• Pedagogia (enganosa) do oprimido

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  • 23/05/2020 00:01

    O livro Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire, não só se tornou conhecido mundo afora como influenciou muita gente de modo equivocado. Dois grupos se defrontam em relação a obra: aqueles que a amam de paixão e aqueloutros que a denunciam a plenos pulmões. A pergunta que me fiz foi se haveria um meio termo na avaliação desse livro que virou best-seller. Vejamos.

    A proposta de Paulo Freire parte da alfabetização acoplada a um processo de conscientização do alfabetizando. Trata-se menos de ensinar do que de desenvolver no aluno a capacidade de autoaprendizado. A pedra fundamental é a palavra geradora, que guarda estreita relação com os objetos familiares ao aluno e seu meio. Na área rural, por exemplo, palavras como enxada, facão e foice são objetos de uso no dia a dia. Elas despertam a curiosidade do aluno em saber como se apresentam na forma escrita. Vai da palavra para a sílaba e por fim a letra, o oposto do método fônico que percorre o caminho inverso.

    Debates acalorados ocorreram na defesa de ambos os métodos. Felizmente,                   

    é sempre possível avaliar os resultados com base em grupos de alunos subme-tidos a cada um deles. Pesquisas nos EUA concluíram que o método fônico é altamente eficaz. Anne Mc-Gill Franzen e Richard L. Allington, editores do Guia de Pesquisas sobre Incapacidade de Leitura, dão firme respaldo ao método fônico. Stanislas Dehaene, autor de Os Neurônios da Leitura, chegou à conclu-são que o método de Freire ativa áreas do cérebro inadequadas ao fim a que se propõe. O letramento, método similar ao dele, insiste em que “além de dominar a leitura e a escrita, é preciso fazer uso competente e frequente de ambas”.

    Por mais que possa nos parecer o caminho certo a seguir em matéria de alfabetização, os resultados foram desanimadores. O governo francês acabou proibindo a aprendizagem global da leitura em favor da silábica. Israel e a Califórnia acabaram abandonando o letramento e voltando ao método fônico.

    A parte mais frágil do livro de Freire é a dialética do oprimido versus opressor. Ele estabelece como fundamental no processo de alfabetização dar ao oprimido a consciência de que ele está, consciente ou inconscientemente, sofrendo um processo de opressão mental e econômico, em última instância, a razão de sua pobreza. Esse processo de se livrar do opressor exigiria uma prática revolucionária (práxis = reflexão + ação) para chegar a bom termo.

    É obvio que Paulo Freire está falando de luta de classes, daquele motor (enguiçado) da história. Exatamente aquele de que se livraram a antiga URSS e a China há muito tempo. Já Fidel Castro, na contramão, conseguiu a proeza de parar no tempo a economia cubana por meio século. Sabe aquela história do Milton Friedman de faltar areia no deserto se colocássemos o governo para geri-lo? Pois é, Cuba conseguiu ter falta até de açúcar em certos momentos!

    Curiosamente, no livro, Freire enfatiza a importância de as lideranças revolucionárias ouvirem o povo para não se transformarem em simples manipuladores das massas populares. De fato, ele bate nesta tecla repetidas vezes no livro. O patético é que nas experiências históricas concretas em que a esquerda revolucionária tomou o poder essa preocupação, digamos, democrática, jamais aconteceu na realidade. As massas, literalmente, perderam a boca, ficaram mudas, e se transformaram num imenso orelhão. Fidel Castro discursava, sem apartes, por horas a fio. Freud provavelmente o classificaria como um caso extremo de orgasmo verborrágico, como o de Hitler.  

    Paulo Freire, no fundo, sabia que o socialismo real impede que as massas tenham voz ativa. Na parte final do livro, ele cita várias passagens de Marx, Che Guevara, Althusser, Lukács, dentre outros “luminares” em apoio às teses de seu livro. O mínimo que se pode dizer é que está em péssima companhia Gramsci apoiaria de pé essa grande enganação tão a seu gosto. A frase de Fidel Castro “A História me absolverá” virou antônimo: A História não os absolveu!

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