• Petrópolis deve enfrentar desafios no campo tecnológico e de novos empregos

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  • 18/06/2019 14:15

    A transformação digital, que beneficia pessoas, empresas e o empreendedorismo, não é apenas uma forma de linkar o desenvolvimento econômico. É bem mais do que isso. Estar atento à revolução tecnológica que hoje transforma o mundo está na pauta de 10 entre 10 governos em todo o mundo. Com as recentes novidades em Petrópolis nessa área, um novo campo se abre para transformar não apenas a Cidade Imperial, como seus municípios vizinhos, em um “Vale do Silício” na Região Serrana. No entanto, os desafios para concretizar esse sonho são muitos.

    Empresários do setor da tecnologia voltaram a se reunir em torno de um projeto para tirar do papel o antigo desejo de implementar uma nova economia, que ande paralelamente a outras iniciativas de negócios no município. O ponto de partida para isso é o Serra Tec, criado recentemente como uma instituição sem fins lucrativos que reúne Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo em torno da criação de planos de ação dentro do arcabouço tecnológico. A expectativa de seus mantenedores é de promover o crescimento em até seis por cento nos próximos quatro anos. E a iniciativa deles já começou.

    O primeiro projeto que está para sair do papel, através da iniciativa do Serra Tec: criar profissionais que trabalhem em rede, com o uso da linguagem Java. Numa parceria entre a Firjan, Faeterj e a instituição recém-criada, o plano é não apenas formar trabalhadores que atuem na área de pesquisa e implementação de novos softwares. O ponto de partida indica a vontade da classe empresarial em atingir as metas de crescimento de uma área que fatura anualmente R$ 355 milhões. 

    Por outro lado, a vontade de se criar no longo prazo uma versão tupiniquim do “Vale do Silício” (nome dado a uma região situada na Baía de São Francisco onde se reúnem diversas empresas de alta tecnologia nos Estados Unidos) é ao mesmo tempo um sonho e uma batalha que pode durar anos. No entanto, a semente está plantada em um contexto que gera, inevitavelmente, uma pergunta: a Região Serrana, ou melhor, Petrópolis, está preparada para se tornar uma referência nacional na área da transformação digital?

    Educação, infraestrutura e os gargalos para concretização de um sonho

    A Tribuna procurou algumas respostas com pessoas e instituições bem-sucedidas em suas áreas acreditam estarem em consonância com a ambição da classe empresarial e trabalhadora, na área da tecnologia. Os desafios são enormes e envolvem toda uma cadeia produtiva, cujo cerne da questão está na educação. 

    Como, afinal, formar novos cérebros a partir de um plano de expansão que pode trazer gerar muitos recursos financeiros e criar empregos com salários muito superiores à média nacional? Dados fornecidos pela Firjan revelam que a média salarial do trabalhador brasileiro fica em torno de R$ 2,2 mil, enquanto que, para aquele que produz no setor da tecnologia, o salto é gigantesco: pode alcançar mais de R$ 9 mil reais.

    Augusto Gadelha, diretor do LNCC, afirma que pesquisas realizadas em Petrópolis contribuem para evoluções científicas no Brasil e no mundo. Foto: Bruno Avellar / Tribuna de Petrópolis

    De olho nesse nicho importante da economia local, o jornal foi ao Laboratório Nacional de Pesquisa Científica (LNCC) para saber como um dos espaços tecnológicos mais respeitados no mundo pode contribuir com isso. O diretor da instituição, Augusto Gadelha, explicou que todo o trabalho realizado na sede, no bairro Quitandinha, gera uma contribuição sem igual para a evolução da pesquisa científica no Brasil e no mundo, graças as parcerias realizadas com empresas de grande porte e diferentes setores do governo. Essa contribuição tem um valor inestimável, afirma Gadelha, que enumerou diversos pontos importantes, desde as pesquisas em parceria com a Fiocruz até a colaboração com os resultados da tragédia das barragens em Minas Gerais. Tudo isso transforma a vida do país num caminho dominado pela alta tecnologia.

