• Pau de galinheiro

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 15/04/2017 12:00

    Nesta Semana Santa, com recolhimento e reflexão, é apropriado meditarmos sobre estes tempos em que descobrimos nossa bandeira imunda de ética corrompida, e nossa brasilidade mais suja que pau de galinheiro. A Lista de Janot, que virou Lista de Fachin, que virou Lista do Apocalipse, nos expôs: Brasil moralmente miserável, e pobre e cego e sujo e nu.

    Hora para o monumental Sermão do Bom Ladrão, do Padre Vieira. Devia ser obrigatório nas escolas. Moro, Bretas e Fachin deviam condenar cada um dos ladrões recém-descobertos a lerem de joelhos essa peça de brilhante oratória barroca tão atual, apesar de ser de 1655. O pregador mete o dedo nas feridas do Império Luso, de quem somos tristes herdeiros morais. Declara em alto e bom som que rouba-se “não só do Cabo da Boa Esperança para lá” mas também para cá! Acusa os governantes “carregados e ricos” às custas das províncias “roubadas e consumidas”, de que tiram “da Índia quinhentos mil cruzados, da Angola, duzentos, do Brasil, trezentos, e até do pobre Maranhão, mais do que vale todo ele”. Pois roubam em todos os modos, pessoas e tempos, inclusive os tempos “imperfeitos, perfeitos, mais que perfeitos, e quaisquer outros, porque furtam, furtavam, furtaram, furtariam e haveriam de furtar mais, se mais houvesse”.  Vieira compara os governantes lusos aos príncipes de Israel acusados por Ezequiel (22:27) de serem lobos gananciosos atacando o povo indefeso.

    Época de lembrar – dentre tantos acontecimentos extraordinários – a cena da conversão do bom ladrão, que motivou o sermão de Vieira. Crucificado com Cristo, passou de ladrão a “bom”, porque demonstrou real arrependimento. Não parece haver bons ladrões entre os membros da elite política brasileira, exposta de maneira tão crua. Só vemos negações repetitivas, arrogância de ladrões atrás de impunidade, conchavos de covil, para livrarem-se das garras da lei. O que me leva a Pessoa, admirador de Vieira, de quem não resisti parodiar pobremente o tão lindo poema seu com nossa triste realidade: o governante é um roubador e rouba tão completamente que chega a fingir que é lícito o furto que deveras consente.

    Como o Rio vai combater o crime, se segue comandado pelo crime organizado de Cabral? Como termos esporte limpo se o Maracanã virou usina de moer sangue e suor de cidadãos para fazer dinheiro ilícito para quadrilheiros hediondos? Como ter o pobre, escola e hospital, se o Secretário de Saúde roubava da saúde? 

    Bom que acabou a novela odiosa em que petistas desinformados cobravam de Sérgio Moro ir atrás de Aécio. Com foro privilegiado, ele não era competência de Moro. Pois bem, aí estão, farinha do mesmo saco: Aécio e Lula, Dilma e Temer, comendo na mão da Odebrecht. Falência moral completa. Não vai sobrar quem acenda a luz. O PT lá atrás posou de acendedor de esperanças. Ao vender a alma ao diabo, acelerou a lama fedorenta na qual chafurdamos.

    Mas podemos sair desse fundo de poço melhores. A escolha é nossa. Sejamos vigilantes, cobradores. Nos purifiquemos, para poder demandar pureza alheia, retidão no sistema. Chega da violência ética miúda que é mãe da calamidade ética em que nos metemos! A corrupção do deputado é filha da cervejinha do guarda, do lixo pela janela do carro, do estacionar em local proibido, do trote de calouros fechando via pública, do motoqueiro dono da rua, do furar fila, passar pelo acostamento. Chega! Domingo agora, é dia de ressurreição. Que renasçamos.

    denilsoncdearaujo.blogspot.com

    Últimas