preservam a necessidade de se manter sempre em movimento. Os amigos Nelson da Cruz Loureiro Filho e Luiz Enéas Arrochellas Corrêa, de 78 e 80 anos respectivamente, seguem inabaláveis com seus treinos, faça chuva ou faça sol.

    “Temos um grupo que joga tênis nos fins de semana às seis e meia da manhã. No inverno saímos de casa com o farol aceso. Pensando bem, eu não jogo. Eu pratico o tênis. Perto do Hugo Cross eu sou um peladeiro. O que eu joguei mesmo foi o tênis de mesa. Fui tetracampeão do Estado e disputei o campeonato brasileiro duas vezes”, conta Nelson.

    Luiz Enéas, cujo avô, Júlio Furquim Werneck, é considerado um dos introdutores do tênis na cidade, se refere ao passado como uma referência e um exemplo para o presente. “Você traz muita coisa para o mundo de hoje: amizades, trabalho, relacionamentos. Dizem os antigos que meu avô trazia bolas e raquetes do Rio e jogava com o Santos Dumont na quadra um. Era um dos parceiros dele".

    Num ambiente em que a vitória era um bônus, Nelson também traz à tona a "mesa da sardinha": tradição no clube. “Só os tenistas participavam da mesa. Levavam latas de sardinha, com torradinha e cerveja para depois dos treinos. Aquilo era muito bacana”.

    Numa partida em que o saque foi dado pelos sócios do Petrópolis Tênis Clube, o fim do jogo são os frequentadores do Petropolitano Foot-ball Clube que definem. Em quadras que já presenciaram o início de namoros, derrotas, mas, acima de tudo, vitórias, o chão é das estrelas que figuram as próprias partidas.

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