• Petrópolis atenta à recuperação fiscal do Rio de Janeiro

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  • 20/10/2019 08:00

    Pesquisa da Firjan mostra que a recente aprovação da Reforma da Previdência fez crescer a confiança do setor industrial do Rio. O chamado Índice de Confiança do Empresariado Industrial Fluminense, divulgado na semana passada, aponta para um humor melhor quando o assunto é o futuro da economia. Os dados, no entanto, apontam para pessimismo em relação à crise que se instalou no estado: a visão é que a recuperação não será rápida. Em Petrópolis, a retomada também deve ser lenta, gradual e segura, segundo pessoas ouvidas pela Tribuna.

    A pesquisa – que tem como base uma variação de zero a 100 pontos – revela que a confiança do industrial fluminense atingiu 57,7 pontos. Para compreender melhor o que isto significa, é importante dizer que resultados superiores a 50 indicam melhora ou otimismo. O trabalho da Firjan foi um pouco além, ao avaliar a expectativa dos empresários sobre a demanda de certos produtos, tais como matéria-prima, exportação e número de empregados, que é positiva. A Firjan destaca que o item relativo à contratação de funcionários voltou a ficar positivo depois de seis meses.

    Em contrapartida, o mesmo trabalho de campo que apurou o Índice de Confiança deixa claro um certo pessimismo com relação à situação econômica estadual. A pesquisa aponta para 49,9 pontos o índice de intranquilidade da classe produtiva, o que, de acordo com a justificativa demonstrada nos números, tem relação com a situação econômica estadual. O resultado é que não há expectativa de novos investimentos. 

    O número encontrado no estado do Rio, no entanto, não se mantém no indicador de perspectivas para os próximos meses nacional, que atingiu 61,5 pontos. Significa que, apesar do cenário estadual, há otimismo em relação à economia brasileira e da própria empresa. 

    “A perspectiva em longo prazo é positiva, pois vemos disposição do governo em desburocratizar e melhorar o ambiente de negócios, a exemplo do avanço da reforma da Previdência e o início dos debates da reforma tributária. A Lei da Liberdade Econômica também foi muito positiva para a iniciativa privada”, diz o vice-presidente da Firjan, Sérgio Duarte, que também é presidente do Conselho de Economia da Federação.

    Para o economista petropolitano Marcelo Scistowicz, o Rio foi quem mais sofreu com a crise que se abateu sobre o país, iniciada em 2013 e que traz consequências até hoje, já que a recuperação fiscal do estado vai atrasar a retomada do desenvolvimento. Sobre a pesquisa da Firjan, ele explicou que a Reforma da Previdência trouxe novos ares para o ambiente econômico no país, mas fez uma ressalva: para o Brasil voltar a crescer com bases, será necessário dar prosseguimento às reformas tributária e administrativa. “A pesquisa da Firjan reflete a expectativa e o que a gente tem visto acontecer no Brasil, apesar dos pesares. A economia tem avançado, ainda que em passos lentos. No Rio, a crise foi mais aguda e certamente a recuperação será mais devagar”, disse Scistowicz.

    Um dos municípios mais produtivos do estado, Petrópolis está no olho do furacão no contexto de recuperação fiscal do Rio. Se levar em conta que a pesquisa traz que o nível de crescimento ainda é tímido diante da elevada ociosidade no processo produtivo, o ambiente para negócio se traduz em um clima de certa desconfiança. Sendo assim, em relação a novos investimentos, os industriais seguiram pessimistas. Segundo o empresário local Anderson Lorete, a crise recente no Brasil atingiu em cheio o Rio, que contaminou os municípios que compõem o estado, em especial Petrópolis que, apesar de ter ainda uma boa posição industrial, sofre com a pouca confiança nos investimentos e que, portanto, vai a reboque da demora na recuperação econômica no estado.

    “Não há como dissociar a crise do estado e suas repercussões em Petrópolis. A crise no Rio fez com que muitas empresas fechassem, o que gera queda na arrecadação estadual. Isso significa menos investimentos em toda a região. Na cidade, sobretudo no comércio, o problema foi enorme. As perdas econômicas também foram reveladas na pesquisa da Firjan. Ainda assim, o município segue bem melhor do que outros, numa comparação econômica. As nossas indústrias são tradicionais, uma herança do passado, e seguem de maneira estável. Nós podemos minimizar esse impacto da crise, desde que o Governo Municipal faça seus esforços como apoiar a área da tecnologia, que cresce muito por aqui, e o turismo”, refletiu Lorete.

    O presidente da Firjan Serrana, Júlio Talon, tem uma opinião mais otimista em relação às políticas liberais que são postas em prática pelo Governo do Presidente Jair Bolsonaro e seus desdobramentos no campo econômico do Rio. Para ele, o empreendedor segue otimista com relação ao futuro porque as ações como a Reforma da Previdência, a Lei de Liberdade Econômica (MP 881) e a discussão da Reforma Tributária fazem com que o ambiente para o negócio melhore. Porém, ao analisar a pesquisa de sua instituição, ponderou que a Região Sudeste é, na opinião dos empresários, a região do país que apresenta a maior queda no índice de confiança, pois tem o maior poderio industrial da federação.

    “O Sudeste sofreu muito, principalmente com o desemprego. O impacto da crise no Rio ainda foi maior, sobretudo porque, nos últimos anos, o Governo tem sido ´agraciado´ por administradores de péssima qualidade. Mas vejo com otimismo a retomada do crescimento”, comentou Talon, que, ao ser indagado sobre a situação petropolitana nesse contexto, disse que o município acaba tendo seu desenvolvimento mais lento por conta dos problemas fiscais do Rio de Janeiro.

    Gás e petróleo: aliados da recuperação do Rio, setor ajuda o município

    A pesquisa da Firjan demonstra que o momento atual da economia do Rio de Janeiro é de pessimismo e cautela. Números extra-oficiais apontam para uma dívida que seria superior a R$300 bilhões de reais para ser paga no curto e médio prazos, o que, no caixa do governo, acaba deixando pouco sobra para promover investimentos. Por isso, a indústria de petróleo e gás é a aposta de crescimento. Essa aposta também beneficia Petrópolis porque seus recursos de royalties asseguram um reforço no caixa local que permite, entre outras coisas, ajudar a pagar as contas do Governo Municipal.

    A indústria extrativista cresce a medida que a produção aumenta. Para o vice-presidente da Firjan no estado, os números no Rio devem resultar em mais dinheiro em caixa, mas não o bastante para reverter o quadro de pessimismo. “O setor de Petróleo e Gás promete trazer bons resultados até o fim do ano. Entretanto, por ser o estado mais atingido pela crise, que ainda não conseguiu diminuir as taxas de desemprego e nem reajustar o caixa para fazer investimentos, a avaliação do cenário atual ainda é ruim”, afirma Sérgio Duarte.

    A Cidade Imperial – que recebeu a grata notícia recentemente sobre a manutenção da lei que mantém os repasses de royalties do petróleo em julgamento do STF – só tem a comemorar com a previsão de aumento na produção dos minerais. De acordo com a Secretaria de Fazenda, em todo ano de 2018, o município recebeu R$ 16,1 milhões referentes a repasse de royalties. Este ano, de janeiro a agosto, o município arrecadou R$ 11,2 milhões – R$ 1,5 milhão mais do que no mesmo período do ano passado, quando o montante arrecadado foi de R$ 9,6 milhões. Ou seja, caso se confirme a previsão de aumento na produção do petróleo, esses valores poderão variar para cima. Bom para a cidade.

     

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