    “O Brasil começa a perceber uma revolução, através da implementação da inteligência artificial e novas tecnologias, que vão dominar o mundo nos próximos anos. Nós temos aqui no LNCC uma qualidade de dados enorme e que ajudam o país e até o exterior em suas pesquisas científicas”, explicou o diretor, que ao ser indagado sobre quanto Petrópolis pode faturar com este trabalho e na transformação digital, deu a dica com poucas palavras: educação. Para ele, o município é uma cidade agradável, tranquila e não muito distante do Rio de Janeiro. Esses fatores, associados a investimentos em infraestrutura e educação, podem fazer com quer a cidade se torne, em alguns anos, um mercado atraente capaz de reunir mais empresas do setor de tecnologia. “A cidade tem qualidade de vida e bons recursos humanos, mas precisa formar mais profissionais para trabalhar com as novidades que não param de surgir no mercado”, complementou.

    Para que o sonho do “Vale do Silício” se torne uma realidade, porém, é preciso se concentrar nas melhorias na área educacional. É o que pensa o ex-Secretário Municipal de Ciência e Tecnologia, Airton Coelho, que vê o sonho petropolitano em liderar essa arrancada na transformação digital um pouco distante. Segundo ele, a cidade ainda não está preparada para dar conta dos empregos necessários no campo da alta tecnologia. Professor universitário há 18 anos e especialista na área da cyber segurança, Coelho defende aprimoramento científico na formação dos cérebros que poderiam comandar a arrancada do desejo de uma região avançada tecnologicamente.

    “O abismo entre a necessidade do mercado e a formação dos jovens talentos ainda é grande. A evolução tecnológica é muito rápida e não sei se estamos preparados, de fato, para absorver a mão-de-obra que sai das universidades para atender a demanda do mercado”, explicou Airton. “O aluno se forma na faculdade, mas em diversos casos as empresas precisam investir no aprimoramento de seus conhecimentos. E quando o capacita, uma outra empresa vai lá e o contrata. Gostaria de ver campus universitário investindo em pesquisas. Essa lacuna na graduação é um problema”, acrescentou. Ainda de acordo com ele, Petrópolis deveria se ater a três pilares básicos para pensar em se tornar um local atraente para as atuais e novas empresas que queiram vir para cá: a infraestrutura, qualidade de vida e a mão-de-obra.

    Menos pessimista, o especialista em Recursos Humanos, George Paiva, aponta Petrópolis para um caminho certo em sua busca para se tornar um município reconhecidamente propício para acolher investimentos na área da tecnologia. Na sua opinião, a cidade está no caminho certo, embora acredite que até se transformar em uma região digital e evoluída tecnologicamente é uma longa estrada a se percorrer. No entanto, destacou a criação do Serra Tec, que pode ser um pontapé inicial ao sonho alimentado por empresários e apaixonados pelo setor. “Aqui já começamos a criar as condições para sermos um local que pode participar desse processo de evolução digital. A lei de Inovação, somado as universidades, escolas técnicas e as empresas aqui já instaladas podem ser um início de um sonho. Há um caminho longo a ser percorrido, o tempo será enorme, mas já começamos a preparar essas condições de desenvolvimento”, ressaltou George, exemplificando o primeiro projeto em desenvolvimento entre a Firjan e outros órgãos locais. Lembrou, por exemplo, que aqui já existem profissionais especializados em várias áreas da tecnologia, com negócios em destaque como a Atos, Orange, Info 4, Mac e tantas outras que apostam na força de Petrópolis para atuar em conjunto com Teresópolis e Nova Friburgo.

    A transformação digital pode alavancar nos próximos anos investimentos altos que certamente impactará na economia local. O economista Marcelo Sistowsky, por exemplo, afirma categoricamente que Petrópolis tem vocação para a área da tecnologia e que o município, de uma forma geral, só tem a ganhar com um projeto de desenvolvimento de empresas e mão-de-obra, já que são questões importantes no pagamento de salários altos. Contudo, chamou a atenção para os gargalos que podem atrapalhar os planos. “Para a economia, os planos do setor de tecnologia darem certo é excelente para toda a cidade. Aumentará o valor médico nos salários e a economia local só tem a ganhar com isso. Mas é preciso estar atento aos problemas como a mão de obra, a criação de uma mentalidade empreendedora que impulsionará investimentos. Só que o acesso à internet, o valor dos aluguéis e a participação das universidades se tornam essenciais para que tudo dê certo, que possamos atrair até os enormes conglomerados de alta tecnologia. É possível tornar o sonho do Vale do Silício regional. Só que há muito o que se fazer no curto, médio e longo prazos para que tudo dê certo.

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