• O trauma do 7 a 1

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  • 20/05/2018 08:00

    Tenho percebido que o torcedor brasileiro anda meio tímido em relação à copa do mundo deste ano que será realizada na Rússia. Estamos há menos de um mês para a estreia da seleção e não vejo a empolgação de outras épocas. Antes, por esse período, várias ruas já estavam enfeitadas, o comércio vendia bandeiras e exibiam uma decoração em verde e amarelo. Ainda não encontrei nenhum muro com os desenhos dos atletas que defenderão as cores nacionais “entre as quatro linhas”. Acredito que poucos aficionados em futebol têm, na cabeça, os nomes dos convocados pelo técnico do “escrete nacional”. A maioria deles atuam fora do país.

    A copa de 2014, que foi realizada no Brasil, ficará eternamente marcada pela derrota de 7 a 1 para a Alemanha. Essa é considerada a pior derrota de uma seleção nacional, superou a fatídica perda de 1950 para o Uruguai, no Maracanã. 

    Mas, para mim, a pior derrota que o Brasil sofreu em 2014 está sendo mostrada agora pelas investigações da Polícia Federal: o desvio de verbas públicas que foram destinadas às obras para construção, reformas dos estádios e melhorias na mobilidade urbana das cidades que sediaram os jogos da referida copa. 

    Muitos que saquearam os cofres públicos estão sendo condenados, entre outros artigos, no 171 do Código Penal, que enquadra como crime o ato de “obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento”. A pena para esse crime “aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito público ou de instituto popular, assistência social ou beneficência”.

    O termo “um sete um” está no domínio público para qualificar os ludibriadores, os estelionatários, os aplicadores de golpes. O triste é que estes entraram para a política e tiveram acesso aos bens públicos e deles se locupletaram indevidamente. O país ainda não se recuperou das falcatruas ocorridas no período das Olimpíadas de 2016 nem da Copa de 2014. A Operação Lava Jato puxou o fio da meada. E o tecido pobre da corrupção tem as suas marcas na saúde, na educação, nas estradas, na previdência. As obras inacabadas expõem o mal-uso dos impostos pagos pela população.

     Entendo o que afirmara o grande cronista esportivo Armando Nogueira quando adjetivou como “abençoado” o binômio “carnaval-futebol”, “que explica e eterniza a alma esférica da gente mais alegre de nosso alegre País”.

    Inegavelmente somos um povo alegre que busca no carnaval, no futebol as válvulas para expelir tristezas e mágoas. E quando chega esse período de copa do mundo, unem-se essas paixões. E a cada vitória da seleção canarinho, as comemorações se transformam em festa. Mas acho que neste ano, essa alegria será comedida. Os escândalos políticos, a violência desmedida têm deixado a população muito preocupada. As decepções são grandes. Mas há uma eleição à vista. Não podemos perder a oportunidade de mudar os atores dessa vergonhosa política. O voto é um instrumento indispensável no processo democrático e deve ser usado de forma consciente. 

    Precisamos seguir de “mãos dadas” como indicara Carlos Drummond. A esperança está na união de forças, por isso a “vida presente” o “tempo presente” têm que ser a nossa matéria. A taciturnidade aflora nas frustrações. Mas temos que continuar.

    Pior do que o 7 a 1, é ter notícias de crianças feridas por balas perdidas. A vida vale mais que uma partida de futebol. “Pra frente Brasil”, o seu voto pode ser um gol de placa.

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